Padre João Eleutério falou sobre a Maximum Illud
A carta apostólica “Maximum Illud”, promulgada há um século pelo Papa Bento XV, reforçou a dimensão da catolicidade da Igreja, ao reafirmar a importância da diversidade de expressões teológicas, litúrgicas e espirituais como um aspecto central da afirmação da unidade da fé.
Esta ideia foi defendida, na passada quarta-feira, pelo padre João Eleutério na terceira das seis palestras com que a Faculdade de Estudos Religiosos da Universidade de São José assinala o centésimo aniversário da “Maximum Illud”, documento que é visto por muitos como uma pedra angular da Igreja moderna.
Ao promover a indigenização do clero envolvido nos esforços de evangelização, a carta apostólica fez alinhar a Igreja, no entender do padre João Eleutério, com alguns dos fundamentos originais do legado de Cristo. «A ideia de diversidade está nos genes da Igreja», disse o coordenador do programa de doutoramentos da Universidade Católica Portuguesa. «O facto de Jesus ter escolhido doze discípulos para continuar aquilo que é a sua missão, significa que a sua missão continua de uma forma diversa. É a mesma missão, mas continuada por diferentes vozes, por diferentes vidas, por diferentes maneiras de estar», explicou o também professor convidado da Universidade de São José.
Para além de fomentar a indigenização do clero e das próprias expressões litúrgicas com que os pressupostos da evangelização se passaram a materializar, a “Maximum Illud” libertou a Igreja ao retirá-la da órbita dos Estados e do poder temporal. «É importante perceber que a Maximum Illud aparece no rescaldo de vários movimentos que levam às leis de separação entre a Igreja e o Estado em países como França, o Brasil ou Portugal. No fundo, é a Igreja a assumir-se: somos nós, não seremos alguém que está ao serviço de um Estado ou de um Governo», referiu o sacerdote. «Estas duas realidades são muito interessantes. Cem anos depois, a Igreja não tem dificuldade nenhuma em assumir a separação entre Igreja e o Estado, e o clero é completamente diverso. Macau é um exemplo muito concreto deste aspecto: há gente local, mas há também missionários que chegam de outras partes e se fixam cá».
No entender do académico, a “Maximum Illud” antecipa-se em grande medida ao Vaticano II ao deixar claro que o pressuposto da evangelização é uma responsabilidade de todos e não apenas de um pequeno grupo de eleitos. A carta apostólica permitiu, efectivamente, que a palavra de Deus chegasse a todo o lado. «A Maximum Illud aparece num contexto em que ainda há um conjunto de dinâmicas missionárias. Havia presença cristã – presença católica – em territórios como as Filipinas, por exemplo, mas ainda não tinha chegado a todo o lado», lembrou o padre Eleutério.
«A Maximum Illud vai, de facto, gerar um dinamismo missionário que vai fazer com que a Igreja tenha consciência de que a missão é uma responsabilidade de todos», concluiu.
MARCO CARVALHO