O aspecto central da educação
Em certa ocasião, ouvi um pai de família afirmar o seguinte: «Educação e liberdade são conceitos incompatíveis na prática do dia-a-dia familiar. Pode haver uma compatibilidade teórica – defendida, talvez, por aqueles que escrevem artigos para os jornais e nunca educaram ninguém na sua vida. Esses idealistas da educação fazem-me lembrar os que mandam bitates para dentro das quatro linhas – e nunca deram um pontapé numa bola de futebol!
No entanto, nós, que estamos no “terreno”, sabemos – por experiência própria, não pela teoria – que educar limita a liberdade dos nossos filhos. E digo-vos uma coisa que já me dizia o meu pai: “Acho muito bem que limite”.
Se não fosse assim, eles só fariam aquilo que lhes apetecesse. Seria o caos familiar. O fim do lar-doce-lar. A guerra sem trincheiras lá em casa! Por isso, digo claramente aos meus filhos: “Serás verdadeiramente livre quando saíres desta casa. Quando fores independente economicamente. Até lá, rapaz, farás aquilo que eu e a tua mãe te dissermos e acabou-se a conversa”».
Não concordo absolutamente nada com este modo de entender a educação. Também é bom ter em conta que pertenço à vilipendiada classe de sujeitos que gostam de escrever artigos para os jornais. Aproveito a ocasião para lançar algumas ideias sobre esta temática.
Educação e liberdade não só são conceitos completamente compatíveis, como o primeiro (a educação) não existe de verdade se não se respeita o segundo (a liberdade). “Ensinar a usar bem a liberdade” não parece ser um pequeno “detalhe” da educação, mas sim o seu aspecto central. Que significa isto?
Significa que, para educar de verdade, é fundamental ajudar os filhos – os alunos – a fazerem o bem não só porque está mandado, mas, sobretudo e principalmente, porque entendem que é o melhor para eles. Está mandado porque é o melhor para eles e não ao contrário. Se o contrário fosse verdadeiro, cairíamos na arbitrariedade e perderíamos nesse preciso momento a autoridade que possuímos para educar. A autoridade que os pais possuem tem como fim indicar o bom caminho aos filhos. Ensiná-los a usarem bem esse dom maravilhoso – e perigoso, se mal utilizado – que se chama liberdade.
Esta afirmação possui consequências óbvias. Na educação, temos de dar razões – de acordo com a idade e as capacidades das crianças e dos jovens – para que eles possam interiorizar a bondade daquilo que se lhes indica. Que eles constatem que o que lhes dizemos não procede do nosso capricho – não é algo arbitrário – porque possui uma estreita relação com a verdade das coisas e das situações. Deste modo – e não de outro – a personalidade do filho fortalece-se. E ele pode crescer maduro, seguro e livre.
Por isso, é uma missão irrenunciável dos pais transmitir – contagiar – um amor à verdade que é sempre a chave para entender o sentido da liberdade. Sem referência à verdade, a liberdade perde o seu sentido – e a educação também. A educação fica reduzida a mera transmissão de opiniões – todas elas igualmente válidas!
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
Doutor em Teologia