Coisas e Loisas

Os nelenses donos de casinos em Macau

Nestes últimos dias temos vivido a emoção de ver a nossa Selecção Nacional de Futebol a preparar-se para o Mundial da Rússia. O nosso primeiro jogo é logo contra a Espanha! A última competição em que Portugal entrou – o Campeonato da Europa, que finalmente ganhámos – foi vivido em Curaçao. Tratou-se de uma experiência única. Juntámos um grupo de portugueses, tailandeses, belgas, brasileiros, austríacos e franceses. Todos sentados em redor da mesa de uma churrasqueira portuguesa. O ambiente foi de festa. No final, até os nossos amigos franceses festejaram com toda a comunidade lusa da ilha holandesa.

Este ano, certamente iremos viver os jogos de Portugal em vários locais, ao sabor dos eventos de “street food” em que vamos participar nos próximos dias. Depois enviarei as respectivas crónicas.

No passado fim-de-semana, num desses eventos, em Tábua, fiquei a saber que há um português que é proprietário de três ou quatro casinos em Macau (!?). Tal foi-me dito pelo dono de uma roulote de cachorros e kebab.

Durante a conversa, tentei usar da imaginação para descobrir algum indivíduo que pela sua proximidade ao sector do Jogo em Macau fosse o tal proprietário de recintos de casinos legais no território. Sinceramente, depois de muito pensar, não me veio ninguém à cabeça que confirmasse a informação.

No decorrer dos três dias do evento fui sabendo que o “magnata” e a sua senhora, ambos na idade dos cinquentas, são muito bem parecidos e frequentam o restaurante “O Francês em Nelas”, quando estão de férias em Portugal. Da senhora consegui obter uma descrição física – é franzina e de baixa estatura. O suposto explorador de casinos é alto e forte, anda bem vestido, sendo de poucas palavras. Segundo o relato, são da zona de Nelas, mas vivem, alegadamente, há dezenas de anos em Macau.

Os donos d’O Francês em Nelas foram nossos “vizinhos” no evento de Tábua, com uma das suas carrinhas de comida. Sendo nós vendedores de um produto que chama sempre a atenção dos nossos colegas de actividade, a conversa era diária, ainda para mais porque o evento não foi nada movimentado. Depois de explicar que tanto quanto eu saiba não há qualquer português (de Portugal) que seja proprietário de recintos de jogo legal em Macau, o rapaz nem queria acreditar. Ficou tão incrédulo que me prometeu que este ano, quando o dito casal se apresentar no restaurante, lhe irá perguntar o nome dos casinos. É que é do conhecimento geral, em Nelas, que tais pessoas têm casinos em Macau…

Expliquei que saí do território em 2014 e que, desde aí, até pode ter havido algum cidadão português que tenha adquirido algum casino. Mas que a ter acontecido seria notícia em toda a Comunicação Social.

Não sei o que acontece com outros residentes de Macau, mas sempre que vinha de férias – e mesmo agora que cá vivo – os meus amigos perguntavam-me se já tinha um casino. Claro que o faziam por graça e em jeito de brincadeira. Eu lá ia dizendo que o negócio estava mau e que tinha passado a “batata quente” para os investidores estrangeiros. Aliás, era daí que tinha vindo o dinheiro para comprar o veleiro. Longe de mim manter um casino em Macau. A risada era sempre a mesma e a história repete-se sempre que encontro amigos que não vejo há algum tempo.

Já o referido casal terá levado a brincadeira um pouco mais a sério, o que levou muita gente a acreditar que seria verdade.

Os donos d’O Francês em Nelas são um amável casal que trabalha incessantemente em três estabelecimentos. Ficou de tal forma decepcionado que no último dia veio dizer-me que iriam perder algum tempo a rever as gravações do sistema de vídeo-vigilância do restaurante para ver se conseguem encontrar alguma imagem do casal de Macau numa das suas visitas no ano passado.

Eu tentei explicar que não tinha qualquer importância e que o melhor era continuarem a alinhar na brincadeira. Até porque, sinceramente, só pode mesmo ser isso. Para mim, não há nada melhor do que alinhar na mentira de alguém quando se sabe que está a mentir com todos os dentes.

Claro que há muitos portugueses na indústria do Jogo em Macau. Alguns deles ocupam lugares de grande destaque e possuem acções das concessionárias. No entanto, daí até serem proprietários de casinos vai alguma distância. Por outro lado, todos sabemos que são muito discretos. Logo, dificilmente acredito que iriam andar no interior de Portugal a vangloriar-se das suas posses.

Ao ponderar a possibilidade de ter havido um equívoco quanto à localização dos casinos, podendo ser o casal detentor de casinos não em Macau mas em Portugal, fui tentar saber quem controla as salas de jogo aqui no burgo.

De acordo com um artigo publicado, em 2012, pelo Diário de Notícias – e desde aí nada mudou – a família Ho continua a reinar também em Portugal.

Diz o artigo: “A família de Stanley Ho – poderosa no mundo do jogo em Macau – controla os três casinos que representam mais de 63% da quota de mercado. Nestes têm como parceiro três membros da família Amorim – uma das mais ricas do País – que controla ainda os casinos da Figueira da Foz e de Troia. A família Violas é dona de cinco casinos no Norte e no Algarve, através da Solverde. Há ainda a família madeirense Pestana, que é proprietária do único casino das regiões autónomas (…)”.

Tudo “gente” que não me parece andar por aí a vangloriar-se de ser detentora de coisa alguma!

João Santos Gomes

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