Tailandeses atraídos pela língua de Camões.
Quinze alunos tailandeses concluíram o curso de iniciação ao Português na Universidade de Kasetsart, em Banguecoque, com o desejo de continuarem a aprofundar os conhecimentos sobre a língua de Camões. A’O CLARIM, Katipote Sinsoongsud falou sobre o doutoramento que vai fazer na Universidade de Coimbra, Prima Wilaiwong acerca da experiência de estudante que teve em Portugal e o coronel Chaiporn Dechjaroen sobre a missão que vai desempenhar no Brasil.
Katipote Sinsoongsud, do Gabinete do Conselho de Controlo de Estupefacientes, decidiu aprender Português após receber uma bolsa de estudos do Governo Real da Tailândia para fazer o doutoramento em Direito Público na Universidade de Coimbra.
A primeira vez que entrou em contacto com a “nossa” língua foi durante as 39 horas do “Curso de Verão – Português para Comunicação I”, realizado entre 11 de Junho e 30 de Julho, na Universidade de Kasetsart, em Banguecoque. «Foi bastante difícil, mas divertido. Tinha um pouco do básico em Francês, e como são ambas línguas românicas têm estruturas semelhantes», disse a’O CLARIM Katipote Sinsoongsud, de 29 anos.
A viagem para Portugal está marcada para o dia 18 de Agosto, a partir do qual terá muito para descobrir. «Na verdade, só conheço o País através do futebol, em especial do Cristiano Ronaldo. E também apoiei a selecção portuguesa no Euro [de 2016]», confessou.
Então, por que razão não escolheu antes outro país? «O Governo [da Tailândia] deu-me três opções, entre Suécia, Portugal e a Áustria. Tomei a minha decisão porque a língua portuguesa é tão bonita e a Universidade de Coimbra é muito famosa em relação ao curso que vou tirar. O custo de vida também é acessível. E ouvi dizer que os portugueses são muito agradáveis. Estou realmente ansioso», respondeu.
Em Portugal, onde deverá permanecer quatro anos (possivelmente cinco), terá a companhia de Chonnard Sinsoongsud, sua mulher, e da filha de ambos, com um ano de idade. Depois de concluir o doutoramento tem de regressar à Tailândia, onde deverá cumprir pelo menos dez anos de serviço, após os quais terá permissão para trabalhar fora do País.
Prima Wilaiwong, de 20 anos, estuda Inglês e Espanhol na Faculdade de Artes Liberais da Universidade de Thammasat, em Banguecoque. Aos 15 anos de idade foi para Portugal ao abrigo dos Programas Interculturais da AFS. «Fui como estudante num intercâmbio para Portugal. Estive em Lisboa durante dois meses e fui depois para o Porto. No total, fiquei mais ou menos dez ou onze meses. Estou aqui para reavivar o meu Português», frisou, quanto à razão porque se inscreveu no Curso de Verão da Universidade de Kasetsart.
«Adorei a vida em Lisboa e no Porto. Os meios de transportes são realmente bons. Gostei do Metro. E as pessoas são tão engraçadas, pois gostam sempre de fazer piadas», recordou, acrescentando que ainda se lembra de «falar o vocabulário do dia-a-dia» e de «comer bacalhau e Pastéis de Belém».
Prima Wilaiwong também provou os fios de ovos, ou seja, a versão original do “foi thong”, que é uma famosa sobremesa tailandesa. «Julgo que a nossa versão é mais deliciosa», assinalou, lembrando depois que nas aulas de História tomou conhecimento que os portugueses foram os primeiros europeus a estabelecer laços diplomáticos com o Sião, actual Tailândia. «Todos nós aprendemos isso na escola», assegurou Prima Wilaiwong, que tem o desejo de regressar a Portugal, mas terá de aguardar pelo menos mais dois anos até completar os estudos universitários.
Ligação ao Brasil
O coronel Chaiporn Dechjaroen, de 47 anos, da Direcção de Operações Conjuntas do Quartel-General das Forças Armadas da Tailândia, foi selecionado para trabalhar a partir de Outubro, e durante três anos, como adido de defesa em Brasília, capital do Brasil.
«Vou desempenhar as funções de coordenador entre as Forças Armadas da Tailândia e as Forças Armadas Brasileiras. E como não falam Inglês, o meu antecessor aconselhou-me a fazer um curso de Português, dado que as apresentações serão todas em Português do Brasil», explicou Chaiporn Dechjaroen.
Embora seja «bastante fluente em Inglês», tentou «combinar» o que sabia da língua de Shakespeare assim que começou a aprender Português, mas não demorou muito tempo a perceber que «os padrões gramaticais e a sintaxe são bastante diferentes».
«Tenho que aprender a falar o calão brasileiro», atirou, ao reconhecer que o Português do Brasil não é exactamente o mesmo que o Português de Portugal. «Vou contratar um assistente que fale o idioma local. Irá também ser o meu tradutor, talvez durante todo o ano. Para sobreviver preciso saber o que falam. E depois de perceber a língua vou entendê-los, e assim podemos comunicar e trabalhar melhor».
No Curso de Verão, o coronel Dechjaroen procurou entender a língua enquanto aprendia a gramática e vários padrões de pronunciação, com o objectivo de conseguir sobreviver no quotidiano, sendo que está disposto a frequentar um curso avançado.
INTERACÇÃO LINGUÍSTICA E CULTURAL (Caixa)
O “Curso de Verão – Português para Comunicação I”, idealizado pelos professores Yodying Yimlertwong e Manuela Thaler, foi organizado pelo Departamento de Línguas Estrangeiras da Universidade de Kasetsart, tendo contado com a participação de quinze alunos tailandeses.
De acordo com Manuela Thaler, «os alunos foram participativos e mostraram bastante interesse em saber o que é, o que há e onde fica Portugal», adiantando que a Embaixada de Portugal na Tailândia está cada vez mais apostada em promover a cultura e a língua portuguesas, com a realização de vários projectos e eventos no País.
«Para mim é essencial dar a conhecer Portugal e a língua portuguesa num país que “conhece”, realmente, os Estados Unidos, o Reino Unido, a França, a Espanha, a China e o Japão, assim como as línguas dessas nações», sublinhou Manuela Thaler, que reside em Banguecoque desde 2013. Anteriormente esteve na capital tailandesa entre 2001 e 2008.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
em Banguecoque