A luta contra o cisma novaciano: Cornélio, Lúcio I e Estevão I
SÃO CORNÉLIO
(6 ou 13.III.251 – ?.VI.253)
Após a morte do Papa São Fabiano, foi necessário mais de um ano para se poder escolher um novo Papa, devido à perseguição decana. Quando a aplicação do édito de perseguição abrandou, os cristãos escolheram um romano forte de espírito e de carácter.
Tal como nas perseguições anteriores, alguns cristãos tinham-se afastado da fé (os lapsi). Cornélio teve de enfrentar um duplo desafio: o laxismo, por um lado, e o rigorismo, por outro. Estas duas atitudes eram contra os lapsi, que queriam regressar ao redil.
O Papa condena o cisma e o laxismo. Insistiu que aqueles que se afastaram podem, de facto, voltar à Comunhão da Igreja, mas só depois de terem feito a penitência adequada.
A doutrina do Papa foi contestada por Novaciano, um rigorista influenciado por Tertuliano (cf. PAIS DA IGREJA n.º 19). Este afirmava que só Deus pode perdoar e que o perdão na terra não era possível, o que vai claramente contra a crença católica no “perdão dos pecados” (Credo dos Apóstolos) através da Igreja. A oposição de Novaciano era tal que criou um grupo cismático e conseguiu ser eleito “antipapa”. O Papa Cornélio manteve-se firme e rejeitou o rigorismo de Novaciano. São Cipriano, Bispo de Cartago (cf. PAIS DA IGREJA n.º 20) apoiou o Papa e escreveu “Sobre a Unidade da Igreja”. (A Igreja celebra a Festa de São Cornélio e São Cipriano na mesma data). Novaciano foi mais tarde excomungado durante um Concílio realizado em Roma, no ano 251, mas o Novacianismo sobreviveu até ao Século VIII (cf. “Novatian”. earlychristianwritings.com).
Surpreendentemente, Novaciano foi acompanhado por Novato de Cartago, um laxista que fugiu de Cartago porque São Cipriano o condenou. Originalmente, Novato era a favor de readmitir os lapsi na Igreja e na Eucaristia, sem penitência, mas mudou para o extremo oposto. Novaciano e Novato formaram então um movimento que se espalhou para o Oriente e ao qual se juntaram os montanistas. O novo grupo chamou-se “Cathari” (puritanos).
Entretanto, São Cornélio conseguiu manter a moral dos cristãos de tal forma, que quando a perseguição de Décio recomeçou não houve mais cisma.
Cornélio acabaria por ser decapitado e sepultado numa cripta privada perto das Catacumbas de Calisto.
SÃO LÚCIO I
(VI ou VII.253 – 5.III.254)
O 22.º Papa nasceu em Roma. A perseguição do imperador Galo levou-o temporariamente ao exílio, mas conseguiu regressar rapidamente a Roma. Lúcio continuou a política de permitir que os apóstatas arrependidos fossem acolhidos de novo na comunhão com a Igreja e São Cipriano deu-lhe todo o seu apoio.
O Liber Pontificalis refere que foi decapitado sob o imperador Valeriano, mas outros autores não confirmam este facto. Refere também que Lúcio “deu autoridade sobre toda a Igreja a Estevão, seu arquidiácono, enquanto se encaminhava para a sua paixão”.
O Papa Lúcio foi sepultado nas Catacumbas de Calisto.
SANTO ESTEVÃO I
(12.III.254 – 2.VIII.257)
Tal como Lúcio, também EstIêvão teve de partir para o exílio, mas regressou são e salvo.
Continuou a lutar contra os cismáticos seguidores do antipapa Novaciano, para além de sofrer perseguições.
São Cipriano convenceu o Papa a depor dois bispos que tinham obtido certificados por sacrifícios aos deuses durante a perseguição. Convenceu também o Papa Estevão a depor um bispo que havia caído na heresia de Novaciano.
No entanto, Cipriano discordava do Papa na questão do baptismo herético e tinha o apoio dos bispos africanos. Cipriano não tinha qualquer problema com os cristãos baptizados caducos que quisessem regressar ao redil. No entanto, insistia que aqueles que haviam sido baptizados por hereges tinham de ser baptizados de novo. Mas o Papa respondeu: “Que não haja inovação para além do que foi transmitido”. O Santo Padre defendeu assim a importância da Sagrada Tradição que ensina que o Baptismo pode ser administrado por qualquer pessoa que pretenda fazer o que a Igreja faz e, portanto, os baptismos administrados por hereges também são válidos. De facto, o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica ensina que “em caso de necessidade, qualquer pessoa pode baptizar, desde que entenda fazer o que faz a Igreja e derrame água sobre a cabeça do candidato, dizendo a fórmula trinitária baptismal: ‘Eu te baptizo em Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo’” (CCIC nº 260).
O Liber Pontificalis refere que foi enviado para a prisão “com nove padres e dois bispos (…) e 3 diáconos (…). Ali, na prisão, (…) realizou um sínodo e confiou todos os vasos da Igreja à autoridade do seu arquidiácono Xisto [Sisto], bem como o cofre do dinheiro. Ao fim de seis dias, ele próprio foi levado sob guarda e decapitado”.
Foi também sepultado nas Catacumbas de Calisto.
Pe. José Mario Mandía