Autoridade e misericórdia: Urbano I e Ponciano
SANTO URBANO I (222-230)
O Papa Urbano I nasceu em Roma. Eleito em 222 e falecido provavelmente de causas naturais a 23 de Maio de 230, é o primeiro Papa cujo pontificado pode ser definitivamente datado.
A obra “Passio Sanctae Caeciliae”, do Século V, afirma que Urbano I foi quem trouxe Santa Cecília, uma rapariga de uma família nobre, para a fé. Mas Brusher e Borden (“Popes Through the Ages”) relatam que Cecília foi martirizada antes de Urbano I. Conta-se que o prefeito Turcius Almachius decidiu metê-la numa câmara de vapor quente para a asfixiar, mas ela sobreviveu. Por fim, tentaram decapitá-la e só o conseguiram após três golpes. O Papa Urbano I construiu uma igreja no local do seu martírio e aí enterrou os seus restos mortais. Esta igreja é a Basílica de Santa Cecília em Trastevere.
A “Passio Sanctae Caeciliae” diz que Cecília trouxe à fé o seu marido Valeriano, que o próprio Urbano I baptizou. Este facto é confirmado por Brusher e Borden. Valeriano, por sua vez, trouxe também o seu irmão Tibúrcio para a fé. Os irmãos eram patrícios (pertencentes à classe de elite de Roma). Foram presos e, no processo, converteram Máximo, o oficial que os levou para a prisão. Os três foram torturados e depois decapitados. Este facto ocorreu provavelmente após o reinado de Alexandre Severo (222-235), que tolerou os cristãos durante o tempo de Urbano e sob cujo reinado a Igreja em Roma cresceu.
É de notar como a mensagem do Evangelho penetrou em todos os sectores da sociedade e mostrou o seu imenso poder, que levou muitos a sacrificar a vida pela felicidade eterna.
Hipólito persistiu no cisma durante este tempo e o Papa Urbano manteve a mesma atitude de São Calisto para com o seu partido cismático.
SÃO PONCIANO (21.VII.230 – 28.IX.235)
Como o leitor deve ter notado, é a primeira vez que se registam as datas completas do início e do fim do Papado.
Ponciano, o 18.º Papa, nasceu em Roma. “Ordenou o canto dos salmos, a recitação do Confiteor antes da morte e o uso da saudação ‘Dominus vobiscum’” (Memmo Caporilli, Os Pontífices Romanos).
O imperador tolerante Alexandre Severo foi assassinado em 235, e Maximino, que tomou o poder e odiava Severo, começou a perseguir os cristãos, indo atrás dos líderes da Igreja.
“Uma das suas primeiras vítimas foi Ponciano, que com Hipólito [cf. PAIS DA IGREJA n.º 18] foi banido para a insalubre ilha da Sardenha. Para tornar possível a eleição de um novo Papa, Ponciano renunciou a 28 de Setembro de 235. O Catálogo Liberiano diz ‘discinctus est’”. Ponciano é, portanto, o primeiro Papa da História que renunciou. “Consequentemente, Anteros [ou Anterus] foi eleito em seu lugar. Pouco antes ou pouco depois, Hipólito, que havia sido banido com Ponciano, reconciliou-se com a Igreja Romana e, com isso, o cisma que ele havia causado chegou ao fim. Não se sabe quanto tempo mais Ponciano suportou os sofrimentos do exílio e os duros tratamentos nas minas da Sardenha. Segundo as antigas Actas dos mártires, já não existentes, utilizadas pelo autor do Liber Pontificalis, morreu em consequência das privações e dos tratamentos desumanos que teve de suportar. O Papa Fabiano (236-250) mandou trazer para Roma os restos mortais de Ponciano e Hipólito, tendo Ponciano sido sepultado a 13 de Agosto na cripta papal da Catacumba de Calisto” (Kirsch, J.P. 1911. Papa São Ponciano. In The Catholic Encyclopedia. New York: Robert Appleton Company). Os restos mortais de Hipólito, por outro lado, foram depositados num cemitério ao longo da Via Tiburtina.
A Igreja homenageia os Santos Ponciano e Hipólito no mesmo dia, 13 de Agosto. Assim, é-nos recordada a importância da autoridade e da obediência, por um lado, e da misericórdia e do arrependimento, por outro.
Pe. José Mario Mandía