DOMINGO DE PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR – Ano B – 31 de Março

DOMINGO DE PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR – Ano B – 31 de Março

O amor que vence a morte

A guerra na Ucrânia e no Médio Oriente ameaça alastrar-se; milhares de famílias são separadas pela violência de um mundo que esquece, cada vez mais, que somos todos irmãos e irmãs. As palavras do Papa Francisco sobre solidariedade nas suas encíclicas “Fratelli tutti” e “Laudato si” parecem um grito no deserto…

A Europa parece ter renunciado às suas raízes cristãs, apostando naquilo a que São João Paulo II chamou “cultura da morte”. Foi o próprio Papa que, na sua primeira visita a França, em 1980, perguntou profeticamente: «– França, filha mais velha da Igreja, que fizeste do teu baptismo?». O mesmo país acaba de inscrever o direito ao aborto na sua própria Constituição. Por outras palavras, o genocídio de criaturas anónimas sacrificadas aos ídolos do conforto, do prazer e do individualismo.

Diante de tal situação de indiferença e egoísmo, que atitude devemos ter nós, seguidores de Jesus, membros do corpo de Cristo, da Igreja que ele construiu?

Algo semelhante aconteceu com os primeiros discípulos de Jesus. Eles tiveram de enfrentar um mundo hostil e até cruel: o seu mestre havia sofrido uma morte humilhante e terrível!

João inicia o relato, dizendo: “No primeiro dia da semana…”. É com a ressurreição de Jesus que começa uma criação! É no Domingo que celebramos este grande acontecimento que mudou o curso da História da Humanidade.

Tal como Maria Madalena, a comunidade dos discípulos estava nas trevas «ainda era escuro» (Jo., 20, 1). As trevas simbolizam uma ideologia fatalista, contrária à vida. Nós, Igreja peregrina, duvidamos por vezes que o autor da vida esteja vivo neste mundo cheio de ódio, rancor, violência e impunidade.

A mulher que amava muito Jesus vai de manhã cedo ao túmulo e, quando chega, descobre que a pesada pedra que tinha selado a morte do mestre havia sido removida! Quantas vezes o túmulo é mencionado nesta passagem! Mas é um túmulo vazio, a primeira evidência da ressurreição do Senhor, que os discípulos não souberam interpretar (cf. Lc., 24, 22).

Maria representa a comunidade dos discípulos desconsolados: a ausência do seu Senhor deixa-os totalmente desamparados! A Igreja nascente grita como a esposa do Cântico dos Cânticos: «De noite, procurei o amor da minha alma… e não o encontrei» (Cântico 3, 1). Em vez de alimentar a esperança, pensa que as forças hostis roubaram o cadáver de quem estava vivo. Quanto somos pessimistas quando nos vemos perseguidos e derrotados no nosso testemunho de vida, como Igreja de Cristo! O mesmo acontece quando vemos muitos jovens abandonarem a sua fé e pessoas consagradas provocarem escândalos que a tantos desanimam…

E podemos pensar que não nos resta outra alternativa senão correr aterrorizados como Maria Madalena. Ela correu primeiro para Simão Pedro, mas depois também para contar ao outro discípulo que vivia com a mãe de Jesus (cf. 19, 27). Ambos correm também, agora na direcção do túmulo. O discípulo amigo de Jesus, movido por um amor mais puro, corre mais depressa (cf. Sl., 119, 32), e embora chegue mais cedo, sabe esperar. Não se deixa levar pela emoção, nem se atreve a julgar Pedro por ter negado o Senhor. Pelo contrário, tem a deferência de o reconhecer como chefe e de o deixar entrar primeiro. «O amor é paciente e bondoso, não é invejoso nem orgulhoso», como diz São Paulo em 1Cor., 13, 4.

Pedro entra e vê as ligaduras e o sudário enrolados num lugar à parte. É exactamente o mesmo que o amigo de Jesus viu quando entrou, mas este viu e acreditou!

Qual é a diferença para Pedro? Aquele que aprendeu a amar como Jesus tem a sensibilidade de ler os sinais da presença do amado. Ao contrário de Lázaro, que saiu do túmulo «morto», com «os pés e as mãos atados com ligaduras e o rosto envolto numa mortalha» (Jo., 11, 44), Jesus saiu do túmulo livremente, deixando para trás os laços da morte. Quando o Senhor ressuscitou, teria deixado os lençóis na cama onde se tinha deitado e, quando se levantou, teria deixado noutro lugar o sudário sobre a cabeça. A teoria do roubo do cadáver, proposta por Maria Madalena, já não era plausível. Parece simples e despretensioso, mas foi o suficiente para que o discípulo amado acreditasse.

Como comunidade de discípulos, nós, na Igreja, somos chamados a renovar a nossa fé n’Aquele que está vivo e que, pela sua ressurreição, renova a nossa existência. É a fé que, como diz São Paulo, «actua pelo amor» (Gal., 5, 6); o amor a Nosso Senhor abre os nossos olhos para descobrir a sua presença viva através de sinais simples e pobres.

A vitória de Cristo sobre o pecado e a morte é também o nosso triunfo! Neste Domingo de Páscoa, em Macau, são baptizados dezenas de catecúmenos que se prepararam durante meses graças à dedicação dos seus catequistas. São famílias que se juntam à comunidade de testemunhas da ressurreição num mundo sedento de Deus.

Feliz Páscoa!

Pe. Eduardo Emilio Agüero, SCJ

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