Construir um casamento sólido
«Penso assim desde os meus 14 anos. Já nessa altura, pude observar – na escola em que estudava – onde conduzia a frivolidade sexual de muitas amigas minhas. Mesmo estando em plena adolescência e sentindo dentro de mim uma certa “tendência hormonal” para a rebeldia, sempre pensei que a liberdade sexual que mais desejava era estar um dia felizmente casada e bem casada. Graças a Deus, é o que acontece hoje em dia».
São palavras de uma jovem advogada durante um debate televisivo há uns anos atrás. Falava de modo natural, claro, sem pretensões de impor a ninguém os seus valores. Simplesmente respondia – com um estilo um pouco introvertido, talvez devido à delicadeza do tema e à consciência de estar a falar diante das câmaras de televisão – às perguntas que lhe fazia o moderador desse debate.
«Pensava – embora tivesse uma certa vergonha de comunicar a qualquer pessoa esta minha convicção – que devia guardar-me para o matrimónio. Era um pensamento íntimo e livre. Não era nenhum tabu. Nem me sentia “reprimida” por não dar rédea solta às minhas tendências mais instintivas. Entendia – e continuo a pensar assim – que orientar essas tendências para o fim natural que elas possuem (a constituição de uma família) não me tornava uma pessoa anormal. Não me sentia menos mulher do que as outras que actuavam de um modo diferente, muito pelo contrário. Exigiu esforço manter-me fiel aos estes princípios? Sim, exigiu. Sobretudo o esforço de nadar contra a corrente. Algumas vezes, até tive a impressão de ser um pouco “exagerada”. Mas, agora, com o passar dos anos, não tenho dúvidas em afirmar que valeu a pena. Tenho a sensação de ter construído – também com a ajuda do meu namorado, que hoje é meu marido – um casamento sólido».
Viver um namoro de um modo genuinamente cristão não é uma questão de segunda categoria. E o problema não se reduz à gravidez indesejada. O verdadeiro problema é trivializar ou proteger a capacidade de amar.
É verdade que, nos dias de hoje, está na moda defender exactamente o contrário, mesmo entre pessoas que se dizem cristãos coerentes. No entanto, como a própria História não se cansa de nos mostrar, nem sempre aquilo que toda a gente diz ou defende corresponde à verdade, à visão ecológica do ser humano.
Não é muito difícil verificar que, quando se separa o exercício da sexualidade do matrimónio, perde-se facilmente a noção da diferença entre estar casado e não estar. E o casamento não é uma simples e hipócrita cerimónia exterior que não acrescenta nada ao nosso amor – declaração que, recentemente, ouvi a um par de pombinhos.
Casar-se é comprometer-se por amor. É evitar, entre outras coisas, que a entrega da mútua capacidade de amar seja uma aventura provisória, sem compromissos, enquanto se está à espera de que apareça alguém melhor.
Desejar uma pessoa não é a mesma coisa que amá-la. Por isso, quem ama de verdade uma pessoa deseja casar-se – comprometer-se para sempre – com ela. Penso que não é necessário ser cristão para entender estas afirmações. Elas estão inscritas no coração dos homens e mulheres de boa vontade.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
Doutor em Teologia