Estamos em St. Lucia e por aqui devemos permanecer até ao final da primeira semana de Novembro, devido ao tempo alteroso que se vai sentindo. Durante toda a semana temos visto barcos a partir e a chegar, mas como viajamos tentando minimizar os riscos é preferível esperar até que o aviso para pequenas embarcações – emitido pelas autoridades marítimas francesas de Martinica – seja levantado. Depois, será mais seguro atravessar o canal. Disto demos conta aos nossos amigos do Gentileza, para no caso de quererem seguir viagem sozinhos.
Assim que chegarmos a Martinica teremos de nos reabastecer de víveres, combustível, e verificar se está tudo pronto para quatro dias de mar alto rumo a Curacao, nas Antilhas Holandesas.
Inicialmente estava previsto pararmos em Bonaire, sendo esta a primeira ilha da cadeia conhecida por ABC (Aruba, Bonaire e Curacao), mas em Bonaire e Aruba paga-se taxas diárias para ancorar ou usar as bóias. Como estamos a tentar economizar, vamos directamente para onde possamos ficar ancorados em segurança e sem encargos extra.
Esperamos fazer a travessia em quatro ou cinco dias. Para tal vamos esperar uma boa janela de tempo que nos dê algumas garantias de mar calmo e tempo ameno, para que tudo decorra com normalidade e sem grandes problemas.
Entretanto, em St. Lucia, tem sido um corre-corre, visitando amigos que aqui vivem ou que passam a maior parte do ano nas embarcações. Afinal, também nós aqui vivemos durante seis meses e muitos dos locais recordam-se de nós, especialmente da Maria. Ela também se lembra daqui ter estado, pois a primeira coisa que disse, quando chegou ao pontão dos botes na marina, foi que queira gelado, apontando na direcção da geladaria onde inúmeras vezes comeu gelados. Infelizmente, quando fomos a caminho da Capitania para dar entrada no País, ao passar pela geladaria, constatámos que a mesma está fechada para obras. A cara de desolação da Maria metia pena. Não a querendo ver triste, principalmente depois de se ter portado muito bem na navegação desde Sofriere, na ponta sul da ilha de St. Lucia, onde pernoitámos, levei-a ao centro comercial onde há uma loja de gelados da mesma cadeia. Não coube de contente quando se viu com o cone na mão. A empregada também a reconheceu.
Nestes dias de muito Sol, mas também de muito vento e alguns aguaceiros bem fortes, que têm servido para recolher a água com que temos lavado a roupa, temos realizado pequenos trabalhos no veleiro.
Havia um parafuso de afinação do leme de vento que estava dobrado. Foi retirado e estamos agora a tentar encontrar um substituto para que o fabricante na Alemanha não tenha de o enviar de propósito. O leme de vento, a pouco e pouco, vai ficando mais apto a funcionar a tempo inteiro, embora, passados quase dois anos, seja complicado confiar plenamente. Espero que mais este pequeno problema seja resolvido antes de iniciarmos a travessia do Pacífico. Será de primordial importância para não estarmos dependentes do piloto-automático que, durante a noite, drena completamente as baterias, se o motor não estiver a funcionar.
A saga do alternador, que muitas dores de cabeça nos tem dado recentemente, teve mais alguns desenvolvimentos. Os motores Perkins, especialmente da idade do nosso (de 1985), são famosos por terem muitas fugas de óleo. Como nunca reconstruímos o motor, apresenta todos os sintomas inerentes, o que dá para contornar se se prestar atenção ao nível do óleo.
O sistema da correia do alternador tem três polis. Uma do alternador, outra de uma bomba de água doce que arrefece o motor, e outra que aproveita o movimento do motor para rodar as outras duas. Parece que o problema está nesta última poli, mais concretamente no vedante que isola o motor. Há uma fuga que permite que o óleo se infiltre na correia, acabando esta por amolecer e quebrar com o calor. A reparação deste e de um outro alternador, que não está a funcionar de todo, vai ser feita em St. Lucia, pois os custos são menores do que em Martinica.
Entretanto, resolvemos um pequeno problema na vela principal. Desde há uns meses que vinha reparando que o primeiro passadouro do mastro, que liga a vela ao mastro, estava danificado. O mesmo é de metal (o único de todos os 24 que a vela tem) e estava ligado à vela por um atador de nylon. Todos os outros estão ligados por anilhas de plástico. Desta vez decidi desfazer-me do atador de nylon e substituí-lo por uma anilha de metal, para que não parta mesmo sob muita pressão. Irá ser testado quando velejarmos para Martinica. Se nada de especial acontecer, ficará como solução final.
JOÃO SANTOS GOMES