MINISTÉRIO DO CATEQUISTA

MINISTÉRIO DO CATEQUISTA

A arte de transmitir a Palavra de Deus

É o primeiro ministério criado especificamente para leigos, e aberto às mulheres. Depois de, no início do ano passado, o Papa Francisco ter aberto a possibilidade de mulheres poderem ser instituídas como leitoras e acólitas, continua a abertura progressiva da Igreja aos leigos, homens e mulheres.

“Ministério antigo é o de Catequista na Igreja”. É assim que o Papa Francisco começa o “Motu proprio” que cria o ministério do catequista, com citações de Paulo e Lucas, que já nos seus escritos referiam pessoas que se encarregavam de ensinar a fé aos seus irmãos.

Estes homens e mulheres, que dedicam a sua vida “à edificação da Igreja”, escreve o Papa, vão ter agora um reconhecimento próprio, através da instituição desse ministério laical, que se junta aos de leitor e acólito que, tendo sido criados para instituir os que se preparavam para a ordenação em vista ao Sacerdócio, passaram, desde o Concílio Vaticano II, a ser abertos a todos os homens leigos e, desde o ano passado, a todas as mulheres também. «É um antigo ministério que se institui na Igreja, que tem como sujeitos fiéis leigos, cuja dedicação, serviço e ministério merecem um reconhecimento expresso da Igreja, uma oficialização de que não se trata apenas de um serviço prestado, mas de uma autêntica vocação ministerial», explica o cónego João Peixoto, que está a ajudar na elaboração dos documentos para Portugal, à FAMÍLIA CRISTÃ.

Este é o primeiro ministério criado especificamente para leigos, homens e mulheres. Hoje, é também possível aos leigos acederem ao ministério de leitor e de acólito, mas estes foram criados para aqueles que se preparavam para o Sacerdócio e só depois do Concílio Vaticano II o Papa Paulo VI abriu a possibilidade de que os leigos homens pudessem aceder, e só no ano passado o Papa Francisco alargou o ministério para as mulheres.

No entanto, a realidade é que poucos têm sido os leigos que têm sido instituídos sequer leitores e acólitos, e o Papa Francisco pretende mudar isso com este ministério, que nem sequer está disponível para os religiosos, com algumas excepções. Neste sentido, no passado dia 23 de Janeiro, Domingo da Palavra de Deus, o Papa instituiu os primeiros catequistas no ministério, juntamente com leitores, vindos um pouco de todo o mundo, sinal de que este ministério é para colocar em prática no imediato.

Augusta Delgado é catequista na paróquia da Sobreda, diocese de Setúbal, há 38 anos. Recebeu a notícia com agrado, pois permite mostrar «efectivamente a importância do leigo neste ministério». «Acho que é uma adaptação e uma leitura dos sinais dos tempos», afirma Augusta Delgado, para quem estes cargos não são «postos de trabalho», mas missões que se devem acolher com «humildade». Fala também da importância de ser aberto às mulheres, «até porque um número muito elevado de catequistas são mulheres, e isto traz uma abertura muito grande a isso».

UMA VOCAÇÃO LAICAL

O ministério do catequista é exclusivo para leigos, conforme explica uma carta da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos de 3 de Dezembro, que indica que este ministério não deve ser atribuído a religiosos, excepto se assumirem a coordenação da catequese paroquial, ou sequer a professores de Educação Moral e Religiosa Católica, excepto se forem também catequistas nas suas comunidades.

Não é, no entanto, um ministério para todos os catequistas. «Para a generalidade daqueles que se dedicam ao exercício da catequese nas nossas comunidades é dito que todos os anos deveria haver uma celebração, como uma espécie de investidura, para que recebam esse mandato, mas apenas isso», explica o cónego João Peixoto, que adianta que serão escolhidos para receber o ministério do catequista «alguns desses, pela duração do seu compromisso, pela qualidade da sua preparação, porque claramente se vai discernindo que a catequese não é apenas um serviço que se presta à Igreja, mas é uma autêntica vocação». «Alguns desses é que serão chamados para o ministério instituído, que, pela sua estabilidade e responsabilidade, tem um certo carácter vocacional», refere.

Isto traz, desde logo, uma maior responsabilidade sobre aqueles que serão escolhidos. «Para aquele que é instituído, de acordo com o discernimento do bispo e todos os critérios, é alguma coisa que tem de ser vista como uma missão permanente, e isto claro que traz outro peso. Um catequista que vem dar catequese, mas no ano seguinte já não é possível… aqui é mesmo uma disponibilidade que vem acrescer responsabilidade, porque traz a noção de continuidade», considera Augusta Delgado.

Uma continuidade que irá «enriquecer» a formação do catequista e a qualidade do seu serviço. «Acho que esta missão de ser catequista exige estudo, aprofundamento, oração, e isto pode enriquecer a formação dos catequistas a nível paroquial, porque é outra exigência, porque, se é um ministério instituído, há que ter uma formação sólida sobre o que é ser catequista e como o ser», sustenta.

E como será feita a escolha destes catequistas? A escolha e nomeação será do bispo, mas, como explica o cónego João Peixoto, «um bispo não pode conhecer a realidade de toda a sua diocese, e terá de contar com colaboradores nesse discernimento, depois de clarificados os critérios».

Um processo que deverá ser feito de forma sinodal. «Os ministros à frente das comunidades farão as sugestões para quem possa iniciar o caminho de formação, e nessa formação mais próxima o bispo começará a conhecer e tomará a sua decisão, mas sempre de uma forma sinodal, como agora se diz, com a participação dos outros a quem diz respeito: presbíteros, diáconos e leigos».

O itinerário e a formação necessária vão depender de cada diocese, até porque os recursos já existentes poderão ser diferentes, explica-nos o cónego. As regras deverão ser definidas na próxima Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, que deverá ter lugar em Abril.

Questionada sobre se gostaria de ser instituída catequista, Augusta Delgado sorri. «Se eu pensar que estou a dar catequese desde os 16 anos, em 1984, e acabei por nunca parar… É um discernimento em que estou muito aberta ao que Deus me vai dando, sabendo que, se muito me dá, muito me irá pedir. Mas é um caminhar juntos, na humildade e no saber escutar, e logo veremos [risos]», conclui, antes de terminarmos a conversa e se dirigir à sala para iniciar a catequese com o seu grupo de crianças.

CAIXA

Dois perfis de catequistas

O documento da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos define dois tipos de perfil de catequistas, que deverão ser escolhidos por cada país, conforme a sua realidade. «Há dois perfis principais deste ministério: o dos países da antiga evangelização, em que o catequista é alguém que se dedica essencialmente à actividade catequética da Igreja, da comunidade cristã, à evangelização, catequese, acompanhamento de crianças, adolescentes e adultos na iniciação cristã. Este é o perfil que faz sentido em Portugal. Depois, há outro perfil de catequistas, em países de missionação mais recente, em que, devido à escassez de clero, os catequistas são verdadeiros animadores das comunidades. Não são especialistas do sector catequético, são animadores, coordenadores do apostolado nas suas várias vertentes, na acção social da Igreja, têm uma relação com o missionário, que muitas vezes tem uma presença intermitente, itinerante nas comunidades, e são autênticos líderes das comunidades cristãs. Isto verifica-se em África, na América Latina, etc.», explica o cónego João Peixoto, que acrescenta que «cada conferência episcopal deve definir, para o seu território, qual é o perfil que se aplica», sendo que, revela, «a CEP está a preparar um documento e do que conheço optarão pelo primeiro perfil, de especialistas na actividade catequética das paróquias».

RICARDO PERNA

In Família Cristã

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