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Chegados à época das férias de Verão, os alunos provenientes de Macau, mais concretamente do Instituto Politécnico de Macau, que frequentam, obrigatoriamente, um ano de estudos de língua portuguesa em Portugal, regressam a casa. O CLARIM aproveitou o final do ano lectivo para falar com Ma Peiyu. Ficámos a saber um pouco mais da sua experiência em Portugal e como tal poderá ser importante para o seu futuro.
Ma Peiyu, nascida a 8 de Maio de 1997 em Jiangmen, na província de Cantão, chegou a Portugal em Setembro do ano passado para estudar um ano no Instituto Politécnico de Leiria. Peiyu, que em Português gosta de ser conhecida por Vitória, esteve o ano inteiro em Portugal sem regressar de férias à terra natal, pelo que as saudades são mais do que muitas.
Para uma jovem de 20 anos, que nunca tinha saído da China, uma viagem de um ano para o outro lado do mundo foi um desafio enorme. No entanto, as vantagens de aprender Português no país onde a língua se fala originalmente é o que qualquer estudante aspira, pelo que o sacrifício de deixar para trás a família, os amigos e ambientes conhecidos tinha de ser feito.
Vitória contou a’O CLARIM que antes de chegar ao Instituto Politécnico de Leiria frequentava o curso de Tradução e Interpretação Português/Chinês – Chinês/Português no Instituto Politécnico de Macau (IPM). Antes disso, o seu percurso académico passou pela escola oficial na China continental, mais propriamente na província de Cantão.
A opção pela língua portuguesa deu-se por ser uma mais valia para um emprego futuro. A importância crescente que o idioma luso tem na China cada vez mais faz com que muitos jovens apostem na sua aprendizagem. «O facto de Macau ter o Português como uma das línguas oficiais, aliado à vontade do Governo de Pequim em apostar em Macau como plataforma para o mercado lusófono, e em Portugal como uma das portas de entrada na União Europeia, dá uma vantagem acrescida a quem aprende Português», explicou Peiyu.
Para além do lado mais prático e pragmático da necessidade de uma segurança profissional para o futuro, Vitória confessa que se sente «apaixonada pela sonoridade e singularidade da língua». Características que a diferenciam, completamente, da sua língua materna.
O segundo ano lectivo do curso iniciado no IPM é o que permite estar em Portugal. Ainda com mais alguns anos de estudo pela frente, Vitória sublinha que se mantém «focada no objectivo de um dia vir a ser professora de Português para alunos chineses». A paixão pelo idioma e o gosto pelo ensino podem ser a chave para a realização desse sonho. Paralelamente, «gostaria também de ensinar Chinês a alunos portugueses e assim completar o ciclo da língua». Por um lado, ajudava a divulgar a língua e a cultura lusa na China e, por outro, difundia a língua e a cultura de Confúcio junto dos portugueses.
De Portugal leva memórias que – sem dúvida – ajudaram a moldar a sua personalidade. Durante o ano que aqui passou aproveitou para participar num sem número de iniciativas, com o objectivo de se conseguir embrenhar na cultura portuguesa e praticar a língua, fazer novos amigos e criar laços que irão prevalecer no futuro.
Contudo, Vitória levanta algumas reticências quanto às actividades fora do âmbito escolar. Se na escola o ambiente era muito influenciado pelos contactos com ocidentais, professores, funcionários, outros alunos, etc., já nos tempos livres o grupo de amigos, devido ao facto de viverem todos juntos, era na quase totalidade composto por chineses. Tal condiciona um pouco a aprendizagem da língua porque, fora da escola, tendem a não falar Português.
Peiyu regressa agora à China mas deixa o coração em Portugal. Parte, ainda assim, com o desejo de regressar. Quem sabe, um dia, se conseguir encontrar emprego que a traga de volta a Portugal.
JOÃO SANTOS GOMES