Fórmula 1 – Época de 2018

Ferrari: haraquiri em Suzuka?

A cristianização do Império do Sol Nascente nunca foi fácil. Os jesuítas desembarcaram no Japão em 1540, tendo entre eles Francisco Xavier. Em pouco tempo as conversões floresciam e a comunidade cristã chegou a ter mais de cem mil fiéis, e acima de trinta lugares de culto. A oposição começou pouco depois.

Para fazer a vontade a vários daimios que se insurgiam contra a actividade dos cristãos, o imperador Ogimachi decretou uma lei a banir os missionários. A iniciativa não surtiu o feito esperado e os missionários continuaram as suas tarefas sem grandes problemas. Em 1587, Toyotomi Hideyoshi promulga leis a banir o trabalho dos missionários católicos e dos convertidos, acusando-os de lideraram organizações dedicadas à escravatura e a conversões compulsivas, especialmente na cidade de Nagasaki, e ainda de sedição contra o Estado japonês. Desta vez, o decreto foi cumprido e muitos cristãos e missionários foram mortos ou escravizados. Em 1597, 26 cristãos foram crucificados, sendo posteriormente canonizados pelo Papa Pio IX. Outras execuções foram realizadas durante a vida de Toyotomi, o que praticamente acabou com a evangelização em curso, e muitos mártires perderam a vida. Perseguidos e massacrado, os cristãos japoneses passaram à clandestinidade. Daí a expressão “kakure kirishitan”, ou seja, “cristãos escondidos”. Muitos recorriam a subterfúgios, como estátuas de Buda com o crucifixo disfarçado ou inscrito no verso das mesmas.

Em 1620, Tokugawa Ieyasu, que sucedera a Toyotomi, tentou comercializar com portugueses e espanhóis, mas acabou por expulsá-los devido à proeminência que alcançaram em pouco tempo. Foi o fim da cristianização do Japão. As perseguições duraram até à chegada ao poder do imperador Meiji, que compreendeu a importância do comércio para a ascensão do Império a nível internacional. Em 1873 o édito foi totalmente revogado e a catedral Urakami edificada. Apesar de tudo, a cristianização do Japão não foi pacífica. Actualmente, a população cristã do Japão ronda cerca de 2,3 por cento da população japonesa, estimada em 126,9 milhões (censos de 2015).

Este fim-de-semana tem lugar o Grande Prémio do Japão. A situação de Sebastian Vettel (Ferrari), que se encontrava em estado catastrófico, piorou com a dobradinha da Mercedes na Rússia. Nos primeiros treinos livres a Ferrari ainda sonhou com uma – sempre possível – recuperação de Vettel, que já tinha quarenta pontos de atraso para o líder do campeonato, Lewis Hamilton (Mercedes). Os dois treinos que se seguiram devem ter dado pesadelos a toda a equipa da Ferrari. Os dois carros de Maranello eram simplesmente mais lentos do que os de Estugarda. E a confirmação veio com as qualificações. Vettel e Kimi Raikkonen ficaram na segunda linha do “grid” de largada, a três décimos de segundo dos primeiros.

Com o apagar das luzes, Vettel ainda tentou surpreender Hamilton, mas este defendeu-se muito bem e distanciou-se. Por sua vez, Valtteri Bottas dizia adeus a todos e iniciava uma corrida solitária. Com a mudança de pneus, a Ferrari alcançou uma vantagem mínima, mas mesmo com pneus novos não conseguiu travar Hamilton. Com o desenrolar da corrida, vendo que os carros de Bottas e Hamilton se equivaliam, Toto Wolff deu ordens para que Hamilton tomasse a dianteira da corrida. Parte da prova foi liderada por Max Verstappen que demorou a trocar de pneus. Quando parou para colocar pneus frescos caiu para o quinto lugar, ficando completamente à margem da luta pela vitória. Verdade seja dita que os dois Mercedes sempre foram mais rápidos do que os Ferrari durante todo o fim-de-semana. A bandeira de xadrez sancionou a vitória das “Flechas de Prata”.

A Vettel restou voltar a desabafar junta da Imprensa, sendo que na passada sexta feira já havia dito o óbvio: «O meu maior inimigo sou eu próprio». Os dois pilotos da Ferrari mostram-se confiantes quanto à possibilidade de subirem ao pódio nos próximos Grandes Prémios, mas a realidade mostra que luta pelo título começa a ser uma miragem.

O Suzuka International Racing Course, propriedade da Honda Motor Company, é um circuito fantástico tendo um traçado único, muito competitivo, em que a maioria dos pilotos, tanto de carros (qualquer fórmula ou categoria) como de motos, se sentem à vontade. As 24 Horas de Suzuka para motos são lendárias. No entanto, com piso molhado a pista torna-se perigosa e já se registaram algumas fatalidades. Os duelos entre Ayrton Senna e Alain Prost e os motores de qualificação com mais de mil cavalos deixaram marcar perenes no circuito.

Se Hamilton vencer este fim-de-semana em Suzuka – de acordo com os grandes comentadores – Vettel irá deixar a Ferrari em maus lençóis, depois do esforço feito para que o alemão se sagrasse este ano campeão do mundo de pilotos e entregasse o título de construtores aos novos donos da Scuderia. Com défice de cinquenta pontos para Hamilton (o equivalente a duas vitórias), pensamos que os “tiffosi” não terão muito para celebrar no final do ano.

A agenda do Grande Prémio do Japão está assim escalonada: Treinos livres 1, hoje, 9:00 horas – 10:30 horas; treinos livres 2, hoje, 13:00 horas – 14:30 horas; treinos livres 3, sábado, 11:00 horas – 12:00 horas. Provas de qualificação: Sábado, 14:00 horas – 15:00 horas. Corrida: Domingo, 13:10 horas.

Manuel dos Santos

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