Diálogo é a melhor via
Na sequência da desobediência civil promovida pelos estudantes e pelo movimento “Occupy Central”, e do braço-de-ferro com o Chefe do Executivo de Hong Kong, C.Y. Leung, O CLARIM quis saber qual a opinião de prelados e sacerdotes da RAEHK sobre o impasse que se arrasta há quase duas semanas na antiga colónia britânica. O bispo Stephen Lee e os padres Dominic Chan e Jay Flandez estão a favor da democracia plena, enquanto o bispo Michael Yeung, embora sem revelar a sua posição, apelou, tal como os outros, à via do diálogo.
O bispo auxiliar da Diocese de Hong Kong, Stephen Lee, disse a’O CLARIM que entende a intenção das pessoas que se preocupam com a sociedade e pedem mais democracia para a RAEHK. Mas entende que a solução para a resolução do impasse da desobediência civil desencadeada pelas manifestações de estudantes e do movimento “Occupy Central”, que têm obstruído várias artérias da cidade há quase duas semanas, passa pelo diálogo pacífico entre as partes envolvidas. Ou seja, por conversações directas entre manifestantes e membros do Executivo local.
«O Governo sempre foi a favor do diálogo, mas como o resultado não esteve de acordo com as expectativas da maioria da população, que gostaria de ver uma verdadeira democracia, e porque agora é mais difícil chegar-se a esse resultado, expressaram a sua opinião, o que é muito apropriado. É uma boa coisa, e até mesmo os estudantes têm essa boa vontade [de lutar pela democracia]», referiu, na passada terça-feira, o também vigário geral da Diocese.
«Esperamos que haja sempre um diálogo pacífico, sem violência de qualquer uma das partes. A China quer uma democracia para Hong Kong, mas não tão rápida como a população está à espera. As duas partes [manifestantes e membros do Executivo] devem sentar-se à mesa e discutir. É a melhor via», acrescentou o primeiro bispo asiático da Opus Dei, em conversa realizada no Centro Católico da Diocese (CCD) de Hong Kong, contíguo à Catedral da Imaculada Conceição.
Já Michael Yeung, bispo auxiliar e vigário geral da Diocese, foi mais contido na curta declaração enviada por correio electrónico: «Não tenho nada a dizer sobre a questão das manifestações, excepto para exortar todos os fieis a orar, orar, orar; e todas as partes interessadas para o diálogo, diálogo, diálogo».
Olhar pelos cidadãos
O sacerdote e vigário geral, Dominic Chan, que também recebeu O CLARIM no CCD, sustentou que «as pessoas estão conscientes que C.Y. Leung obedece apenas ao Poder Central», de modo que colocou a questão: «Então e os cidadãos de Hong Kong?».
«Na qualidade de Chefe do Executivo, C.Y. Leung deve servir os cidadãos», vincou, acrescentando que «o povo de Hong Kong sabe o que pensa, porque por altura da transferência de soberania Pequim prometeu ao mundo que iria haver a política “um país, dois sistemas”». No seu entender, «os cidadãos estão preocupados com o segundo sistema», porque «o primeiro sistema já está garantido», por isso «só estão a lutar pelos seus direitos».
O mesmo padre aproveitou para clarificar a curta mensagem publicada, no último sábado, na página electrónica da Diocese de Hong Kong, que apelava «o mais rapidamente possível, à desmobilização de estudantes e cidadãos que apoiam o “Occupy Central” dos lugares de protesto», e que «para reclamar um genuíno sufrágio universal podemos continuar a lutar de maneira apropriada nos próximos dias».
Assim sendo, começou por explicar: «Não fomos os primeiros a aconselhar as pessoas a seguir por este caminho, porque os reitores da Universidade Chinesa de Hong Kong e da Universidade de Hong Kong, assim como muitas pessoas, já defendiam esta posição». No entanto, «os estudantes fizeram uma boa coisa, porque alertaram os cidadãos para a democracia».
Temendo que possa acontecer cenas lamentáveis de violência que atinjam estudantes e pessoas em geral, Dominic Chan veio agora «confirmar que a mensagem difundida teve por objectivo que isso não venha a suceder, porque os manifestantes já marcaram a sua posição e a via do diálogo será agora a melhor forma» de se chegar a um possível entendimento.
Futuro em jogo
O sacerdote Jay Flandez, da congregação do Verbo Divino em Hong Kong, salientou que «a população em geral, e os estudantes em particular, estão a lutar pelo seu futuro», mas «o perigo pode vir de grupos ou de pessoas manipuladas que até já estejam entre os manifestantes», por forma «a perturbar, ou distrair, quem se bate pela democracia».
Além disso, não esqueceu de apontar o dedo a quem tem como objectivo procurar «o poder, o protagonismo ou ser conhecido», o que na sua óptica se «distancia do objectivo puro das manifestações». Por fim, «as pessoas de Hong Kong têm o fundamento básico de se expressar socialmente», mas na qualidade de cristão disse que «é necessário haver um diálogo pacífico entre as partes».
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
Em Hong Kong