NÚMERO DE MIGRANTES EM SITUAÇÃO PRECÁRIA AUMENTOU

NÚMERO DE MIGRANTES EM SITUAÇÃO PRECÁRIA AUMENTOU

Cáritas distribui cheques a trabalhadores não-residentes

A Cáritas de Macau vai distribuir cheques de mil patacas por trabalhadores não-residentes que se encontrem em situação de grande precariedade. A informação foi avançada a’O CLARIMpelo secretário-geral da organização. Paul Pun diz que o número de trabalhadores migrantes que perderam o emprego por causa do surto epidémico do novo coronavírus aumentou de forma descomunal. Para muitos, a Cáritas tem sido a única tábua de salvação.

Desde o início do surto epidémico decorrente da disseminação do Covid-19, no final de Janeiro, a Cáritas já fez chegar apoio a mais de um milhar de trabalhadores não-residentes que viram a sua situação laboral complicar-se devido à pandemia.

Numa primeira fase, ainda em Fevereiro, a organização liderada em Macau por Paul Pun distribuiu cerca de um milhar de cabazes alimentares por trabalhadores migrantes que viram o seu vínculo laboral ser terminado. Desde Abril, a Cáritas tem vindo a responder a pedidos de diferente natureza, endereçados por pessoas que estão retidas no território e não têm capacidade financeira para garantir a sua subsistência. «Em Fevereiro e Março, distribuímos comida por mais de um milhar de pessoas e em Abril recebemos um maior número de casos de pessoas que não estavam apenas a pedir comida. Pediram também apoio financeiro para pagar esta ou aquela conta», disse o secretário-geral da Cáritas. «Já fomos contactados por mais de um milhar de pessoas nesta situação, que nos solicitaram apoio financeiro», quantificou o responsável.

Com a ajuda de dadores privados que assumiram o compromisso de fazer chegar ajuda a trabalhadores não-residentes, a Cáritas ofereceu uma pequena soma em dinheiro a alguns imigrantes filipinos que se encontram em situação de maior fragilidade. «Apesar de não termos grandes recursos, continuamos a promover algumas iniciativas. Para além de procurarmos ajuda de outras pessoas ou organizações da sociedade civil, também distribuímos alguns cheques a título individual. Espero que esse pequeno donativo os tenha ajudado a passar por esta situação de forma mais tranquila e a aliviar o fardo que carregam aos ombros», assumiu.

Agora, a organização quer elevar os mecanismos de ajuda a um novo patamar e propõe-se oferecer cheques de mil patacas a trabalhadores não-residentes que se encontrem em situação de extrema necessidade. A Cáritas tem sessenta mil patacas para distribuir por pessoas em situação de risco, explicou Paul Pun a’O CLARIM. «A Cáritas está a preparar-se para entregar cheques de mil patacas por entre as pessoas que têm mais necessidade. Não é uma quantia muito significativa, mas acho que para alguns deles pode fazer verdadeiramente a diferença. Não sei quantos cheques de mil patacas vamos ser capazes de distribuir, mas se não começarmos com os primeiros mil, nunca conseguiremos chegar às pessoas que verdadeiramente necessitam de ajuda», sustentou o dirigente. «Foi-me entregue um donativo de sessenta mil patacas para ser canalizado para os trabalhadores não-residentes. Sessenta mil patacas são só sessenta cheques, não é? Na verdade, ainda estamos a tentar garantir mais donativos. Se não pedirmos mais dinheiro, só ficamos por estas sessenta pessoas e não seremos capazes de ajudar cem ou duzentas», acrescentou.

O montante será disponibilizado pela Cáritas mediante prova de que os beneficiários estão, de facto, em situação de precariedade extrema. Trabalhadores não-residentes com problemas de saúde ou em estado avançado de gravidez poderão vir a receber tratamento preferencial por parte da organização. «Quando estas pessoas são encaminhadas para nós, temos de nos assegurar que conhecemos em detalhe as dificuldades com que se deparam, que sabemos quanto é que elas auferiam no passado, se estão doentes, se precisam de ir ao médico ou se necessitam de se submeter com urgência a procedimentos médicos. Se o número dos que precisam de ajuda não for muito elevado, podemos garantir ajuda em termos imediatos. Se for, teremos que proceder a uma selecção», admitiu. «Se alguém ganhava dez mil patacas por mês antes do surto epidémico, é óbvio que essa pessoas não será incluída no grupo prioritário que nos propomos ajudar e que, na prática, são as pessoas com menores rendimentos», referiu.

Se as medidas de contingência decretadas um pouco por todo o mundo e as restrições aos transportes aéreos não forem levantadas, Paul Pun espera que o número de trabalhadores migrantes em situação difícil continue a aumentar, pelo que a necessidade de mobilizar a sociedade civil do território é mais premente do que nunca: «Prevejo que cada vez mais pessoas venham a precisar de ajuda para comprar comida, para pagar acomodação e para dar resposta às suas necessidades básicas».

«Não sabem quando poderão voltar aos seus países de origem, mas têm de continuar a dar resposta a este tipo de coisas. Precisam de se alimentar, de pagar por um local onde possam ficar. Não podemos estar à espera de que as coisas se resolvam para angariar fundos. Temos de fazer este trabalho agora. A Cáritas tinha algum dinheiro de parte e a ideia não era propriamente a de o utilizar com estas pessoas, mas sim em situações de emergência e desastre. Mas a verdade é que estamos perante um desastre e decidimos utilizar o dinheiro para ajudar algumas destas pessoas. Temos de utilizar os fundos que temos para ajudar quem precisa. Não devemos guardar o dinheiro à espera que outro desastre nos atinja», concluiu Paul Pun.

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Empresa do sector do jogo oferece material de protecção

A Asia Pioneer Entertainment Company, um dos maiores fornecedores de equipamento de jogo electrónico para os casinos de Macau, ofereceu esta quarta-feira à Cáritas uma remessa de equipamentos de protecção, que deverão ser canalizados para alguns dos lares de idosos do território e para pessoas em situação de maior vulnerabilidade social.

O material foi entregue pela empresa à organização liderada por Paul Pun numa cerimónia que decorreu nas instalações da Cáritas, no Largo de Santo Agostinho. O material, que abrange máscaras, fatos de protecção e produtos desinfectantes, foi adquirido junto de distribuidores locais, de forma a ajudar as empresas locais a suportar o impacto da actual crise.

Apesar das dificuldades, alguns dos fornecedores a quem a Asia Pioneer Entertainment Company recorreu decidiriam associar-se à iniciativa, tendo oferecido também álcool para desinfecção, em gel e “spray”.

Marco Carvalho

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