Filosofia, uma dentada de cada vez (38)

Estará a Natureza a trabalhar para o seu final?

No artigo anterior falámos sobre a Causa Final: a razão pela qual uma pessoa actua. Mas, e se agora quem actua não for uma pessoa, mas um animal, ou uma planta, ou algo sem vida? (inanimado). As suas acções também terão uma causa final? Vimos que a causa final é algo que o agente ou a causa eficiente tinha em mente, a sua intenção primária. Mas as coisas inanimadas, plantas ou animais, não têm mente. Fazem as coisas baseadas no seu instinto ou natureza. Assim sendo, parece que não podem ter uma causa final.

No entanto, também vimos que a causa final é não só a primeira na intenção, mas também a última na execução – a causa final é o resultado de um processo. Todos os processos que encontramos na natureza têm um resultado, uma espécie de termo final: inevitavelmente todos os processos acabam com determinado resultado, por exemplo, a união sexual entre um macho e uma fêmea (dependendo das condições correctas) resultará num descendente, ou o carvão, que quando submetido a temperaturas acima dos mil graus centígrados e a grandes pressões produz diamantes. É o que as ciências experimentais fazem para estudar, compreender e descrever esses processos e dar-lhe uma boa utilização.

Verificamos que o resultado das acções humanas e o resultado dos processos naturais resultam do seguimento de uma certa ordem ou procedimento. Essa ordem é determinada pelo fim último.

Por exemplo, se uma dona de casa quiser fazer um bolo de baunilha terá que reunir os ingredientes, aquecer o forno, untar a forma, derreter a manteiga com o açúcar, juntar os ovos e a baunilha, bater a farinha, colocar a massa na forma, e cozinhá-los durante uma hora e quinze minutos. A senhora terá que seguir todos estes passos se quiser fazer um bom bolo de baunilha. Consequentemente, o fim último (o bolo de baunilha) determina a ordem das acções – o procedimento – que a senhora tem de seguir.

Os processos naturais também apresentam direcções propositadas que resultam em efeitos determinados. Um dos mais notáveis processos da natureza é a embriogénese, o processo pelo qual o embrião se forma, se desenvolve e se transforma num organismo, partindo apenas de uma única célula.

A seguir à fertilização, o ovo fertilizado (zigoto) começa a dividir-se, primeiro em duas partes, depois quatro, e assim sucessivamente. Cada uma destas “células filhas” possui a mesma informação genética (o plano e as instruções para crescer) da célula original e são idênticas umas às outras. No entanto, a certa altura, as células começam a diferenciar-se – começam a especializar-se – mesmo que cada uma das células continue a possuir a mesma informação genética original. Grupos de células semelhantes organizam-se de acordo com as sequências fornecidas por essa informação até que um organismo (órgão?) esteja formado. Este fascinante processo é muito mais complexo que qualquer programa do mais avançado computador.

Agora, falando de programas de computadores, sabemos que são “escritos” por programadores com um muito claro conhecimento do objectivo – o fim último – do “software” que estão a criar. Podemos utilizar a mesma ideia nos processos naturais. A ordem e o propósito desses processos apontam para uma inteligência que (1) tem uma intenção definida – fim último – em mente para cada processo natural; (2) planeou todos os passos que levam à concretização desse fim; e (3) também possui a capacidade de executar esses planos. Mas ao contrário dos programas de computador, os quais criam “software”, esta inteligência tem que criar não só o “software”, mas também o “hardware”. É algo para pensarmos.

Pe. José Mario Mandía

jmom.honlam.org

 

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