HISTORIADOR FALOU SOBRE A IMPORTÂNCIA DA COMPANHIA DE JESUS NA GLOBALIZAÇÃO DOS BENS CHINESES
Missionários, pedagogos, cientistas, educadores, matemáticos e também mercadores. O ainda pouco conhecido papel dos padres da Companhia de Jesus como agentes de veniaga deu o mote à palestra “Os Jesuítas e a Globalização de Bens – Rotas Comerciais de Macau para a Europa, da Ásia para a América Latina”, uma iniciativa promovida pelo Instituto Ricci de Macau, na qual o historiador argentino Omar Svriz Wucherer defendeu que os jesuítas foram agentes activos na circulação e disseminação de produtos chineses em paragens tão remotas como o Paraguai ou outros rincões do império colonial espanhol na América Latina.
Investigador afiliado à Universidade Pablo de Olavide, em Sevilha, Svriz Wucherer disse na quarta-feira, na Universidade de São José, que os membros da Companhia de Jesus não se limitaram a promover o trânsito de mercadorias entre regiões periféricas dos impérios ibéricos, mas também encorajaram o seu consumo por parte das populações locais da América Latina. «Tenho tentado dar resposta à grande questão de como é que os bens chineses se disseminaram por diferentes territórios, nomeadamente pela Europa e pela América Latina», referiu o académico, tendo acrescentado: «Conduzi uma investigação em que procurei perceber de que forma é que os membros da Companhia de Jesus tiraram proveito da comercialização de bens tão diferentes como a seda, o almíscar ou a porcelana, e como estes produtos viajaram, através das actividades dos jesuítas, de Macau para os outros territórios onde a Companhia de Jesus marcava presença».
A descoberta no inventário das missões jesuíticas do Paraguai de referências a porcelanas, sedas e almíscar, bem como a outros produtos que ali teriam sido directamente introduzidas a partir da China, despertaram a curiosidade deste historiador e serviram como ponto de partida para um extenso e minucioso trabalho de investigação.
Omar Svriz Wucherer argumenta que a comercialização de produtos chineses e, em sentido contrário, a introdução de produtos de luxo europeus, como os relógios, junto da corte imperial em Pequim, ajudavam a Companhia de Jesus a garantir financiamento para as missões que desenvolviam nas regiões periféricas de ambos os impérios ibéricos: «Os jesuítas confrontavam-se com a necessidade de auto-financiarem as suas missões, pelo que o comércio e as transacções de bens são aspectos muito importantes da forma como se financiavam».
Em declarações a’O CLARIM, Omar Svriz Wucherer sublinhou que «a quantidade de seda, de porcelana e de outros bens chineses que encontramos no Paraguai é muito diminuta, é muito limitada, mas, por outro lado, este tipo de bens são bastante caros».
Investigador visitante do Instituto Ricci de Macau, o professor Omar dedicou os últimos dois meses à identificação de fontes no Arquivo Histórico de Macau. No seu entender, para que a história da Companhia de Jesus possa ser entendida na sua plenitude, as actividades económicas e políticas dos jesuítas não podem ser subalternizadas.
Marco Carvalho