IGREJA DE SANT’URBANO, EM THIONVILLE (FRANÇA)

IGREJA DE SANT’URBANO, EM THIONVILLE (FRANÇA)

Do sino da escola ao monograma de Luís XIV

Em Thionville, a primeira grande cidade francesa a seguir à fronteira do Luxemburgo, fomos encontrar uma igreja dedicada a Sant’Urbano, Papa e mártir da Igreja Católica.

A igreja actual data de 1866, sendo que no seu lugar existia uma capela cuja construção foi concluída em 1699. O primeiro padre da capela foi Jean-Henry Schmitt, cujo nome se encontra inscrito na Cruz de Heppich e que ainda hoje se pode ler facilmente.

A capela original nada tinha de especial, de acordo com relatos da época que se encontram disponíveis em panfletos à entrada. Como era costume, estava rodeada por um cemitério. Em 1823 foi ampliada para uma capacidade de trezentas pessoas e alguns anos mais tarde ali foi instalado o sino de Saint Urbain com 750 quilogramas. Em 1859 mandaram instalar mais um sino, de “apenas” setenta quilogramas, o qual soava para o início das aulas. Geralmente, as escolas ficavam ao lado das igrejas. Ao som das badaladas iam chegando os alunos de todos os cantos da (então) aldeia.

Após um incidente entre o professor da escola e o padre Frankhausser – o sacerdote repreendeu as crianças por terem sujado o fundo do campanário – o sino foi removido, apesar dos protestos do professor. O pequeno sino acabaria, ainda assim, por ser salvo em 1917, dado que nunca chegou a ser declarado; o mesmo é dizer que para as autoridades é como se nunca tivesse existido, tendo ficado guardado num canto. Claro está que como há muito não tocava, foi desmontado e emprestado, em 1949, à igreja provisória do bairro de Saint Pierre até 1968, data da construção da nova igreja. Actualmente, este pequeno sino fica ao pé do altar e é utilizado durante o ritual da Missa, mais precisamente no momento da elevação.

A capela serviu de sede à Confraria dos Vinhateiros e Tanoeiros, sendo que Sant’Urbano é considerado o padroeiro e protector da vinha e dos viticultores nos países germânicos. Papa e mártir, governou Roma de 222 a 230, e foi escolhido pelos viticultores de Guentrange para seu patrono.

A igreja actual foi consagrada a 19 de Setembro de 1867, por monsenhor Dupont des Loges, bispo de Metz. À entrada da igreja, as pias de água benta, em concha indiana, provêm de uma venda feita pelo abade Coquereau, capelão-mor da frota francesa. A Via Sacra, de carvalho em estilo românico, foi paga por meio de subscrição dos paroquianos, datando de 1870.

Os vitrais, dedicados a Santo Agostinho, Santa Catarina de Alexandria, Santo Aleixo e Santo Louis Roi, foram todos doados por várias famílias de benfeitores da cidade, como também se pode ler na informação disponível no átrio de entrada do templo.

A par com os abundantes vitrais, todos dedicados a santos, existe também uma extensa colecção de estatuária, oferecida por várias individualidades ao longo dos séculos, que foi enriquecendo o espólio da igreja.

O altar-mor, em estilo barroco, é de talha dourada e chama à atenção pelos seus detalhes em folha de ouro. Este altar foi um presente de Isabella I de Espanha aos Capuchinhos de Thionville. Após a destruição da Capela dos Capuchinhos em Thionville, o altar foi descoberto num sótão e instalado na igreja de Guentrange, aquando da sua construção em 1866.

O banco da comunhão, em ferro forjado, é o da antiga capela; data do Século XVII ou XVIII e ostenta o monograma de Luís XIV, à semelhança dos portões de Versalhes.

A terminar, referência ainda para um órgão ibérico, uma peça única de tubos agrupados por conjuntos com pedaleira. Foi inaugurado a 20 de Setembro de 2009. Fez treze anos na última terça-feira.

João Santos Gomes

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