INSTITUTO RICCI DE MACAU ORGANIZA FÓRUM VIRTUAL SOBRE AMBIENTE

INSTITUTO RICCI DE MACAU ORGANIZA FÓRUM VIRTUAL SOBRE AMBIENTE

De Francisco à COP26, pela sobrevivência da Humanidade

O Instituto Ricci de Macau vai promover no dia 10 de Novembro um fórum virtual sobre o futuro do planeta e o combate às alterações climáticas, temas que a 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) colocou na ordem do dia. Os três oradores que irão intervir na iniciativa vão analisar em concreto o posicionamento da China na prossecução de um futuro pautado por uma prosperidade comum.

A cidade escocesa de Glasgow acolhe até ao próximo dia 12 de Novembro a Conferência das Nações Unidas Sobre Mudança Climática. O certame, que conta com cerca de cinquenta mil participantes, é o maior do género alguma vez organizado pela ONU, mas também o mais crítico, como fez questão de lembrar António Guterres. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, católico, reiterou na sessão de abertura da COP26 que as alterações climáticas são o maior problema com que se depara a Humanidade e vão afectar dramaticamente o futuro do planeta se nada de substancial for feito em tempo útil.

O desafio, que exige níveis inéditos de entendimento entre povos e nações, prefigura-se muito difícil, mas para milhões de católicos em todo o mundo a solução poderá passar, em parte, por aquilo que o Papa Francisco defende nas Encíclicas Laudato si e Fratelli tutti: o abandono de uma mentalidade que é radicalmente antropocêntrica, em prol de uma abordagem integral e bioética da vida na Terra.

Com o futuro do planeta na ordem do dia, o combate às alterações climáticas vai estar em discussão também em Macau, pela mão do Instituto Ricci. O organismo promove na próxima quarta-feira um fórum virtual que irá analisar em específico o posicionamento da China na prossecução de um futuro “pautado por uma prosperidade comum”. Subordinado ao tema “A inter-relação entre o Sonho Chinês e a Ecologia Integral”, o fórum virtual tem como ponto de partida um artigo académico publicado recentemente pelos três palestrantes convidados pelo “think tank” jesuíta. Em “Inter-relações entre a ‘Faixa e Rota’ e a Ecologia Integral: Os Casos de África e do Paquistão”, Veronika Sintha Saraswati, Bernard Lee e o jesuíta Jojo Fung louvam o paradigma de desenvolvimento que está inerente à iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” e sublinham o impacto económico do investimento directo chinês em países pobres ou em vias de desenvolvimento, mas defendem que, para “promover a co-existência harmoniosa do mundo natural e do mundo humano, a China vai ter que incorporar no seu duplo ‘Sonho Chinês-Sonho Mundial’ uma espiritualidade que conduza a uma conversão ecológica”. Todos eles doutorados, os três autores fazem eco das recomendações elencadas pelo Papa Francisco na Encíclica Laudato si, em que o Sumo Pontífice defende “uma conversão ou uma mudança de atitude” para que a “ética confucionista da inclusão harmoniosa dos Céus, da Terra e dos Homens” se possa tornar efectiva.

SOLIDARIEDADE E AMIZADE CÍVICA

Para o padre Stephan Rothlin, director do Instituto Ricci de Macau, a perspectiva do desenvolvimento integral, tal como é defendida pelo Papa Francisco em Laudato si e, em menor medida, em Fratelli tutti, oferece a única resposta viável à crise com que a Humanidade se depara. Uma crise que, sustenta o sacerdote, mais do que ambiental, é uma crise ético-moral. «O Papa Francisco continua a dizer que a principal mensagem da Laudato si não pode ser reduzida à exigência de um ambiente limpo, e destaca algo que já tinha sido destacado por Bento XVI (em Caritas in Veritate, 2009, nº 51): estando as coisas todas relacionadas, qualquer violação da solidariedade e da amizade cívica prejudica o ambiente», assume o missionário jesuíta. «A meu ver, a recente carta encíclica Fratelli tutti (2020)oferece a perspectiva mais abrangente sobre a forma como a solidariedade e a amizade cívica podem ser desenvolvidas numa sociedade profundamente dividida e a forma como a Igreja e as demais confissões religiosas são desafiadas para chegar aos que são deixados para trás e que são espezinhados», acrescenta.

A Igreja tem estado, de resto, na linha da frente da promoção dos laços de solidariedade e de amizade cívica de que o Papa Francisco fala na Encíclica Fratelli tutti. O padre Stephan Rothlin exemplifica com o trabalho desenvolvido por certas dioceses da China continental, onde a Igreja se tornou sinónimo não só de consciência espiritual, mas também de discernimento ambiental. «A Laudato si já inspirou inúmeras iniciativas tendo em vista o princípio do desenvolvimento sustentável, numa altura em que os países e as organizações internacionais ainda se debatem para assumir compromissos concretos para contrariar as mudanças climáticas. Gostava apenas de mencionar o exemplo encorajador de alguns bispos na China que está na linha da frente dos esforços de mobilização dos fiéis para que separem o lixo; para que adoptem práticas de compostagem e evitem o desperdício de comida», elenca o sacerdote. «Gostava ainda de mencionar os esforços humildes, mas incansáveis do superior da comunidade jesuíta, o padre Fernando Azpiroz, na defesa da compostagem, da separação do lixo e de métodos pedagógicos inovadores aqui em Macau, com o propósito de convencer as gerações mais jovens de assumirem com seriedade um maior compromisso com um estilo de vida que vá ao encontro da mensagem central da Laudato si».

As alterações climáticas são um desafio de monta para todos os povos e para todas as nações, mas poucos terão pela frente níveis de responsabilidade tão altos como a China. Para o padre Stephan Rothlin, a crise ambiental e ético-moral com que a Humanidade se depara constitui uma prova de fogo para a liderança chinesa. «O papel que a China vai desempenhar e o compromisso que terá que assumir é, obviamente, crucial para uma mudança de políticas ambientais. Parece haver uma tendência para descartar rapidamente estes esforços como sendo conversa fiada, mas o actual momento constitui uma prova-de-fogo para a China, na medida em que vai determinar se está ou não à altura da importância crescente que tem vindo a assumir a nível internacional, e se está ou não genuinamente comprometida, primeiro, com o combate à corrupção e, depois, com a diminuição das emissões de dióxido de carbono», remata, em declarações a’O CLARIM.

Marco Carvalho

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