O fascinante caminho das virtudes

O fascinante caminho das virtudes

O desejo humano universal da verdadeira felicidade é orientado e reforçado por uma vida virtuosa. Afinal, a felicidade consiste na prática das virtudes, o que implica o bom uso da liberdade (São Tomás de Aquino). Na verdade, o objectivo da ética é “tornar as pessoas boas, isto é, virtuosas” (P. Kreeft). De seguida, falaremos sobretudo das virtudes morais.

Por que razão a virtude é muito importante na vida? Porque a virtude é uma espécie de excelência da alma, um traço básico de carácter e uma atitude moral positiva. Na ética e na teologia tradicionais, a virtude é definida como um bom hábito operativo: a qualidade de bondade distingue as virtudes (atitudes boas) dos vícios (atitudes más). A virtude é um hábito, ou seja, uma qualidade firme que dispõe as potências da pessoa para o bem. A virtude é um hábito operativo, isto é, inclina a pessoa a agir de uma forma agradável, pronta e fácil.

Enquanto a virtude melhora a visão, o vício escurece e, por fim, cega (G. Meilaender). As virtudes são princípios intrínsecos das boas acções. Estão incorporadas nas potências da pessoa (intelecto, vontade, apetite sensorial) que as possui. As virtudes são “sucessos na auto-realização” (C. van der Poel), qualidades que tornam as pessoas “seres humanos florescentes”. De facto, a virtude atrai e fascina (Spinoza).

Em cada virtude, a pessoa humana diz “sim a tudo o que é bom” (B. Haring). Toda a virtude é uma mediação do amor, que é o fundamento, a forma e o objectivo de todas as virtudes. As virtudes são vivificadas, aperfeiçoadas pelo amor. Assim, as virtudes inclinam-nos firmemente para um amor e uma comunhão mais profundos com Deus, com o próximo e com a criação.

Lao Tzu escreveu:

“Eu sou gentil com os gentis,

também sou bondoso para com os indelicados,

porque a virtude é bondosa.

Sou fiel para com os fiéis,

também sou fiel aos infiéis,

porque a virtude é fiel.”

Segundo a origem, as virtudes distinguem-se em virtudes adquiridas (pelo esforço pessoal perseverante, pela repetição de actos semelhantes) e virtudes infusas (dadas por Deus com a graça divina e os Dons do Espírito Santo). As virtudes humanas são “purificadas e elevadas pela graça divina” (cf. Catecismo da Igreja Católica nº 1810).

As virtudes humanas adquiridas ordenam a nossa vida pessoal, moral, social e espiritual. As virtudes adquiridas são as virtudes intelectuais e morais que aperfeiçoam a pessoa humana de tal modo que ela pode caminhar correctamente segundo a luz natural da razão. As virtudes intelectuais (entendimento, ciência, sabedoria e prudência) inclinam-nos fortemente para conhecer, compreender e julgar bem, mas não necessariamente para sermos boas pessoas. Por outro lado, as virtudes morais (as virtudes cardeais e muitas outras) tornam boas as acções humanas e também as pessoas que as praticam.

As virtudes morais rectificam toda a vida ética da pessoa que as possui, pondo ordem no intelecto (prudência), na vontade (justiça) e no apetite sensorial (coragem e temperança). Desde o tempo de Aristóteles, as virtudes morais adquiridas mais importantes são as virtudes cardeais da prudência (virtude intelectual e moral), da justiça, da coragem e da temperança. As virtudes estão ligadas entre si: não pode haver verdadeira prudência sem as outras três virtudes morais e, vice-versa: não há virtudes morais sem prudência. A prudência é o principal guia racional e ético da vida humana (cf. CIC n.os 1805-1811).

Uma palavra sobre os hábitos sobrenaturais infusos. Estes aperfeiçoam a pessoa humana de tal modo que ela pode caminhar correctamente segundo a luz da razão e, sobretudo, a luz da fé, e com a graça e o amor de Deus. Os hábitos infusos são a graça (hábito entitativo), as virtudes teologais (fé, esperança e caridade, hábitos operativos), as virtudes morais (as mesmas virtudes naturais adquiridas e elevadas com a graça à ordem sobrenatural) e os Sete Dons do Espírito Santo que aperfeiçoam as sete principais virtudes da vida cristã, ou seja, as três virtudes teologais e as quatro virtudes cardeais. O verdadeiro cristão, diz-nos Tomás, é aquele que pratica as sete virtudes.

Quais são as virtudes morais mais importantes na actualidade? A justiça e o amor continuam a ser as virtudes mais importantes. Num mundo de injustiça, há uma necessidade contínua de justiça, que nos leva a dar a cada pessoa o que lhe é devido, ou seja, fundamentalmente os seus direitos. A justiça, por sua vez, precisa da virtude do amor para se tornar uma justiça justa. Num mundo de egoísmo, de orgulho e de ódio, há uma grande necessidade de amor. Amar significa dar ao outro não só o que é dele, mas também o que é “nosso”. A maior virtude da ética humana e cristã é o amor ou a caridade: como “philia” (“estou feliz por existires”), como “agape” (“estou pronto a dar a minha vida por ti”). O amor exprime-se, em particular, na solidariedade com os pobres, os doentes, os abandonados, os infelizes e os desfavorecidos nas nossas famílias, comunidades e sociedades.

Para os cristãos, como diz Santo Ambrósio: “Falar de virtude é falar de Cristo”, que é o Virtuoso. E falar de Cristo é falar, sobretudo, da caridade como amor a Deus e ao próximo – como ágape –, que é a “forma” de todas as virtudes: “Sobre todas estas virtudes [misericórdia, bondade, humildade, mansidão, paciência, perdão], ponha-se a caridade, que liga as outras e as aperfeiçoa” (cf. Col., 3, 14).

A virtude pode ser ensinada? De certa forma, sim! Como? Ensinando verbalmente e na prática as qualidades que tornam uma pessoa “boa”. Na verdade, só o homem ou a mulher, quando justos, sabem o que é a justiça; só o bom samaritano sabe o que é o genuíno amor misericordioso ao próximo. Filósofos e teólogos têm repetido que a melhor maneira de definir a virtude é apontando para uma pessoa virtuosa, uma pessoa que é honesta, gentil, compassiva, humilde e orante – uma boa pessoa.

É difícil adquirir e praticar virtudes? Não é assim tão difícil, se a pessoa for guiada por outras pessoas importantes e cooperar com a graça de Deus, que está disponível para todos. Acrescento que, normalmente, Deus não dá esmolas, mas sementes que devem ser regadas e cultivadas por nós.

Amar as virtudes é fácil, mas praticá-las demora um pouco mais! Do ponto de vista ético, a pessoa verdadeiramente virtuosa não nasce, mas faz-se! Uma pessoa torna-se virtuosa praticando repetidamente bons actos, que formam bons hábitos, ou seja, virtudes que formam um bom carácter. Adquire-se a virtude da compaixão praticando repetidamente actos de compaixão.

De facto, ser ou tornar-se virtuoso não é assim tão difícil, como nos diz Samuel Smiles, num poema simples e belo:

“Semeia um pensamento e colherás um acto.

Semeia um acto e colherás um hábito.

Semeie um hábito e colherás um carácter.

Semeie um carácter e colherás um destino.”

Pe. Fausto Gomez, OP

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