NIPO-BRASILEIROS FORAM A TÓQUIO VER O SUMO PONTÍFICE

NIPO-BRASILEIROS FORAM A TÓQUIO VER O SUMO PONTÍFICE

Francisco “rezou” em Português com fiéis de todo o mundo

Para o pequeno Anthony Hasegawa e para Sílvia e Edson Furutani, o ponto alto da Eucaristia que o Papa Francisco celebrou na segunda-feira, num dos mais conhecidos recintos desportivos de Tóquio, não podia ter sido outro. Numa celebração em que se rezou em Japonês, Inglês, Coreano e Vietnamita, e se cantou em Espanhol e em Tagalog, o Português também esteve em destaque, com a Primeira Leitura – retirada do Livro do Génesis – a ser proferida no idioma de Camões e de Machado de Assis.

O momento arrancou aplausos aos muitos membros da comunidade nipo-brasileira que assistiram à Missa presidida pelo Sumo Pontífice no Tokyo Dome. Os descendentes da comunidade “nikkei” – os japoneses que se estabeleceram no Brasil durante todo o século XX – são um dos pilares da Igreja Católica no Japão, a par dos imigrantes filipinos e vietnamitas radicados no País.

Edson e Sílvia Furutani fizeram, na companhia dos dois filhos, a viagem de duas horas que separa a região de Nagano da capital japonesa para poderem cumprir o desígnio de verem Francisco em pessoa. O Papa fez, um dia antes, em Nagasaki e Hiroshima, um apelo à paz e ao desarmamento, mensagem que é grata aos católicos do Japão e aos japoneses em geral, sustenta Edson Furutani, em declarações a’O CLARIM: «A visita é super-importante porque, primeiro, o Papa fala sempre de paz. E depois, porque contribui para que o Catolicismo tenha uma maior visibilidade no Japão. Em Tóquio este reconhecimento não é muito significativo, mas em Nagasaki e em Hiroshima o Catolicismo ainda é bastante significativo, bastante fervente». Em bom Português explica que «em quase todas as cidades do sul da província de Nagano há uma igreja católica. Uma boa parte delas está nas mãos dos franciscanos».

Para Sílvia Furutani, poder ver o Santo Padre e ouvir o que o ele tem a dizer aos católicos japoneses é nada mais, nada menos, que uma bênção. O Catolicismo pode ser uma fé minoritária no Japão, mas em casa dos Furutani a Palavra de Deus está bem viva. «É uma oportunidade para divulgar o Catolicismo e aproximar mais as pessoas. A ideia é mesmo a paz. Estive no Brasil há um mês e participei numa missa importante, com o padre Marcelo, mas nada se compara com a presença do Papa. É uma bênção», refere. «Em casa somos católicos, baptizados, frequentamos a Missa aos sábados e aos Domingos. Se não vamos ao sábado, vamos ao Domingo e participamos na missa, ora em Português, ora em Japonês», remata Sílvia Furutani.

Mais do que um ritual semanal, a participação na Eucaristia ao fim-de-semana é para Anthony Hasegawa uma marca de identidade. O menino, de onze anos, deslocou-se a Tóquio com os pais e uma prima para assistir à Eucaristia no Tokyo Dome. Natural de Shiojiri, cidade do centro da província de Nagano situada a 215 quilómetros de Tóquio, Anthony está convicto que o apelo à paz que Francisco fez em Nagasaki pode ajudar a mudar o mundo. «Frequento a Igreja e sempre quis ver o Papa em pessoa; escutar o que ele tem para dizer», disse, acrescentando: «Esta visita é bem importante porque vai ajudar a trazer mais pessoas ao Catolicismo e pode dar um contributo para melhorar o mundo».

CONTRA O «CÍRCULO VICIOSO DA COMPETIÇÃO»

Perante mais de cinquenta mil pessoas, o Papa desafiou os católicos japoneses a quebrarem «o círculo vicioso da competição», da ansiedade e do consumismo, e a trabalharem no sentido de contribuírem para a construção de uma sociedade mais humana e mais inclusiva. Numa longa homilia em que contestou a ideia de que «tudo pode ser produzido, conquistado e controlado», Francisco apontou o dedo à obsessão das economias desenvolvidas pelo lucro e pela produtividade. «A casa, a escola e a comunidade, que devem ser lugares onde cada um apoia e ajuda os outros, estão a deteriorar-se cada vez mais pela excessiva competição na busca do lucro e da eficiência», criticou o Santo Padre, sublinhando que «numa sociedade como o Japão com uma economia altamente desenvolvida, não são poucas as pessoas socialmente isoladas que permanecem à margem, incapazes de entender o significado da vida e da sua própria existência».

Num país em que os católicos representam pouco mais de 0,5 por cento da população, o Papa destacou ainda a importância da proposta de vida do Evangelho e citou a sua encíclica “Laudato Si” para defender que o cuidado com a vida e com a natureza «é inseparável da fraternidade, da justiça e da fidelidade aos outros»: «Como comunidade cristã somos convidados a proteger toda a vida a testemunhar, com sabedoria e coragem, um estilo marcado pela gratuitidade e pela compaixão, pela generosidade e a escuta simples».

Papa quer Universidades mais inclusivas

O Papa Francisco encerrou a visita apostólica ao Japão com uma deslocação à Universidade Sophia de Tóquio, fundada e gerida pela Companhia de Jesus. Perante um auditório repleto de jovens, o Papa defendeu que as Universidades devem ser «mais inclusivas e gerar promoção social», e reiterou a mensagem que transmitiu aos católicos japoneses na Eucaristia que celebrou no Tokyo Dome na segunda-feira. O Sumo Pontífice considera que as Universidades, enquanto centros de formação de futuros líderes, devem ajudar a criar um modelo de desenvolvimento em que a obsessão pelo lucro e pela produtividade não sejam a principal meta. «Apesar da eficiência e ordem que caracterizam a sociedade japonesa, percebe-se que algo mais é desejado e procurado, o grande desejo de criar uma sociedade cada vez mais humana, mais compassiva e misericordiosa», salientou ainda o Santo Padre, numa breve análise à visita que fez ao Japão.

Já depois do adeus do Papa Francisco a Tóquio, o chanceler da Universidade Sophia garantiu que a instituição de Ensino Superior vai trabalhar para responder às recomendações do Sumo Pontífice. Tsutomu Sakuma adiantou, na resposta a uma questão colocado pel’O CLARIM, que a questão da inclusão já é vista pela Universidade como uma prioridade. «Em termos de cooperação, os nossos programas incluem não só a Universidade, mas também quatro escolas secundárias. Vemos como muito importantes a criação de uma rede de instituições de ensino jesuítas. A Universidade Sophia e outras Universidades jesuítas de todo o mundo estão a trabalhar numa projecto que visa a melhoria dos Direitos Humanos. Por exemplo, já promovemos um programa para refugiados, que em larga medida estão excluídos do acesso ao Ensino Superior», exemplificou o sacerdote jesuíta.

Marco Carvalho

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