É a hora!

Há uns anos, ouvia-se as pessoas dizer que um dia teríamos de voltar a apostar na terra e que seríamos forçados a valorizar de novo as hortinhas, os mealheiros, o caseiro. Agora, vê-se por aí, ora na versão mais cosmopolita, ora na dimensão mais rural, a proliferação do tradicional, das pequenas hortas no meio da cidade, para aproveitamento de terrenos vazios, a ida a casa da mãe ou da sogra, trazendo no regresso os legumes muito desejados, os trabalhos de costura artesanal, entre muitas outras coisas que dão razão aos que outrora já o anunciavam.

Neste momento, parece que se começa a tomar consciência do problema da falta de natalidade, devido a uma série de factores, mas também devido à erosão da realidade. Ao longo deste tempo, foram-se desprezando os valores e a família, para dar origem às competências, ao “carpe diem”, mas pelo caminho não percebemos que caminhávamos para o abandono dos mais idosos, para a rejeição das vidas que não chegam a sê-lo ou que chegam mas não são bem recebidas, para a incapacidade de resolução de problemas como a criminalidade e a delinquência, para o desprezo pela deficiência e pela pobreza.

Prevejo, na linha do que se vai falando por aí, que brevemente teremos de voltar a apostar na família. A Igreja sempre o defendeu. Nestes últimos tempos, fê-lo de forma muito intensa e o Papa Francisco continua a insistir – o tema da família encontra-se no centro duma profunda reflexão eclesial, que resultou em dois Sínodos, um extraordinário e outro ordinário.

A família é tão importante porque é o primeiro lugar onde o eu é Eu, onde se conhece o amor, onde se comunica, onde se vive. É o princípio, o meio e o fim de toda a nossa vida terrena, como tão bem diz o Papa. De facto, desde o ventre, passando pela aprendizagem da língua materna, pelo diálogo dos afectos, pela procura de soluções, pela experiência do perdão, pelo apoio na doença, tudo é na família, tudo é família.

E não abandonando as palavras pontifícias, o convite é claro. Não podemos deixar que se trate a família como uma entidade abstracta, uma espécie de nuvem. Não. Não podemos continuar a apostar em consumir tudo e mais alguma coisa e deixar que o virtual nos governe em nome do lucro, em nome não sei do quê. O Papa Francisco, de uma forma muito clara mas muito bonita, convida-nos a narrar a história da nossa vida entrelaçada nas vidas do que amamos, dos que nos rodeiam.

Agora que encontrámos a alegria de Jesus Ressuscitado, é a hora de voltar a acertar na melodia, e de descobrir o que sempre esteve aqui, nós é que decidimos olhar para longe.

A família mais bela, protagonista e não problema, é aquela que, partindo do testemunho, sabe comunicar a beleza e a riqueza do relacionamento entre o homem e a mulher, entre pais e filhos. Não lutemos para defender o passado, mas trabalhemos com paciência e confiança, em todos os ambientes onde diariamente nos encontramos, para construir o futuro.

Rita Gonçalves 

Professora

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