Fórmula 1 – Época de 2015

Confusão no Grande Circo

Este fim de semana a Fórmula 1 vai até ao Circuito de Sochi, na Rússia – pista que recebe pela segunda vez o Grande Circo e que já teve três nomes. Primeiro chamou-se Sochi Park Circuit, no ano passado chamaram-lhe Sochi International Street Circuit, e este ano é oficialmente denominado Sochi Autodrom, o que não deixa de ser estranho porque se trata de um circuito de cidade e não de um autódromo… Com cinco mil 848 metros de perímetro é o terceiro mais longo da Fórmula 1, atrás de Spa Francorchamps e de Silverstone, e muito semelhante aos circuitos do Canadá (Gilles Villeneuve), da Austrália (Albert Park), de Singapura (Marina Bay), e até mesmo do Circuito da Guia, em Macau. Todos eles estão “espartilhados” entre muros, casas e lagos, com muito poucas escapatórias – se algumas dignas dessa nome existem – onde um pequeno erro significa voltar a pé para as boxes.

Uma vez mais estamos perante uma pista onde os Mercedes poderão não estar muito à vontade este ano, embora tenham dominado no ano passado com uma dobradinha avolumada com o terceiro lugar de Valtteri Bottas num dos Williams Mercedes. Os dois Ferrari, com Vettel e Hakkinen, deverão ter uma palavra a dizer. É o tipo de traçado que os dois pilotos gostam, com uma série de curvas de baixa velocidade – cinco delas consecutivas – e onde os Mercedes brilharam em 2014 apenas porque não tiveram oposição à altura. Veremos!

A Fórmula 1 foi confrontada com algumas acções pouco habituais, ou mesmo inéditas, nas duas últimas semanas. A Force India e a Sauber apresentaram uma queixa formal contra a FOM (Formula One Management), relativa à desigualdade de pagamentos do órgão de gestão do Campeonato do Mundo, presidido por Bernie Ecclestone. A Ferrari, Mercedes, McLaren, Red Bull e Williams recebem (muito) dinheiro pelas suas prestações, enquanto a Force India, a Sauber e a Lotus recebem muito menos, já para não falar da Toro Rosso e da Marussia…

Segundo as regras da União Europeia, tal poderá ser classificado como concorrência desleal. Se assim for, a FOM poderá ter que pagar uma multa até 10% dos seus ganhos no ano anterior – cerca de mil milhões de euros – e ser forçada a alterar o esquema do pagamento de prémios às equipas. O “patrão” da Fórmula 1 não se mostra minimamente preocupado com a acusação feita ao comissariado das competições da União Europeia, mas há quem diga que este facto poderá causar danos irreparáveis, não só na Fórmula 1, como em todo o Desporto Automóvel.

A dança dos motores também ameaça causar alterações na categoria, ainda para mais com a chegada, no próximo ano, da Haas Formula One, uma nova equipa que utilizará motores da Ferrari. Ora, os motores são a alma do Desporto Automóvel, seja ele qual for, e na Fórmula 1 são super importantes – a McLaren que o diga, com um motor Honda que não funciona e que já levou a extremos ridículos de penalizações por excesso de uso de motores novos. Em Itália a equipa inglesa foi penalizada em 150 lugares no “grid” de largada. Com um pelotão composto apenas por vinte carros, se fosse implementada esta punição a McLaren sairia da última posição, independentemente do resultado nas qualificações, durante mais de sete anos.

A Lotus vai ter motor Mercedes, esperando-se que volte a ser adquirida pela fábrica francesa “Régie Renault”. A Red Bull e a Toro Rosso – se ficarem na Fórmula 1 – passarão a utilizar motores da Ferrari, aumentando um pouco mais a confusão. A McLaren, de Ron Dennis, continua a apostar nos motores da Honda, que mereceram críticas públicas de Fernando Alonso, em Suzuka, onde foi ultrapassado em velocidade pura por um Sauber. O piloto espanhol falou para a sua boxe de forma desabrida e irada, dizendo que os motores da Honda pareciam motores de GP2 – a categoria logo abaixo da Fórmula 1 – e que a equipa parecia ser amadora.

A “Guerra dos Motores” entre a Red Bull, de Dietrich Mateschitz, e as outras equipas, poderá levar a que o milionário das bebidas energéticas abandone finalmente a Fórmula 1. Quando viu que os motores Renault deste ano não eram fiáveis, a Red Bull foi para o mercado à procura de um motor condizente com os seus pergaminhos (quatro títulos mundiais de construtores e outros tantos de pilotos). Aparentemente terá contactado a Mercedes, mas o chefe da equipa germânica, Toto Wolff, negou ter havido qualquer contacto, tendo acrescentado que a marca alemã não estaria disponível para fornecer motores à Red Bull e à Toro Rosso. A Ferrari apareceu então no horizonte e, uma vez mais, aparentemente, ofereceu-se para viabilizar motores às duas equipas.

Se, na realidade, a Red Bull e a Toro Rosso saírem da Fórmula 1, algo que Dietrich Mateschitz vem ameaçando desde que a Mercedes começou a vencer tudo e todos, abrir-se-á a possibilidade das equipas poderem (ou terem de) alinhar três carros. Um excitante cenário, segundo Toto Wolff, que no entanto afirma estar muito mais interessado em que se mantenha a Red Bull e a Toro Rosso do que as escuderias alinharam com três carros. Onde começa a verdade e acaba a sinceridade?

Manuel dos Santos

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