Como sabermos se a estamos a interpretar correctamente
Falámos anteriormente da necessidade da oração mental e vimos que não é apenas um momento para falar com Deus, mas também para que Deus fale connosco. Todos os cristãos acreditam que Deus fala connosco por intermédio da Bíblia. São João Crisóstomo chamava a esse facto “A Carta de Deus aos Homens”. É por isso que, para além do tempo para oração, precisamos ainda de ter alguns minutos (um ou dois minutos são suficientes) para ler esta “carta”. Aqueles que já têm o hábito de ler diariamente as Escrituras descobrirão que há sempre algo novo – uma mensagem para cada dia.
Mas, então, como devemos ler a Bíblia? Obviamente que não podemos ler a Bíblia da mesma maneira que lemos um romance. A palavra de Deus necessita de muito mais atenção. Além disso nem todas as passagens são fáceis de apreender. Que tipo de critérios devemos ter em mente para que possamos entender realmente o que Deus deseja dizer, e não apenas aquilo que nós queremos ver?
O Catecismo da Igreja Católica (n.os 112-114) fornece-nos três ideias que devemos ter em atenção:
1 – Prestar grande atenção «ao conteúdo e à unidade de toda as Escrituras».
2 – Ler as Escrituras na «tradição viva de toda a Igreja».
3 – Estar atento à «analogia da Fé». Por “analogia da Fé” entendemos a coesão das verdades da Fé entre si e no projecto total da Revelação.
UNIDADE DAS ESCRITURAS: Qual o significado do conteúdo total e da unidade das Escrituras? Significa que as escrituras não se contradizem. Assim, se nós encontrarmos aparentes contradições, teremos que descobrir o que Deus está, na realidade, a dizer-nos. Por exemplo: Jesus diz em Lucas 14:26, «Se alguém deseja seguir-me e ama a seu pai, sua mãe, sua esposa, seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até mesmo a sua própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo». O que contrasta com o que está escrito no Êxodo 20:12, que nos diz: «Honra o teu pai e a tua mãe e os teus dias serão mais longos na terra que o Senhor, vosso Deus, vos concede». E isto tem eco no que está escrito em Éfesos 6:1-4: «Os filhos obedecem a seus pais no Senhor, porque é assim que é certo. “Honra o teu pai e mãe” (este é o primeiro mandamento, com a promessa) “de que tudo estará bem convosco e vós podereis viver mais tempo na Terra”. Os pais não devem provocar a ira dos filhos…». Jesus quer que nada se atravesse no caminho do nosso amor para com Ele.
A SAGRADA TRADIÇÃO. «A Tradição viva de toda a Igreja» também vem em nosso auxílio. De facto, foi a Sagrada Tradição que nos ensinou quais os Evangelhos que eram verdadeiros e os que eram falsos.
Autores como Tertuliano de Cartago (c.150-220), São Ireneu de Lyons (c. 202/203) e Origen (c.185-254/255), entre outros, dizem-nos que os Evangelhos escritos por São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João contam-nos a história real de Jesus Cristo. Os outros “evangelhos” não se podem considerar fiáveis. Os Pais da Igreja ensinam-nos como devemos interpretar as palavras das Escrituras. Os Estudos da Bíblia não são suficientes. Para isso precisamos de estudar os ensinamentos dos Pais da Igreja.
ENSINAMENTOS DA IGREJA (MAGISTÉRIO). E, finalmente, temos de confrontar o que lemos com o que a Igreja sempre acreditou e ensinou, a analogia da Fé. Temos que ter em conta de que apesar de tudo o Novo Testamento nasceu com a Igreja Católica, e que os Pais da Igreja eram simples pastores da Igreja. A Igreja é um repositório fiel e interprete autoritário da Boa Nova da Salvação.
Pe. José Mario Mandía