A tripulação do Dee viajou para a Europa num voo da “low-cost” TUI, com destino a Amesterdão, na Holanda. Dali viemos de carro porque não queríamos que o Noel fosse submetido a outra viagem de avião. Para além de serem traumatizantes para os animais as viagens em locais confinados e sob uma atmosfera pressurizada, não seria fácil encontrar uma companhia aérea que transportasse um buldogue francês para Portugal a partir da Holanda. Decidimos então arranjar um carro e conduzir em direcção a terras lusas. Tínhamos como plano inicial alugar um carro no aeroporto da capital holandesa e depois fazer a viagem rumo a Mira, no distrito de Coimbra, mas ao saber dos nossos planos e preocupado com o facto de estarmos cansados da viagem e de todo o “stress” que envolve o nosso regresso temporário, o meu irmão achou por bem ser ele a alugar uma carrinha em Portugal e ir-nos buscar ao aeroporto. De início a ideia não me agradou, mas após alguma insistência e olhando bem para os argumentos, considerámos ser a melhor decisão.
À chegada, no aeroporto, estava o meu irmão, a minha mãe e uma amiga de longa data da NaE que é casada com um holandês e que vive numa cidade não muito longe do aeroporto. Foi bom ver caras conhecidas depois das últimas semanas (desgastantes) nas Caraíbas.
Os derradeiros dias em Curaçao foram passados na preparação do Dee para uma longa estadia em doca seca. Retirámos tudo do exterior, excepto o que não foi possível, como a cobertura do poço com os painéis solares, as adriças e outros cabos, e o corpo do gerador eólico. O bote também ficou no exterior do veleiro com o casco a servir de cobertura ao motor de fora de bordo.
No interior encontrámos lugar para quase tudo. O quarto da Maria passou a ser uma enorme arrumação, onde estão o bote salva-vidas, velas, almofadas e caixas de mil e uma coisas. O que não coube, como o pau de balão e uma antena VHF – encontrámo-la no último dia, estando quase a ir para o lixo – ficou no corredor, entre o quarto de popa e a sala de estar.
A pequena viagem, de apenas duas horas, entre o ancoradouro de Spanish Waters e a Curaçao Marine, em Willemstad, foi feita apenas a motor porque o vento decidiu não aparecer. Contámos com o auxílio do capitão Jorge, do catamaran português El Caracol, e de Misha, capitão do veleiro austríaco Sailor Moon. Deram-nos uma ajuda preciosa na manobra de aproximação ao pontão da marina onde o Dee atracou, dois dias antes de ser retirado de água. Aos dois deixo aqui o meu agradecimento público.
O plano inicial era seguir um dia antes do previsto para retirar o veleiro para a doca seca, mas devido a uma greve geral agendada pelos sindicatos de Curaçao decidimos antecipar a saída e zarpar mais cedo, pois temíamos que a ponte movediça, localizada à entrada da capital da ilha, não abrisse. No dia da greve, já instalados na marina, ficámos a saber que a ponte estava a ser aberta e fechada para os barcos passarem mas, como diz o ditado, mais vale prevenir do que remediar.
Com tempo extra na marina fomos organizando os trabalhos de preparação do barco com mais vagar e na sexta-feira retirámo-lo da água, sem qualquer contratempo. Eram três da tarde quando deixámos o Dee no local onde vai passar os próximos meses, à espera que regressemos de Portugal com a saúde da NaE restabelecida e prontos para mais umas etapas na viagem da nossa vida.
Agora, já na Europa, espera-nos um processo que será um desafio para todos, tanto a nível físico como emocional. Em especial para a minha mulher que, apesar de ser uma fonte inspiradora no que diz respeito à paixão pela vida, vai precisar de todo o nosso apoio. Por isso a decisão de virmos para Portugal onde teremos o apoio da família e dos amigos durante o complicado tratamento que vai ter de enfrentar. Com muita fé em Deus e na medicina, esperamos que tudo se resolva e que a NaE possa sair desta etapa ainda mais fortalecida. Quanto a mim, ela sabe que conta com todo o meu apoio.
Por agora, este é o último artigo sobre a nossa viagem. A minha colaboração n’O CLARIM irá manter-se, embora noutros moldes.
Quanto à viagem, assim que o problema de saúde da NaE estiver resolvido e os médicos digam que está livre de qualquer perigo, será retomada no mesmo local onde ficou suspensa. De Curaçao, depois de prepararmos o barco para regressar à água, seguiremos directamente para o Canal do Panamá, com o intuito de atravessarmos o Pacífico. O nosso objectivo mais imediato, assim que retomarmos a viagem, será chegar ao Sudeste Asiático, mais concretamente à Tailândia, onde pretendemos ficar um ano (ou mais). Queremos que a Maria tenha a oportunidade de estudar e conviver com crianças tailandesas da sua idade e assim aprender mais da cultura que faz parte de metade do seu código genético. Durante a nossa estadia em Portugal irá frequentar a escola para aprender a língua e a cultura do pai. Na Tailândia terá a oportunidade de aprofundar os conhecimentos do lado materno.
JOÃO SANTOS GOMES