É o leitor um dos nove?
Na semana passada falámos da Eucaristia como sendo um Sacrifício. A Eucaristia é o Sacrifício do Novo Testamento. Através deste Sacrifício Jesus disponibilizou-Se para nós como alimento espiritual. Assim sendo, a Eucaristia é um Sacrifício e um Banquete. Sem o Sacrifício não há Banquete. Nada se consegue sem esforço.
Aqueles que O ouviam devem ter pensado que Jesus teria enlouquecido, quando Ele insistia que eles deveriam comer a Sua carne e beber o Seu sangue (João 6:51-56). E São Paulo continua: «Não é a nossa participação no Sangue de Jesus, a taça da benção que nós abençoamos? E não é a nossa participação no Corpo de Cristo, o pão que nós partimos? (Coríntios 10:16)». E conclui: «E assim, quem quer que seja que coma deste Pão ou beba desta Taça do Senhor de forma indigna, será culpado de profanar o Corpo e o Sangue do Senhor. Deixem o Homem examinar-se a si próprio, e então comer o Pão e beber dessa Taça. Todos os que comam ou bebam sem compreenderem o que é o Corpo, comem e bebem por sua conta e risco (Coríntios 11:27-29)».
O que significa comer “de forma indigna”? O ponto nº 291 do “Compêndio do Catecismo da Igreja Católica” ensina-nos a receber a Comunhão de forma condigna; uma pessoa (1) deve ser baptizada na Igreja Católica, e (2) deve ter a consciência de que não está em situação de Pecado Mortal (a pessoa deverá estar em Estado de Graça).
Isto indica que se a pessoa está ciente de ter cometido um pecado grave, (ela/ele) deverá receber o Sacramento da Reconciliação (Confissão) antes de ir receber a Comunhão. São requisitos adicionais para se receber a Comunhão condignamente: (3) espírito de reconhecimento e oração, (4) respeitar o tempo de jejum prescrito pela Igreja, (sessenta minutos antes do momento da Comunhão), e (5) ter uma postura corporal apropriada (gestos e vestes) como sinal de respeito para com Cristo. (Como é que o leitor se veste para ir a uma recepção?).
No entanto existe uma grande diferença entre uma refeição normal e a Sagrada Comunhão. Quando comemos, digerimos os alimentos e assimilamo-los. Seja qual for o alimento – galinha frita, porco assado, batatas fritas, ou gelado – ele torna-se parte de nós. Mas quando recebemos Jesus de forma digna no acto da Comunhão é Ele que nos transforma. Ele faz-nos parte Dele próprio.
É por essa razão que os Santos encorajam as pessoas a receberem frequentemente a Comunhão. São João Maria Vianney costumava dizer aos seus paroquianos: «Venham à Comunhão… é facto de que não o merecem, mas precisam dela» (Bernard Nodet, “O Padre de Ars” [“Le curé d’Ars”], pág. 119).
São Josemaría escreveu: «Disseste-me: “Fui à Comunhão todos os dias durante tantos anos! Nesta altura, qualquer um já seria Santo, mas eu… eu continuo a ser sempre o mesmo!” “Filho” – respondi-te eu – “continua a ir à tua Comunhão diária e pensa apenas: O que aconteceria se eu não fosse?”» (“O Caminho”, ponto nº 534).
Uma última nota: Quando alguém nos convida para jantar, assim que acabamos de comer, não nos despedimos apressadamente e saímos imediatamente, não é?
Não seriam boas maneiras. No Banquete da Eucaristia também se deve ter boas maneiras. O que faz um pobre depois de uma pessoa abastada lhe ter dado mil patacas? Agradece encarecida e repetidamente. Não devíamos nós fazer o mesmo depois da Missa?
O cardeal D. Karol Wojtyla (mais tarde o Papa João Paulo II) assegurava-se sempre que tinha efectuado a sua Acção de Graças após a Missa. Uma vez celebrou a Missa campal na Polónia O tempo não estava bom. Assim, quando a Missa acabou todos se afastaram rapidamente. Um padre, que se deixara ficar mais um pouco, decidiu ver como estava a improvisada Sacristia. Quando entrou viu o cardeal D. Wojtyla ajoelhado, a rezar a sua oração de Acção de Graças
Quando Jesus curou os dez leprosos apenas um (um samaritano) voltou atrás para Lhe agradecer. Jesus ficou espantado: «Não curei dez? Onde estão os outros nove? (Lucas 17:17)» É o leitor um desses nove?
Pe. José Mario Mandía
Tradução: António R. Martins