Ataque aos cristãos deslocou-se do Médio Oriente para África
Relatório publicado pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre indica que a situação se agravou em metade dos países analisados, com destaque para a situação no Burquina Faso e na Nicarágua.
A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) divulgou o Relatório sobre a Liberdade Religiosa no mundo que mostra um agravamento em metade dos países analisados, nomeadamente no Burquina Faso e na Nicarágua, deslocando-se do Médio Oriente para África.
“O foco estratégico da agressão militante islamita transnacional contra os Cristãos e outros alvos importantes deslocou-se agora decisivamente do Médio Oriente para África”, refere o documento que foi entretanto apresentado em Portugal, e a que a agência ECCLESIA teve acesso.
De acordo com “Perseguidos e Esquecidos? Relatório sobre os Cristãos oprimidos por causa da sua fé [2022-24]”, embora o militantismo jihadista tenha persistido em zonas do Médio Oriente, como Idlib, na Síria, “as autoridades estatais da região fizeram progressos significativos na repressão dos grupos islamitas violentos”.
“Em contrapartida, em regiões do Burquina Faso, da Nigéria, de Moçambique e noutros locais, os Cristãos foram aterrorizados pela violência extremista”, acrescenta o texto.
A edição de 2024 do Relatório sobre a Liberdade Religiosa avalia “a situação em dezoito países onde as violações da liberdade religiosa contra os Cristãos são particularmente preocupantes”, analisando o período entre 1 de Agosto de 2022 e 30 de Junho de 2024.
“‘Perseguidos e Esquecidos? [2022-24]’ concluiu que, em mais de sessenta por cento dos países inquiridos, as violações dos Direitos Humanos contra os Cristãos tinham aumentado desde o último relatório, que abrangia o período 2020-22”, indica o documento.
“O relatório analisa os desafios que os Cristãos enfrentam em dezoito países, onde sofrem uma série de problemas, que podem incluir assédio, detenção, deslocação forçada e assassínio. Estes não são necessariamente os dezoito lugares mais perigosos para se viver como cristão, mas sim os países em que a situação dos fiéis tem sido de particular interesse durante o período em análise, que abrange de Agosto de 2022 a Junho de 2024, inclusive”.
A Fundação AIS destaca o agravamento no Burquina Faso e em Moçambique, onde “as insurgências islamitas em curso levaram à morte de milhares de civis e à deslocação de milhões de pessoas”.
“Os extremistas têm visado especificamente as comunidades cristãs em ambos os países, separando-as dos seus vizinhos muçulmanos e forçando-as a abandonar as suas aldeias em várias ocasiões. No Burquina Faso, os territórios controlados pelos grupos jihadistas expandiram-se e abrangem actualmente cerca de quarenta por cento do País, estando as mulheres cristãs especialmente expostas ao risco de violência sexual por parte dos terroristas”, informa o relatório.
A Nicarágua é incluída pela primeira vez nos indicadores de “Perseguidos e Esquecidos?”, “devido a uma série de medidas de opressão extrema contra os Cristãos, nomeadamente a detenção e expulsão em massa do clero, incluindo todos os membros da Nunciatura Apostólica” e o presidente da Conferência Episcopal do País.
Numa análise aos indicadores, a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre lembra que, em 2024, “quase cinquenta por cento do mundo terá participado em eleições ao longo do ano”, considerando que é “pouco provável que os Governos recentemente (re)eleitos tomem medidas para pôr termo à perseguição”.
Para a Fundação AIS, “ignorar a situação dos Cristãos é ignorar os sinais de alarme”, uma vez que nos locais onde são perseguidos “o direito à liberdade religiosa para todos é posto em causa” e, para além de uma questão de Direitos Humanos, é uma questão de solidariedade entre os cristãos.
Em Portugal, o relatório foi apresentado por Jorge Bacelar Gouveia e contou com o testemunho do padre Jacques Arzouma Sawadogo, que do Burquina Faso foi a Lisboa para contar de “viva voz” como é a vida dos cristãos no seu país, precisamente um dos em que mais se tem acentuado a perseguição religiosa. Depois de Lisboa, a Fundação AIS apresentou o documento em Santarém, Aveiro e Évora. |
In ECCLESIA