Dando poderes aos fiéis leigos

Senhores e Pastores

Pelo baptismo tornamo-nos noutros Cristos (significando “ungidos”) a quem foram concedidas as três capacidades funcionais de Padre, Profeta e Rei. Na semana passada vimos como a nossa capacidade de Reis nos obriga a dominarmo-nos a nós próprios. E essa é uma tarefa difícil. Esse domínio requer muito esforço e perseverança.

Para além de sermos Reis pelo nosso autocontrolo, também somos Reis de outras duas maneiras: (1) administrando o mundo material e (2) sendo pastores e guias de outras pessoas.

Nós temos a tarefa de administrar o conjunto total da criação material de acordo com os desígnios de Deus e fazer uso dessa mesma criação para servir os outros (e não a nós próprios) e dar glória a Deus (e não a nós próprios).

Esta é a missão específica dos fieis leigos na Igreja. É a sua especialidade porque eles “sentem” diariamente o mundo material, porque estão mergulhados nele. O mundo é o seu “habitat” natural, e é aí que eles podem desenvolver melhor a sua vocação cristã. Esse é o seu chamamento – são enviados pelo mundo «para popular a terra e dominá-la; e têm poder sobre os peixes do mar e sobre as aves no céu e sobre todas as formas da vida sobre a terra» (Génese 1:28).

O baptismo confirma os cristãos nessa missão, que foi entregue no início ao ser humano desde a sua criação.

Fala-se muito sobre “dar poderes” aos fieis leigos. Para muitos, isso significa designar-lhes tarefas no seio das paróquias. Mas se fosse esse o caso, a grande maioria dos católicos não teria nada para fazer, porque, normalmente, há muito mais paroquianos do que tarefas a desempenhar numa paróquia. O que acontecerá com os que não têm tempo ou capacidade para desempenhar essas tarefas? Poder-se-á mesmo assim dar-lhes “responsabilidades”?

Ser-se “capacitado” significa receber-se uma forma de autoridade governativa, uma espécie de poder dominante. Mesmo que nem todos os fieis leigos possam desempenhar funções nas comissões paroquiais, todos são capazes de “ter domínio” sobre outras vertentes da criação material, conforme o Génese nos ensina. Assim, existe aqui um maneira prática de dar poder aos fieis leigos. Esta é uma forma realística pela qual eles podem exercer a sua função de Reis: gerindo a terra de forma consciente e responsável. E como podem fazer isso? Por intermédio do seu trabalho quotidiano.

Mas uma pessoa só pode gerir conscientemente e responsavelmente o seu trabalho se, ele – ou ela – souber executar bem as suas tarefas. Um leigo só poderá ter responsabilidades se ele – ou ela – tiver recebido adequada formação profissional e treino no seu local de trabalho. A vocação cristã e a missão de se tornar num Rei requer educação e formação. A formação não é apenas um direito. É uma obrigação.

Gerir a terra consciente e responsavelmente significa que o fiel leigo necessita de se treinar para poder ser professor, médico, contabilista, engenheiro, advogado, agricultor, pedreiro, dono de casa… e pai. Eles devem não apenas conhecer bem a sua fé, também devem continuar a adquirir as capacidades e o conhecimento necessário às suas respectivas ocupações. Necessitam de conhecer bem os aspectos técnicos do seu trabalho e procurarem a perfeição no seu trabalho. Dessa maneira também eles poderão ser mestres nas suas ocupações, mestres da Criação.

Para além disso, o fiel leigo é ainda chamado a ser o pastor de outras pessoas. Esta tarefa, obviamente, destina-se a pessoas em cargos de chefia. No entanto o nosso baptismo aumenta esse mandato a toda e qualquer pessoa que foi baptizada. Ninguém pode perguntar se «serei eu o guardião do meu irmão?» (Génese 4:9). Todos somos responsáveis uns pelos outros.

Qual é a responsabilidade do pastor? Jesus disse: «o bom pastor dá a sua vida pelas suas ovelhas» (João 10:11). Ele põe de parte os seus interesses pessoais, deixa o seu ego para trás, não procura aplausos e recompensas. Todas as suas acções são dirigidas para o bem de quem vive ou trabalha com ele. O Reino é um objectivo elevado que se consegue alcançar apenas por um elevado preço. Estarei eu disposto a pagar esse preço?

«Aquele que é apenas um mercenário e não um pastor, e a quem as ovelhas não pertencem, foge ao ver a aproximação do lobo e deixa as ovelhas; e o lobo ataca-as e dispersa-as. Ele foge porque é apenas um contratado e não se preocupa em nada com as ovelhas» (João 10:12-13). Mercenário é aquele que está sempre a contar quanto já deu e quanto já recebeu. Preocupa-se pouco com os outros e só cuida si próprio. Quando ele “vê o lobo a aproximar-se”, os problemas a surgirem, foge e esconde-se.

O que fez Jesus para ser um pastor? Amou os seus Apóstolos, «Amou-os até ao fim» (João 13:1). E como é que os amou? Rezou por eles, Ensinou-os. Ouviu-os pacientemente. Corrigiu-os sempre que necessário. Perdoou-os vezes sem conta. E sacrificou a sua vida por eles.

O Papa Francisco dá, continuamente, exemplos visíveis do que é ser um bom pastor. Nós admiramo-lo. Estaremos prontos a segui-lo?

No primeiro momento do seu pontificado, a 24 de Abril de 2005, Bento XVI suplicou: «Meus queridos amigos, neste momento apenas posso dizer: rezem por mim, para que eu possa aprender a amar o Senhor mais e mais. Rezem por mim, para que possa aprender a amar este rebanho mais e mais – por outras palavras, a todos vocês, à Sagrada Igreja Católica, a cada um e todos vós juntos. Rezem por mim para que eu possa não fugir com medo dos lobos. Rezemos uns pelos outros, para que o Senhor nos conduza e nós aprendamos a conduzir-nos uns aos outros».

Na Oração e nos Sacramentos o Senhor Jesus, o Primeiro Pastor, transforma-nos. O Papa Bento disse que um encontro com Jesus é uma experiência que muda uma vida. Todos os encontros com Jesus tornam-nos em pastores melhores. Que nós possamos ir a esse encontro mais vezes para que Jesus, o Rei da Paz, possa fazer de nós pastores em conformidade com o seu próprio coração.

Pe. José Mario Mandía

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