Aproximação ao Gigante
A vontade da Fundação ASEAN de cooperar com a China remonta aquando da entrada deste país na Organização Mundial do Comércio, em 2001, tendo-se deslocado então a Macau o director-executivo dessa organização, o filipino Ruben Umulay, a fim de participar numa conferência sobre medicina tradicional chinesa. Foram, na altura, identificadas três áreas de cooperação ao nível do desenvolvimento dos recursos humanos. A primeira, precisamente na área da medicina tradicional chinesa; a segunda, na agricultura; e a terceira, no domínio das diferentes vertentes culturais. Na conferência foram identificadas diversas áreas de possível cooperação ao nível da investigação, tais como o desenvolvimento e aperfeiçoamento de bases de dados, a continuidade de esforços no sentido de padronizar e garantir a máxima qualidade dos produtos de medicina tradicional, e, sobretudo, a necessidade absoluta de regulamentar esta matéria. Também foi discutida qual a posição e qual a política que a Organização Mundial do Comércio devia adoptar no que respeita a este sensível e sempre polémico assunto. Ou seja: qual a melhor maneira da medicina tradicional oriental ser integrada e, por conseguinte, considerada como medicina alternativa credível ao nível planetário.
Mas qual o papel de Macau, em particular, e o da China, em geral, nisto tudo? Ora, para quem não saiba convém lembrar que Macau conta com um Instituto de Medicina Tradicional, integrado na Universidade de Ciência e Tecnologia, e a própria Universidade de Macau tem o seu Instituto de Ciências Médicas Chinesas. Ao longo dos anos desenvolveu-se, por isso mesmo, um programa de intercâmbio a nível do mestrado e doutoramento entre os estudantes dos países da ASEAN e os estudantes locais e do Continente, tendo sido solicitado desde o início o apoio do Governo de Macau para essas duas universidades que assim foram capazes de pôr em prática um sistema de bolsas. No âmbito da Fundação ASEAN (tendo em conta que a China é um dos países doadores) foi proposto a Pequim que providenciasse capital para as bolsas de estudo, o que permitiria a alunos do Sudeste Asiático partirem para a China e a estudantes chineses ingressarem nas universidades de qualquer dos Estados-membros da ASEAN. Isto passou-se não só no domínio da medicina tradicional, mas também no da agricultura e até no que se refere à aprendizagem do Mandarim, língua do futuro, como bem se sabe. Nesse sentido, foi constituído um departamento de agricultura em Kunming, e rumaram à China, para aí aprofundarem os seus conhecimentos, professores de língua e cultura chinesa oriundos dos países da ASEAN.
A Fundação ASEAN é um dos ramos do secretariado da ASEAN (Associação dos Países do Sudeste Asiático) e enquanto o secretariado desse grupo de dez países lida essencialmente com questões políticas e económicas ao mais alto nível, ou seja, ao nível ministerial, a fundação existe com o intuito de tratar dos aspectos fora da vertente política e económica. Chamam-lhe “sector de cooperação funcional” e lida com áreas tão diversas como a erradicação da pobreza, o desenvolvimento social, a investigação científica e tecnológica, a cultura e a “arte da boa governação”. Ao contrário do secretariado, que opera na esfera da “alta política”, a fundação funciona ao nível das raízes; ao nível comunitário, por assim dizer. O seu mandato obriga-a a manter níveis de cooperação e solidariedade entre os diferentes países-membros da ASEAN, e ainda a desenvolver recursos humanos nas mais variadas áreas. Acrescente-se ainda que a Fundação ASEAN expandiu a sua actividade no âmbito da ASEAN+3, e por isso mantém agora uma intensa colaboração com a China, a Coreia do Sul e o Japão.
O dinheiro para financiar as suas actividades provém sobretudo de países doadores, como o Japão, a Coreia do Sul, a própria China, e ainda a França e o Canadá. Isto para além, claro, da contribuição dos dez Estados-membros. Outros países da União Europeia têm vindo a ser contactados e as perspectivas de um futuro apoio são bastante reais, sobretudo nas áreas da informação tecnológica e da biotecnologia.
A fundação funciona, portanto, como um orgão independente, mas ao mesmo tempo afiliado, pois integra o secretariado da ASEAN, cujo logotipo é bastante interessante: um feixe de hastes de arroz. Dez palhas, mais precisamente, representando cada uma delas um Estado-membro. Se Timor-Leste e a Papua-Nova Guiné vierem, como se prevê, a aderir à ASEAN, serão acrescentadas ao feixe outras duas palhas. Ambos estas nações mantém, por enquanto, o estatuto de “países obervadores”.
O Programa de Educação da Fundação da ASEAN aposta na capacitação humana, particularmente da juventude, atribuindo bolsas de estudo, ministrando cursos, promovendo o intercâmbio académico, a pesquisa e o treino vocacional, o que permite uma maior interacção e mobilidade entre os cidadãos dos países que compõem a ASEAN. Já o Programa de Artes e Cultura abrange artes performativas, os audovisuais, a dança, a música e o canto, a fotografia, as artes plásticas, o artesanato, o cinema e diversas outras actividades criativas.
A ASEAN assinala este ano os cinquenta anos da sua formação.
Joaquim Magalhães de Castro