ESTREIA DE FILME BIOGRÁFICO SOBRE O SANTO ANDRÉ KIM TAEGON

ESTREIA DE FILME BIOGRÁFICO SOBRE O SANTO ANDRÉ KIM TAEGON

A vida de um cristão exemplar

Escrito e realizado pelo cineasta Park Heung-shik e co-produzido pelo centro cultural católico coreano “Alma Art”, estreou no passado dia 30 de Novembro, nas salas de cinema da Coreia do Sul, um filme biográfico sobre o Santo André Kim Taegon. “Birth” é uma longa metragem que nos traça a biografia do primeiro padre católico e mártir da península coreana, e isto, um ano após as comemorações que assinalaram os duzentos anos do seu nascimento.

“Birth” teve ante-estreia a 16 de Novembro, no Vaticano, no novíssimo Synod Hall, e na ocasião o Papa Francisco pôde encontrar-se pessoalmente com todo o elenco (o popular actor Yoon Shi Yoon interpreta o papel do Santo) e equipa técnica na sala de audiências “Papa Paulo VI”.

Durante o encontro – informa a Catholic Peace Broadcasting Corporation da Coreia (CPBC) – o Papa considerou uma verdadeira bênção esta abordagem à vida e obra de tão exemplar cristão, «lindo como ser humano». Também Choo Kyu-ho, o embaixador coreano no Vaticano presente no evento, se pronunciou positivamente sobre a película, pois esta enfatiza a liberdade e a dignidade humanas, questões que «todos os povos do mundo» devem ter em conta e por elas porfiar.

Em declarações à agência noticiosa UCAN (Union of Catholic Asian News), o padre Paolo Lee Yongho, reitor do Santuário de Solmoe, terra natal de André Kim, lembrou o pioneirismo deste na defesa da dignidade do Ser Humano. André Kim pugnou pela igualdade de todos os homens e mulheres no seio de uma sociedade profundamente marcada por estritas e intransponíveis barreiras sociais e pagaria a “ousadia” com a própria vida.

Há duzentos anos, toda a península coreana encontrava-se sob o domínio da Dinastia Joseon, uma sociedade feudal totalmente fechada ao mundo exterior. O Cristianismo fôra aí introduzido, ainda no Século XVI, e tal como acontecera no Japão, seria imediata a sua popularidade. Livros escritos com caracteres chineses pelos missionários do Padroado funcionavam como principais veículos de difusão do novel culto, e, só muito mais tarde, em 1784, surgiria a primeira capela católica. Sentindo-se ameaçados – pois o Catolicismo recusava o culto dos antepassados, pedra angular das culturas asiáticas, como bem se sabe – os soberanos da Dinastia Joseon trataram de o proibir. Neste contexto nasceu André Kim, em Agosto de 1821, filho de pais conversos e com um bisavô e tio-avô martirizados, em 1814 e 1816, respectivamente. A situação de clandestinidade não esmoreceu a fé e determinação desta família, antes pelo contrário. Não admira, pois, que André tenha estado na mira (juntamente com outros dois jovens, todos com quinze anos de idade) dos padres franceses das Missões Estrangeiras de Paris que, entretanto, se tinham secretamente infiltrado na Coreia e contactado com os cristãos “subterrâneos”. A ideia era enviar estes jovens para Macau, onde seriam preparados para o Sacerdócio. E foi o que aconteceu, em Março de 1837. A viagem durou três meses.

O filme “Birth” tem como pano de fundo a primeira Guerra do Ópio, que entretanto espoleta, e retrata a estada de André em Macau (hoje imortalizado numa estátua no Jardim de Camões), a sua partida do enclave a bordo do navio francês Raphael e a chegada à Manchúria, onde passaria vários anos antes de regressar ao seu país. Nesse mesmo ano, cruzaria de novo o Mar Amarelo até Xangai, onde foi finalmente ordenado sacerdote. De volta à Coreia, o padre André tudo fez para proporcionar a entrada de mais missionários pela via marítima, evitando assim as patrulhas de fronteira. Por esse motivo foi preso, acusado de proselitismo, torturado, e finalmente decapitado junto ao rio Han, nas imediações de Seul.

André Kim sempre pregou a fé em Deus e nunca teve medo de se opor à sociedade feudal. Esta postura é hoje, «neste nosso sistema económico e social marcado pelas desigualdades e o desrespeito da vida humana», lembra o padre Lee Yongho, «mais do que nunca relevante».

O Santo André Kim foi um dos primeiros coreanos a ver mundo e a alertar para a necessidade do conhecimento académico e do intercâmbio entre culturas. Estudou em Macau vários idiomas, desenhou um mapa do Reino de Joseon, dando desse modo a conhecer ao mundo os lugares da sua terra, e com os missionários franceses aprendeu medidas para prevenir epidemias, como a cólera e a varíola.

As filmagens de “Birth” tiveram início a 6 de Dezembro de 2021, e foram efectuadas em diferentes locais históricos da península e da ilha de Cheju (Jeju). Espera-se que o filme seja um enorme sucesso de bilheteira, pois, não esqueçamos, vivem na Coreia do Sul mais de 5,8 milhões de católicos, o que constituiu dez por cento da sua população. Entre as nações, a Coreia possui o quarto maior número de santos e é uma das Igrejas mais fortes da Ásia.

Em 6 de Maio de 1984, durante a sua visita à Coreia do Sul, o Papa João Paulo II canonizou André Kim, juntamente com outros 102 mártires coreanos. Foi a primeira canonização realizada fora do Vaticano.

Joaquim Magalhães de Castro

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