Macau, comércio e evangelização
A Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta ultima os preparativos para a inauguração de dois espaços museológicos dedicados à Rota da Seda e aos missionários portugueses que pela Ásia espraiaram a fé católica. Duas iniciativas que visam homenagear figuras da história do concelho transmontano, entre as quais o navegador Jorge Álvares e o monsenhor Manuel Teixeira. De visita a Macau, o pároco Francisco Pimparel pediu fundos para recuperação de espólio oriental também proveniente de Macau e mais empenho na evangelização das suas gentes.
A Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta, em Portugal, inaugura no próximo ano o Museu da Seda, cujas obras foram já concluídas. A’O CLARIM, o padre Francisco Pimparel, pároco de Freixo de Espada à Cinta, disse tratar-se uma iniciativa que «procura recuperar uma tradição algo perdida» no concelho transmontano – a compra, o transporte e o trabalho da seda – realçando o contributo dos «missionários portugueses na Ásia para o florescimento da Rota da Seda».
Financiado por fundos europeus, o Museu da Seda de Freixo de Espada à Cinta (há outros no País) insere-se num projecto mais abrangente que tem por objectivo reactivar o sector da seda, através do fomento de novas ideias que vão desde a criação do bicho da seda até à sua transformação em peças de vestuário e acessórios.
«A indústria da seda era muito forte na nossa região. Com o passar dos tempos foi-se perdendo. Está a ser feito um grande esforço para a recuperar, o que é bom para uma zona que muito tem sofrido com a desertificação», explicou o padre Francisco Pimparel.
Museu do Missionário
O papel dos missionários para a difusão da fé católica e para o desenvolvimento do concelho é igualmente mote de um segundo projecto que a Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta está a levar a cabo: a construção do Museu do Missionário no antigo Convento de São Filipe de Nery.
Com o apoio da Paróquia de Freixo de Espada à Cinta a edilidade tenciona desta forma homenagear todos aqueles que levaram o Catolicismo a paragens tão distantes como Goa, Malaca, Singapura, Macau e Timor, entre outros destinos do Sudeste Asiático e do Extremo Oriente.
Da paróquia são esperados livros antigos, paramentos, imagens e móveis chineses, que testemunham a passagem de alguns “filhos da terra” pelas rotas do Oriente.
A salvaguarda do património histórico-religioso é uma das metas definidas pelo padre Francisco Pimparel a curto e médio prazo, tendo já sido recuperado algum espólio da paróquia «relacionado com Macau».
Na folha de encargos está a «recuperação de capelas e outras obras, e de imagens e pinturas ligadas à cultura oriental». Para o efeito foi lançada uma campanha de angariação de fundos (Caixa Geral de Depósitos – NIB: 003503300000908850353069).
Há cerca de dois anos o padre Dino Parra, antigo aluno do Seminário Diocesano de São José e actual pároco de Mogadouro, esteve em Macau alguns dias, durante os quais recebeu de amigos e fiéis verbas para a conclusão da catedral de Bragança. Actualmente estão a decorrer as obras de construção da Casa Sacerdotal, destinada a acolher padres da Diocese de Bragança-Miranda.
Macau: falta evangelizar
Sendo a primeira vez que passou por Macau, o padre Francisco Pimparel deixou transparecer um sentimento misto de estupefação e desalento. Estupefação pelo desenvolvimento de Macau e porque nunca pensou que se «sentiria em casa»; desalento por considerar que «Portugal deveria fazer mais por quem cá está».
Embora «o Pais tenha vindo a abandoná-los» – segundo as suas palavras – «os macaenses revelam-se muito fervorosos e apaixonados por Portugal, e aderem à religião». Para o sacerdote, «a Igreja em Macau tem um bom campo de trabalho», faltando «mais ousadia na evangelização».
Questionado sobre o que poderá ser feito para aproximar as pessoas da Igreja, respondeu: «É fácil porque as pessoas estão abertas a receber os ensinamentos. Esperam mais da Igreja e desejam que a Igreja lhes dê algo mais», referiu, sublinhando que «os portugueses e macaenses vêem na Igreja uma mãe. Para eles a Igreja funciona como um elo de ligação».
O papel das escolas de inspiração cristã também não foi esquecido: «Nota-se que as famílias têm muita ligação à Igreja. É gente muito comprometida. Isto deve-se em grande medida à influência dos colégios. O Catolicismo é muito influente e decisivo na formação dos jovens, não só na Europa como também aqui na Ásia. Seja a vertente católica ou outra, o importante é que os ideais estão lá todos».
Numa retrospectiva histórica, o padre Francisco Pimparel realçou de novo a acção dos missionários portugueses, preponderante para o actual quadro religioso de Macau: «Só de Freixo de Espada à Cinta vieram monsenhor Manuel Teixeira, Júlio Massa, Juvenal Garcia, António Monteiro, Manuel Basaloco, Manuel Pintado e muitos outros. Estamos a falar de cerca de trinta padres. Curiosamente, até o navegador Jorge Álvares era de Freixo de Espada à Cinta. Como é sabido, foi o primeiro navegador português a aportar na China».
José Miguel Encarnação
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