Família e Fé

A má-educação

Certa vez, dizia um jovem cheio de vitalidade: Sabe, nós, a nova geração, não somos hipócritas. Dizemos o que pensamos, sem duplicidades nem “palavras bonitas”. Somos sinceros e autênticos.

Acho que isto é profundamente natural. As pessoas mais velhas deviam aprender connosco. Acabavam de vez com fingimentos e falsidades. Neste mundo com tendência para a hipocrisia, nós, a gente nova, não conseguimos respirar bem.

Na sociedade actual, existe uma grande sensibilidade pela virtude da sinceridade.

Isto é algo positivo. Esta sensibilidade, muitas vezes, nasceu como uma reacção lógica a uma educação que se centrava demasiadamente no comportamento exterior. As pessoas davam-se conta de que, o modo de comportar-se diante dos outros, não correspondia, com frequência, ao modo de pensar.

E isto era aceite por muitos de um modo pacífico. Mesmo que significasse deixar de lado valores tão importantes como a espontaneidade, a naturalidade e a ausência de qualquer tipo de fingimento.

Tinha de ser obrigatoriamente assim e não havia nada a fazer. Aqueles que pensassem de um modo diferente eram rotulados como mal-educados.

No entanto, ser sincero não significa o mesmo que ser selvagem.

A agressividade no modo de falar e actuar não são sinónimos de ausência de hipocrisia, mas sim de ausência de educação.

É interessante verificar que, frequentemente, com a desculpa de serem sinceras, certas pessoas acabam por ser grosseiras. Falam de um modo arrogante e deixam-se levar por uma tendência exibicionista. Orgulham-se de dizer todas as verdades sobre aquilo que pensam, mas não estão dispostas a ouvir nenhuma verdade vinda dos outros.

Podemos ser educados e, ao mesmo tempo, não cairmos na hipocrisia.

Como diz Alfonso Aguiló, a sinceridade não é uma simples incontinência verbal. É verdade que devemos dizer sempre aquilo que pensamos – o contrário seria ausência de clareza ou transparência. No entanto, sem deixar de sermos sinceros, devemos também pensar antes naquilo que vamos dizer.

Pensar antes de falar é uma manifestação de estima por aqueles com quem falamos.

A ausência de respeito não aumenta a sinceridade de uma pessoa. Torna-a, isso sim, uma pessoa desagradável.

Hoje em dia, podemos verificar que a exaltação da sinceridade e, simultaneamente, o desprezo pela boa educação, não parecem ter produzido frutos muito positivos.

A verdadeira educação humaniza o ser humano e ajuda-o a ser sincero. É falso pensar que educar uma pessoa é enchê-la de hipocrisias.

Alguém disse, e com razão, que a má-educação sincera, não é pelo facto de ser sincera, que deixa de ser má-educação.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria 

Doutor em Teologia

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