Corrupção e crime, pois claro!
Na sua homilia na Missa do Dia das Forças Armadas Nigerianas, assinalado no passado 15 de Janeiro, D. Lucius Iwejuru Ugorji, de Owerri, presidente da Conferência Episcopal Católica da Nigéria (CBCN), pôs o dedo numa das feridas que mais incapacitam a viabilidade de um país, seja ele qual for. Falamos da corrupção, «esse preocupante vício na nossa vida pública» – palavras do prelado. «A situação actual ultrapassou todos os limites», pois é um vício que abrange um espectro bastante amplo. Vai do suborno ao peculato, passando por todo um rol das mais variadas patifarias: inflação das contas públicas, abuso de poder, nepotismo, saque à propriedade estatal, culto da personalidade, falsificação de identidade e outros dados pessoais, falsas declarações, síndrome do “trabalhador fantasma”, charlatanismo e manipulação. «A corrupção é corrosiva, poluente, degradante e infecciosa», concluiu o presidente da Conferência Episcopal.
Alguns dos males mencionados pelo bispo Ugorji estão bem documentados: uma investigação conduzida em 2020 pelo governador do Estado de Borno, destinada a monitorizar professores do Ensino Primário e outros funcionários públicos, descobriu que cerca de 22 mil e 556 “trabalhadores fantasmas” estavam na folha de pagamento do Governo. Ou seja, uma fraude que custava ao Estado, por mês, 420 milhões de dólares norte-americanos. Como se não bastasse, políticos e funcionários corruptos não só recebem as reformas dos trabalhadores falecidos, como também registam os migrantes como eleitores colocando-os na folha de pagamento do Governo em troca do seu voto. Outro flagelo generalizado na Nigéria, com particular incidência nas últimas duas décadas, são os “exames comprados”, sobretudo ao nível do Ensino Secundário e Superior. Novos e sofisticados métodos surgem com assustadora frequência.
Noutro domínio, o Presidente nigeriano acaba de suspender Betta Edu, ministro dos Assuntos Humanitários e Redução da Pobreza, por suspeita de desvio de fundos de uma conta bancária para transacções financeiras do Ministério, no âmbito do programa de assistência social, irregularidade que, de resto, vinha sendo denunciada pela Igreja Católica.
Para além de D. Lucius Ugorji, outra destacada figura do prelado nigeriano surge como farol de fé, compaixão, liderança e serviço altruísta. Falamos do arcebispo de Lagos, D. Alfred Adewale Martins. Nascido a 1 de Junho de 1959, na rochosa cidade de Abeokuta, no seio de uma devota família de luso-descendentes, D. Alfred desde novo demonstrou genuíno desejo de fazer com que a sua vida tivesse um impacto positivo na vida dos seus semelhantes. Nascido com zelo pelo serviço e com um coração imbuído de amor a Deus e à Humanidade, D. Alfred ascendeu na hierarquia para se tornar uma força orientadora na jornada espiritual de inúmeras almas. Tem sido incansável na denúncia de outra das pragas que assola o País: a criminalidade, tão ou mais generalizada que a corrupção. Em boa verdade, os familiares das vítimas desses crimes querem ver acções concretas que façam justiça aos seus entes queridos. «A raiva das pessoas só pode ser amenizada se os culpados forem levados a julgamento», afirmou D. Alfred Martins, num encontro com o Presidente nigeriano Bola Tinubu a propósito das vítimas dos massacres de Natal passado, no Estado de Plateau.
Nas regiões de Bokkos e Barkin Ladi, bandos armados atacaram cerca de vinte aldeias e mataram pelo menos 198 pessoas, a maioria delas cristãs, pondo em fuga milhares de outras. Na sua declaração, o arcebispo de Lagos criticou o Governo por se limitar a condenar os assassinatos e a fazer promessas que não foram cumpridas, alimentando a raiva e a frustração dos nigerianos: «As promessas governamentais são como um disco riscado, e não me parecem sinceras. Nunca ninguém ouviu falar de criminosos a serem levados a tribunal ou a serem condenado por tão hediondos crimes». Sem “papas da língua”, como é do seu tom, acrescentou ainda D. Alfred: «Queremos saber quem são os perpetradores e todos aqueles que os enviaram nestas missões inglórias. Até que isso aconteça, a impressão geral é de que os culpados estão a ser protegidos por forças poderosas dentro e fora dos círculos governamentais».
Entretanto, a 8 de Janeiro passado, a Associação Cristã da Nigéria (CAN), coligação das principais denominações cristãs na Nigéria, organizou uma marcha de protesto pacífica nas ruas de Jos, capital do Estado de Plateau, exigindo maior segurança na região. Um protesto que contou com cerca de cinco mil pessoas. O arcebispo D. Daniel Okoh, presidente da CAN, descreveu os ataques e a destruição de casas e locais de culto como «um ataque à paz e à unidade das diferentes etnias da região», garantindo que estaria ao lado da população e das instituições do Estado durante «este período difícil». D. Daniel elogiou a rápida intervenção do governador do Estado, Caleb Mutfwang, e do Exército Nigeriano, pedindo-lhes para que reforçassem as medidas de segurança de forma a evitar novos ataques.
Recentemente, a polícia nigeriana anunciou ter detido onze pessoas acusadas de envolvimento nos ataques que mancharam a época natalícia.
Joaquim Magalhães de Castro