Avós também são família

DOIS MIL QUILÓMETROS PARA UMA VISITA

Avós também são família

Na semana passada decidimos que seria esta a altura ideal para uma escapadela de meia-dúzia de dias a Portugal, com o objectivo principal de visitar a minha mãe. A recuperação ao acidente vascular cerebral, que sofreu no Dia de Finados de 2021, continua penosa e lenta de mais para os nossos ensejos. Contudo, em contra-corrente, agarramo-nos ao facto de ter sobrevivido a este infortúnio. Agora, com a graça de Deus, irá recuperar, e dentro dos possíveis ter uma vida digna e independente. De momento já fala, se bem que muito baixinho; consegue mastigar sólidos, tem autonomia nos membros superiores, embora infelizmente ainda não se consiga mover de forma a caminhar. Mas com fé e com tempo também isso será reposto. Quanto às suas capacidades cognitivas e intelectuais, felizmente parece não ter sido muito afectada, à excepção das reacções serem mais lentas do que quando estava de plena saúde. Continuamos sempre a acreditar e a regressar com mais esperança após cada visita.

Aproveitámos, pois, as mini-férias de Carnaval da Maria e o fecho por uns dias do restaurante onde trabalha a NaE – este pela mesma razão: as mini-férias de Carnaval dos filhos dos proprietários – para nos metermos no nosso carro e conduzirmos dois mil quilómetros até Portugal. Uma viagem que leva quase 24 horas a ser completada, já incluindo uma pequena paragem para dormitar e repor forças, principalmente as do condutor… É que os anos já pesam quando se trata de viagens deste tipo. No veleiro fazia noitadas seguidas ao leme, mas aí tinha piloto automático e podia ir com um olho aberto e outro fechado, para além de não haver trânsito ou estradas para me preocupar. Infelizmente, devido a problemas de visão, a NaE não pode ajudar nestas viagens longas e cansativas, e à Maria ainda lhe faltam mais uns anos para ter carta de condução.

Apesar de ter iniciado esta crónica com a palavra “mini-férias”, a verdade é que a viagem a Portugal de férias nada teve!

Chegados no sábado, tivemos o Domingo para descansar. Na segunda-feira, a NaE teve de ir a Lisboa e eu fui tratar de vender a auto-caravana, o que nos levou o dia inteiro. A terça-feira foi reservada à minha mãe. Só eu a fui visitar, pois não foi autorizada a entrada à Maria e à NaE. À Maria por ser menor, e à NaE porque apenas autorizam uma visita por cada paciente, uma vez por semana. De nada serviu o meu pai tentar convencê-los, dizendo que vínhamos de propósito do estrangeiro e de eu quase implorar para que deixassem a avó ver a neta. Pelo menos a neta considero que é importante para a minha mãe. Pergunta pela Maria todas as vezes que recebe visitas, sendo que muitas vezes entra “online” – com a ajuda de outras pessoas que também a visitam – para que nos possa ver, e reage muito bem. Claro está que também fica triste e chora quando vê a neta, porque as saudades são muitas. Mas também quem são os avós que não se comovem quando vêem netos que estão longe? Com todos os netos tem uma ligação muito forte, especialmente com a Maria, por ser a mais nova.

No final da visita, que exigi que fosse feita no espaço reservado aos acompanhantes – tem uma vidraça que permiti a outros familiares estarem igualmente presentes na visita –, consegui que a Maria entrasse à socapa para dar o tão desejado abraço e beijinho à avó. Só ver a felicidade na face de ambas e a dificuldade em desfazer o abraço, valeu a pena correr o risco de ser proibido de a voltarmos a visitar. Acredito sinceramente que o facto da neta tocar à avó é muito bom para a sua recuperação. Acontece que a cegueira “pandémica” dos responsáveis é mais forte e não os consegue demover perante este tipo de situações.

No dia seguinte, quarta-feira, rumámos a Coimbra para a consulta médica anual da NaE. Acabou por ser um dia inteiro junto dos excelentes profissionais do Instituto Português de Oncologia de Coimbra. Ali realizou todo o tipo de testes e ficámos a saber que está tudo bem. Apesar de ter recebido luz verde para não mais voltar ao Instituto, com a anuência do Dr. Pedro Madeira, oncologista responsável pelo seu tratamento, ficou registado o desejo da NaE de continuar a deslocar-se ao IPO e manter o tratamento diário por mais cinco anos. Mais vale prevenir do que remediar, é agora o nosso moto.

Na quinta-feira, depois de uma correria por causa da mudança do pára-brisas e do compressor do ar condicionado da nossa carrinha, voltámos a encher a bagageira e regressámos ao Luxemburgo, depois de um último almoço com o meu pai. Certo é que deixámos para trás muitas saudades, mas sabemos que ficam bem e que a qualquer momento iremos regressar. Com tanta azáfama, o dia chegou ao fim sem termos comido o leitão da praxe. Ficou para uma próxima oportunidade.

A terminar, gostaria de aproveitar para desejar – se bem que com algum atraso – um Bom Ano Novo Chinês a todos os nossos leitores e amigos. Que o Tigre vos traga um melhor período do que aquele que até agora temos vivido. Especialmente para quem está em Macau, pois com as medidas de combate à pandemia em vigor no território não é fácil visitar familiares e amigos. Todos sabemos que com o passar do tempo a cidade torna-se algo claustrofóbica. A escassez de espaço, nomeadamente de espaços verdes, aliada à pouca oferta cultural que desde 2020 se faz sentir, pode levar a problemas psicológicos, fazendo com que pessoas susceptíveis se sintam deprimidas, sem saber o que fazer.

Um bom ano para todos e que o Tigre seja melhor do que o Rato e o Boi…

KUNG HEI FAT CHOI!

João Santos Gomes

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *