Filosofia, uma dentada de cada vez (16)

O que são os Ilícitos Maiores e Ilícitos Menores?

Deixem-nos continuar com a segunda regra do silogismo categórico.

Regra n.º 2: Nem o termo maior nem o termo menor podem ser universais na conclusão, se houver apenas um termo particular nas premissas. Os termos da conclusão não podem ter extensão maior que os termos das premissas. É bastante fácil entender porque é que isto é assim.

Por exemplo, na premissa de que estamos a falar “alguns cães”, na conclusão não poderemos falar de “todos os cães”. Na linguagem comum, este facto é chamado uma Generalização Precipitada. Tecnicamente, tanto pode ser uma falácia do ilícito menor, ou uma falácia do ilícito maior. Como é que caímos neste tipo de falácia?

Primeiro deixem-nos relembrar o que dissemos sobre os quatro tipos de proposições.

A (afirmativa universal): Cada homem é mortal / Todos os homens são mortais. uS+pP

E (negativa universal): Nenhum homem é um anjo / Todos os homens não são anjos. uS – uP

I (afirmativa particular): Alguns humanos são machos. pS + pP

O (negativa particuar): Alguns humanos não são machos. pS – uP

Agora deixem-nos usar um exemplo de um Ilícito Maior (P):

Todos os gatos são animais (A: uM + pP)

Alguns cães não são gatos. (O: pS – uM)

Alguns cães não são animais (O: pS – uP)

Para se analisar um silogismo categórico é bom começarmos pela conclusão.

A primeira pergunta é: qual é o termo menor, ou sujeito (S), de Alguns cães não são animais (O: pS – uP)? Resposta: “cães”.

A próxima pergunta é: Qual é termo maior, ou o predicado (P), de Alguns cães não são animais? Resposta: “animais”.

A terceira pergunta é: em conclusão, que termo é universal? Resposta: “animais”.

Porque é que “animais” é universal? Já vimos que a conclusão é (O) uma proposição do tipo negativa particular. Na proposição do tipo negativa particular o termo menor, ou sujeito (S), é particular, mas o termo maior, ou predicado (P), é universal. Aqui o termo maior “animais” é universal.

E onde é que está o problema? Conforme vimos acima, na conclusão, o termo maior, ou predicado (P), “animais” é universal, mas na premissa onde o termo “animais” aparece (“Todos os gatos são animais” A: uM + pP), “animais” é particular.

Este é um exemplo de falácia do ilícito maior, porque o termo maior, “animais”, é universal na conclusão, mas apenas particular na premissa. Nós não podemos falar sobre “alguns animais” nas premissas, e depois saltar para “todos os animais” na conclusão. Ficou claro?

Agora consideremos o seguinte exemplo de um Ilícito Menor:

Todos os tigres são mamíferos. (uP + pM)

Todos os mamíferos são animais. (uM + pS)

Todos os animais são tigres. (uS + pP)

O que é que está errado neste exemplo? Também é o termo “animais”, mas desta vez “animais” é um termo menor. Concluindo, o sujeito, ou termo menor, “animais” é universal (estamos a falar de todos os animais), mas nas premissas “animais” é particular (aqui estamos a falar apenas de alguns animais). Não podemos falar de “alguns animais” nas premissas e depois passarmos para “todos os animais” nas conclusões.

Esta falácia é chamada de falácia do ilícito menor.

E agora estudem os dois exemplos que se seguem e descubram qual é o tipo de falácia a que pertencem:

1)

Todos os bons cidadãos são patriotas.

Todos os bons cidadãos são cientistas.

Todos os cientistas são patriotas.

2)

Todos os cachorros quentes são “fast food”

Nenhum hambúrguer é cachorro quente.

Sendo assim, nenhum hambúrguer é “fast food”.

Pe. José Mario Mandía

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