Família e Fé

A arte de cultivar o espírito

Encontrou o rapaz deitado à sombra da árvore. Parecia submergido numa profunda sesta reparadora. Ao seu lado, com algumas azeitonas caídas da oliveira, estava um plástico estendido no chão.

Apesar de ser consciente de estar a prejudicar o seu descanso, não resistiu à curiosidade de lhe fazer uma pergunta:

«– Como é que apanha as azeitonas?».

O rapaz abriu os olhos e, lentamente, espreguiçou-se sem demasiadas cerimónias. Era evidente que não tinha ouvido e foi necessário repetir a pergunta. Por fim, com um ar contrariado, lá se dignou responder:

«– É simples. Primeiro estendo o plástico por baixo das árvores. Depois, vem o vento e faz cair as azeitonas. Por último, junto-as todas nesta velha saca e vendo-as no mercado da vila».

«– E se por acaso não houver vento?», insistiu com desejos de aprender.

«– Se não houver vento? Hum!… Mau ano para apanhar azeitonas».

Nos dias de hoje não é difícil encontrar pessoas que, como este rapaz, se deixam levar sempre pelo caminho do mais fácil.

Não é uma simples manifestação de preguiça. Às vezes, corresponde mais a uma filosofia de vida muito em voga – pensar que qualquer esforço não prazenteiro é negativo por definição.

Só se admite o esforço no caso de proporcionar um bem-estar imediato. Se assim não for, não vale a pena esforçar-se.

Quando esta atitude afecta os jovens, o assunto é mais sério.

É próprio da juventude olhar para o futuro com entusiasmo e com o desejo de fazer coisas grandes. É próprio da juventude não se conformar com a realidade das coisas e procurar melhorá-las. É próprio da juventude a aversão a tudo aquilo que cheire a imobilismo ou aburguesamento.

Por isso, se os jovens adoptam na sua vida a ideia de que qualquer esforço não prazenteiro é negativo, perdem a juventude interior. Apaga-se o entusiasmo e desaparece do seu horizonte a esperança de viverem num mundo melhor e mais humano.

Na tarefa educativa dos mais jovens, é necessário voltar a transmitir a verdade de que nada que valha a pena nesta vida se consegue sem esforço. Uma pessoa não constrói nada deixando-se arrastar pelo mais fácil.

Para que os jovens entendam isto é indispensável que saibam cultivar na sua vida uma sólida formação cultural. Que procurem livremente e com iniciativa dedicar um tempo real à leitura de bons livros.

A formação cultural, que exige um esforço sério e constante, possui um enorme peso na configuração e exercício da inteligência humana. É a compreensão profunda do significado da realidade que nos rodeia.

Não convém esquecer que a palavra cultura está intimamente relacionada com o verbo latino “colo”, que significa cultivar.

A cultura é a arte de cultivar o espírito, assim como a agricultura é a arte de cultivar a terra.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria 

Doutor em Teologia

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