Da cristã Praga ao Cavalo de Tróia

JÁ AGORA!

Da cristã Praga ao Cavalo de Tróia

Em 2000 (fez em Abril vinte anos) estive em Praga, na República Checa, com um grande amigo.

Não foram precisas 24 horas para percepcionar que dali a poucos anos o país de Václav Havel rapidamente viria a dar cartas, pelo menos no quadro do Leste Europeu, agora que se encontrava livre das amarras da Cortina de Ferro.

Nunca mais me esqueço da conversa que tive com o meu companheiro de viagem:

«– João, estes tipos, mais uns anos, e estão a comer-nos as papas na cabeça!», disse.

«– De facto, também estou admirado. Não pensei que isto fosse assim…», respondeu de pronto.

A verdade é que ao andar nas ruas de Praga, rodeado de um património histórico bem cuidado e observando com agrado a mole humana (culta e educada), dificilmente poderia perspectivar outro cenário para o berço da Skoda que não o do sucesso.

Com alguns checos tive a oportunidade de falar e de muitos deles ouvi o seguinte desejo: “– Queremos ser tão bons como os alemães”. Isto é, para eles, era o tudo ou nada.

Volvidas duas décadas, estava certo! Os últimos indicadores do Eurostat não deixam margem para dúvidas: Se antes de integrarem a União Europeia, a 1 de Maio de 2004, os países de Leste já apresentavam um certa robustez económica (em 2000 o PIB da República Checa era cerca de 50% do PIB de Portugal), na actualidade quase igualam o PIB de economias presentes há muitos mais anos no chamado Espaço Europeu, e não são raros os casos em que o PIB per capita os coloca na primeira metade da lista dos 27 Estados-membros.

Ora, o fenómeno que acabo de descrever está intrinsecamente ligado ao facto dos povos do Leste Europeu nunca mais terem eleito partidos de esquerda para os respectivos Governos. Aliás, nos últimos anos, foram muitos os países que abandonaram a “meiguice” do centro-direita, voltando-se para a direita assumidamente conservadora.

As razões por detrás de tal movimento são fáceis de identificar e estão relacionadas com a não aceitação incondicional dos ditames de Bruxelas – a começar pelas disposições do Acordo de Schengen –, o receio de perda de soberania e identidade cultural, e a escravização das Economias por parte dos Estados mais ricos. Daí a explicação para ainda hoje a indústria pesada contribuir em grande medida para a riqueza global dos antigos países do Pacto de Varsóvia, as taxas de desemprego não sofrerem grandes oscilações e os mercados se terem tornado extremamente apetecíveis para o investimento estrangeiro.

Ao contrário do que acontece na Europa Ocidental, à medida que o mundo se vai globalizando, os países do Leste Europeu tendem a blindar-se por forma a preservar os seus valores culturais, rejeitando o politicamente correcto e o pensamento libertário.

Para a maioria dos analistas e comentadores, figuras como o Primeiro-Ministro da Hungria, Viktor Orbán, são a face de um novo extremismo de direita, que urge combater. A verdade, porém, é que a História prova que a direita somente se radicaliza quando a esquerda se coliga a forças “anti-tudo”, financiadas por poderes individuais e colectivos transnacionais, que por meio da instalação do caos – tal qual um Cavalo de Tróia – procuram subjugar Governos soberanos aos seus interesses.

N.d.R.:Artigo publicado em primeira mão na rede social Facebook, no dia 19 de Agosto de 2020.

José Miguel Encarnação

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