Fórmula 1 – Época de 2015

Red Bull ganha asas… para fora da F1

“Circuit of the Americas” é o nome do traçado onde actualmente se disputa, entre outros eventos motorizados, o Grande Prémio dos Estados Unidos da América em Fórmula 1. “COTA” é a abreviatura oficial de mais um circuito desenhado pelo arquitecto alemão Hermann Tilke, que desenhou Sepang (Malásia), Xangai (China) e Yas Marina (Bahrain), para além de ter reformulado Hockenheim (Alemanha) e Monte Fuji (Japão). Desta vez os mentores foram o empresário americano Tavo Hellmund e o ex-campeão do mundo de motociclismo em 500cc, Kevin Schwantz. É o único – dos muitos circuitos nos Estados Unidos usados para disputar corridas de Fórmula 1 – construído exclusivamente com esse fim. É composto de rectas longas e muito rápidas, em que se atingem velocidades superiores a 300 quilómetros por hora, tendo como contrapartida algumas zonas sinuosas, de baixa velocidade, onde os carros circulam a menos de 70 quilómetros por hora. Os pilotos aprovaram-no na sua maioria; poucas foram as vozes discordantes.

Aparentemente trata-se de mais uma pista muito ao gosto dos carros da Mercedes. Vamos lá ver qual será a maleita com que Nico Rosberg se terá de haver para não incomodar o seu companheiro de equipa, Lewis Hamilton, na caminhada deste para o terceiro título de campeão do mundo de pilotos. Não é nova esta “maldição” que aflige os segundos pilotos de muitas equipas. Recentemente, enquanto Sebastian Vettel vencia Grandes Prémios, como quem ia ao supermercado comprar fruta, Mark Webber, seu companheiro de equipa na Red Bull, tinha estranhos problemas de motor, travões, aerodinâmica, etc. E se formos mais atrás, ainda na Fórmula 1, Sir Stirling Moss era um brilhante segundo violino do “maestro” Juan Manuel Fangio. Quem ganhava as corridas era o argentino, e o britânico consolava-se com os segundos lugares. Como dizia um comentador internacional no ano passado, «já vi este filme antes, por diversas vezes».

Para as equipas não deveria haver distinção entre os seus pilotos. Já houve uma época em que as marcas podiam colocar na pisca quantos carros quisessem. A Ferrari, numa só temporada, chegou a ter sete carros em pista (três oficiais e quatro privados), por forma a somar pontos para o Mundial de Pilotos. Todos se regiam por uma hierarquia, não escrita, mas nem por isso menos real.

Este é um facto a que se tem-se assistido, desde ainda antes do início da Fórmula 1, em 1950. Alguns pilotos, talvez por serem mais mediáticos, melhores em pista, ou por qualquer outra razão (talvez por conseguirem melhores patrocínios), sempre foram preferidos pelas equipas, como, por exemplo, Michael Schumacher versus Eddie Irvine e Rubens Barrichello. Episódios houve em que os segundos pilotos deixaram-se ultrapassar pelo companheiro de equipa, por ordens expressas da mesma. Poucos são (foram) os que se recusam a obedecer.

A Red Bull – este ano conseguiu piorar o péssimo desempenho de 2014, já depois de ser separado da Renault, de forma conflituosa – está á beira de abandonar a Fórmula 1, se não garantir um motor competitivo para 2016. Por alguma razão não tem sido possível à equipa da famosa bebida energética encontrar um construtor de motores de Fórmula 1 que esteja disposto a vender-lhe o seu produto. Ao que parece, mesmo com a ajuda declarada de Bernie Ecclestone, a Red Bull está cada vez mais próximo de não continuar no Grande Circo .

A ajuda do “Senhor Fórmula 1”, como Ecclestone também é conhecido, não é pois gratuita, ou desinteressada. É que se a categoria perder quatro carros de uma vez (dois da Red Bull mais dois da Toro Rosso) ficar-se-á com uma grelha de largada muito reduzida, de apenas 18 carros, mesmo contando com a entrada de uma nova equipa, a norte-americana “Haas F1 Team”. Se a Fórmula 1 já dá sinais de puro aborrecimento, aliado a um crescente desinteresse por parte dos fãs, tal situação será um desastre.

Muito tem acontecido com a Honda, cujos motores não andam, por mais alterações que lhes façam os técnicos japoneses – está-se perante a maior decepção de sempre no desporto automóvel moderno – mas Yasuhisa Arai, o director técnico da Honda para a Fórmula 1, em vez de baixar os braços e fugir como o patrão da Red Bull, sente que as críticas dos pilotos da McLaren, Fernando Alonso e Jenson Button, são mais um incentivo para fazer melhor e construir um motor à altura dos Mercedes e dos Ferrari.

Com o espectro da necessidade de novas equipas privadas para “encher” a grelha – o que levanta a possibilidade dos construtores de motores fornecerem versões não competitivas, como tem sido o caso das “parcerias” Mercedes-Williams/Force Índia, e Ferrari-Marussia – a FIA alterou o regulamento para o fornecimento de motores a clientes. A partir de 2016, se um construtor se comprometer a vender motores a uma outra equipa, estes terão de ser exactamente iguais (as mesmas especificações técnicas e o mesmo ano de fabrico) do que os motores que utilize nos seus próprios carros. Talvez o que venha a acontecer seja o não fornecimento de motores por parte dos construtores, com receio que os mesmo possam vir a ser mais eficazes quando instalados noutros chassis.

Manuel dos Santos

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