Filosofia, uma dentada de cada vez (21)

Há mais falácias?

Existem muitas formas de falácias. Como já devem ter visto, uma falácia (também chamada de “sofismo” ou “paralogismo”) é um falso argumento que parece ser verdadeiro. Numa falácia existem dois elementos: (1) uma aparente verdade, que a torna deceptiva; e (2) um erro escondido. Estamos diariamente expostos a falácias, especialmente nos Meios de Comunicação Social. Mas, frequentemente, nós próprios incorremos em falácias, especialmente quando estamos a defender violentamente uma opinião pessoal.

Já estudámos algumas falácias que aparecem quando não se observam as regaras do silogismo. Mas há outras falácias, algumas das quais podem ver-se como se segue.

A falácia do absoluto e das declarações qualificadas. Esta falácia acontece de duas maneiras: (1) quando argumentamos a partir de uma premissa geralmente verdadeira, e que é aplicada a um caso específico; ou (2) quando começamos com uma premissa que é verdadeira para um caso específico, e aplicamo-la para todos os casos (i.e. generalizamos).

Um exemplo do primeiro caso: As drogas são boas para a saúde humana. Logo, devemos encorajar o uso da marijuana (maconha). Neste caso, a premissa necessita de ser qualificada (explicada), porque há excepções a esta afirmação: nem todas as drogas são boas para a saúde humana.

Vejamos um exemplo do segundo caso: A democracia é boa para os americanos. Logo, ela é boa para todos os países. O facto de que algo é bom para mim não é necessariamente bom para os outros.

Ignorando o problema (ignoratio elenchi). Nesta falácia a pessoa não aborda o tópico em discussão, antes evita-o. Isto pode acontecer durante uma campanha política e em algumas controvérsias sobre política ou religião, ou ainda durante debates científicos. Por exemplo: quando algumas pessoas afirmam que há um consenso entre alguns cientistas de que a temperatura da Terra está a aumentar devido à actividade humana. A conclusão (que é apresentada como sendo uma conclusão científica) resulta, não de factos cientificamente comprovados, mas de um consenso de apenas alguns académicos.

A falácia de ignorar o problema pode aparecer de muitas formas: quando alguém baseia os seus argumentos nos sentimentos e necessidades da sua plateia (“apelo populista” ou “apelo de atracção de massas”); quando uma pessoa usa ameaças (“apelo ao poder”); quando usa a boa reputação dos que têm o mesmo ponto de vista que ele tenta promover (“apelo da vergonha ou da modéstia”); quando alguém (especialmente no tribunal) apela por atenuantes (“apelo à misericórdia”); quando a pessoa usa a ignorância da audiência para a convencer (“apelo à ignorância”), etc.

Uma das falácias usadas mais frequentemente é o ataque pessoal, insulto… (argumentum ad hominem). Este é um argumento em que uma pessoa questiona a credibilidade, ou ataca o carácter do seu adversário, em vez de se cingir ao problema que está em debate.

Solicitando a questão (petitio principii). Isto acontece quando alguém assume de antemão que a conclusão é verdadeira. Se analisarmos o argumento, descobriremos que esse alguém já definiu a conclusão nas suas premissas. Por isso dizemos que essa pessoa “argumenta em círculos”. É o caso quando dizemos que “Deus existe, porque Ele é perfeição”. Não podemos partir da ideia de um ser Todo Perfeito para demonstrar a sua existência.

A falácia da causa falsa (post hoc, ergo propter hoc – “Isso aconteceu depois de, portanto foi causado por isso”). Um exemplo famoso: O Império Romano caiu depois do aparecimento do Cristianismo, logo, o Cristianismo causou a queda do Império Romano.

Há mais falácias por aí. É por isso que temos que nos treinar para pensarmos clara e correctamente.

Pe. José Mario Mandía

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