Filosofia, uma dentada de cada vez (35)

O que são as Quatro Causas?

Vimos que uma causa é algo que afecta o ser de outra coisa, de forma positiva. Aristóteles dizia existirem quatro tipos principais de causas, que ele dividia em dois grupos: causas intrínsecas e causas extrínsecas (ou externas). Vamos falar primeiro sobre as causas intrínsecas.

As causas intrínsecas encontram-se na própria coisa, e para as coisas materiais as causas intrínsecas são as causas materiais e as causas formais. A causa material é apenas algo de que é feito, como, por exemplo, um cachimbo é feito de madeira, um instrumento musical é feito de latão, uma escultura é feita de mármore, etc.

Por outro lado, a causa formal é o que faz com que a coisa seja o que é. Enquanto que a causa material responde à pergunta “De que é que isto é feito?”, a causa formal responde à pergunta “O que é isto?”. “Mas, esperem”, poderão dizer, “não é isto a definição de essência? A essência não responde à pergunta ‘O que é isto?’”. E está absolutamente correcto. De facto, nos seres não-materiais a forma é a essência. Mas para as coisas materiais a essência inclui o aspecto material da coisa. Não podemos imaginar uma maçã, um computador ou um cão sem as suas dimensões (altura, largura e comprimento). Ser material é parte essencial dessas coisas.

Mas qual é a utilidade dos conceitos de causa material (matéria) e causa formal (forma), para além da Filosofia? Bem, estes dois conceitos na realidade são analógicos e podem ser aplicados em outras realidades, como organizações. Uma organização é composta por pessoas e as pessoas que compõem a organização podem ser consideradas como causa material. Mas os grupos de pessoas podem ser organizados de diferentes formas: numa cooperativa, num negócio de empreendedorismo, numa instituição de caridade, etc. A maneira de organizarem um grupo é a causa formal do grupo.

Duas organizações podem diferenciar-se de outras três: (1) os membros de uma são diferentes dos membros da outra (diferente causa material), mesmo que ambas sejam, por exemplo, cooperativas (a mesma causa formal); (2) os membros são os mesmos (a mesma causa material), mas um grupo está no negócio empreendedor e o outro é bombeiro voluntário (causa formal diferente); (3) os membros e o tipo do grupo são completamente diferentes (causas materiais e formais diferentes).

A distinção pode também ser aplicada na área do conhecimento: Podem diferir no objecto material (o que eles estudam), ou no seu objecto formal (que aspecto estão eles a estudar), ou ambos. Por exemplo: Tanto a Medicina e a Filosofia Antropológica estudam o ser humano (têm o mesmo objecto material), mas estudam o ser humano a partir de ângulos diferentes (têm objectos formais diferentes).

E, de novo, podemos usar a noção de matéria e forma nas comunicações, sejam elas faladas ou escritas. Para poder comunicar algo a alguém a primeira coisa que preciso ter é algo para comunicar. O meu discurso ou minha escrita deve ser de tal forma clara que ninguém possa dizer “Mas o que é que ele está para ali a dizer?”. O conteúdo da mensagem é a causa material. Antes de começar a falar ou a escrever algo devo perguntar-me: “O que é que eu quero dizer? O que é que eu quero que as outras pessoas saibam?”. Mas também terei que ter em atenção a causa formal – a forma como comunicarei o que quero dizer. Posso estar a falar sobre um tópico muito importante, mas se a forma como estou a comunicar não for clara e concisa não serei capaz de fazer passar a minha mensagem. Não terei a certeza de que me entendem.

Da próxima vez falaremos das causas extrínsecas.

Pe. José Mario Mandía

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