Terceira Guerra Mundial aos bocados.
O ano de 2016 tem sido um espinheiro de horrores. Logo a abrir, o conflito entre a Arábia e o Irão, cabeças do mundo sunita e xiita, “dois inimigos figadais”, fogo e dinamite, segundo uma revista americana. O rastilho foi a execução dum líder xiita e provocou ondas de choque assustadoras.
Quase na mesma altura, a Coreia do Norte anunciava ter feito explodir a sua primeira bomba de hidrogénio, mil vezes mais potente que as lançadas sobre Hiroxima e Nagasaki.
Seria imprudente não levar a sério um regime político de loucos. Entretanto, a queda da Bolsa chinesa destronava por um dia as notícias da Bomba H nos cabeçalhos da informação. Podia arrastar consigo a economia de muitos países, senão do mundo inteiro. “O pior início do ano em décadas”, resumia o Financial Times.
Isto para não falar dos atentados em Paris e noutros sítios, do intensificar dos conflitos, da tragédia dos refugiados, do assalto criminoso de um grupo de jovens bêbados a raparigas que desfrutavam a entrada no ano novo, na Alemanha. Etc. Etc.
No seu discurso perante as autoridades quenianas, o Papa avisou que a miséria e a frustração acordaram a fera da violência e do terrorismo, os quais se alimentam do medo, da desconfiança e do desespero.
E chegou a falar de uma «Terceira Guerra Mundial aos bocados», aos pedaços, às fatias, que segundo ele já referve nestes últimos anos.
Bem sei que a pobreza atroz, a luta pela sobrevivência, a insegurança e a injustiça mancharam desde sempre a história humana.
Só que hoje existe uma informação instantânea, uma consciência nova e uma sensibilidade mais aguda.
A pólvora anda espalhada por aí, os rastilhos vão sendo acesos, e teme-se que, dum momento para o outro, se dê uma explosão generalizada e incontrolável.
Os inimigos da paz e da prosperidade não são apenas o tráfico de armas e de seres humanos ou a lavagem de cérebros para fanatizar, enlouquecer, crianças e jovens. São também e sobretudo a indiferença e a falta duma cultura da solidariedade.
Só mulheres e homens comprometidos com os grandes valores espirituais e políticos podem alterar a situação. Pessoas que prezem a paz, a justiça social, a honestidade, a reconciliação, o diálogo e – acrescentaria com o Papa Francisco – que tenham o coração aquecido de ternura e de misericórdia.
ABÍLIO PINA RIBEIRO
In Mensageiro de Santo António