CISMAS, REFORMAS E DIVISÕES NA IGREJA – CLI

CISMAS, REFORMAS E DIVISÕES NA IGREJA – CLI

Os Amish – VI

Afinal, os Amish estão também a “abrir-se” ao mundo. Um pouco, ou poucos, mas há sinais. Muitos opõem-se, mas a semente já foi lançada à terra. Os serviços “online” são já uma realidade para alguns Amish, empresários, principalmente fabricantes de móveis, que aderiram a esta ferramenta para competir com mais eficiência no mercado. Como a presença de um Amish na “Web” geralmente é reprovada pela “ordnung”, os Amish que desejem estar “online” normalmente fazem-no através de terceiros, geralmente pessoas não-amish, que configuram e operam o “site” da empresa amish.

Do ponto de vista nominal, não estão na “Web”, mas na prática estão e aproveitam alguns dos seus recursos. Assim, têm como que uma camada de isolamento, ou a sensação de tal. E, simbolicamente, mantêm-se coerentes em relação ao preceito dos amish de considerarem inaceitável o uso da Internet e das tecnologias. Utilizar terceiros neste processo evita também a indesejável exposição social e blinda os amish em relação às influências mundanas na “Web”. Além desse estratagema, algumas empresas amish também vendem os seus produtos através de fornecedores que operam os seus próprios “sites online”, outra forma de alcançar a população americana realizando uma quantidade crescente de negócios. Sem deixar de ser amish e preservando a sua integridade e a “ordnung”.

Alguns amish foram mais longe na forma de entrarem nesse mundo da “Web” sem deixar de serem o que sempre foram. Falamos do processamento de texto, aquilo que ficou baptizado de “clássico”. Ou seja, tendo algumas empresas amish deparado com a necessidade de terem de processar textos, bem como acesso a ferramentas organizacionais úteis, como planificações, por exemplo, tiveram que contornar as restrições da “ordnung”. Assim, não é que um empresário menonita, anabaptista também, mas bastante empreendedor, começou há alguns anos a comercializar uma máquina computacional básica, que ficou conhecida como “The Classic”, a qual oferece apenas funções básicas para processar texto. Alguns empresários amish não deixaram de aderir a esta “inovação” dos seus “primos” menonitas. Não há truques, nem jogos, só agilização do trabalho e possibilidade de melhor planear e efectuar registos e contabilidade. Mas sem terem acesso à Internet ou a programas gráficos, em muitos casos. Mas nem por isso deixam de haver utilizadores amish no Facebook ou contas de email…

FORMAS DE VIDA AMISH

E como é a escolaridade? As crianças amish normalmente só frequentam a escola até ao fim do 3º ciclo (9º ano), ou ensino médio. Fazem-no principalmente em escolas particulares, mas já se pode aferir que cerca de dez por cento o fazem em escolas públicas, com “ingleses”. Também neste caso conseguiram um enquadramento legal nos Estados Unidos, pois o Supremo Tribunal Federal decidiu, em 1972, que as crianças amish tinham o direito de terminar a escola aos catorze anos. O ensino é feito de forma bilingue, como já dissemos, na forma dialectal germânica dos amish e em Inglês.

Já aqui falámos das formas de vestir que conferem um perfil peculiar aos amish, pautado pela simplicidade e discrição, sem ostentação – por isso não usam botões, fechos éclair/zip ou velcro. As tradições amish incluem não apenas vestir roupas simples, mas também viver de maneira simples e ajudar um vizinho em necessidade.

E como namoram os jovens amish? Sim, os jovens, pois para estas comunidades “namorar” é algo juvenil, apenas. Para o fazer, só na juventude. O “Rumspringa” é uma das marcas da vida social amish, significando algo como “andar por aí”, “solto”, experimentando. A partir dos dezasseis anos, os jovens amish começam a socializar-se com outros jovens. Mas alguns fazem-no, por vezes, com “ingleses”, fora da sua confissão religiosa. Nas comunidades mais austeras e severas, o “Rumspringa” mantém-se confinado à comunidade amish, ou apenas com amish. E só aos fins de semana. O “Rumspringa” termina com o casamento. Esta fase, além de servir para rapazes e raparigas se apresentarem, é acima de tudo um período importante, ao fim do qual os jovens amish têm de decidir se querem ser baptizados e unir-se à igreja, o que geralmente ocorre entre os dezoito e os 21 anos, ou deixar a comunidade amish.

Depois do namoro, vem, normalmente, o casamento. A maioria dos casamentos amish na Pensilvânia ocorre após a colheita do Outono, entre fins de Outubro e Dezembro. Os matrimónios, tradicionalmente, têm lugar às terças ou quintas-feiras, para que haja tempo entre as cerimónias para se preparar e limpar a igreja e o espaço onde decorrem as bodas, após cada casamento. Mesmo assim, a “temporada” de casamentos pode ter uma agenda sobrecarregada, registando-se por vezes dois ou três casamentos num dia, o que provoca um corrupio de carroças para se cumprir o convite e participar nas cerimónias e festas.

Mas é importante lembrar que um casamento amish é uma ocasião particularmente alegre, de grande felicidade comunitária, pois é a união de dois membros baptizados da igreja, que assim estão a continuar a fé ancestral e a iniciar uma nova família juntos, o que ajuda a preservar a sua forma de vida e fortalecer a comunidade, em número e em sentimento religioso. Embora os pais não seleccionem com quem os seus filhos se devam casar, é preciso que haja uma aprovação dos mesmos e do conselho de anciãos, no que o pastor serve de intermediário. Num culto na igreja após a comunhão no Outono, os casais de “namorados” que planeiam unir-se no matrimónio são “publicados” ou anunciados à frente da congregação. Todavia, ao nível das famílias tudo estava já decidido e em curso, com muita preparação, principalmente por parte dos pais da noiva. Um dos preparativos mais importantes tem que ser planeado na temporada das sementeiras, o que demonstra o quão antes se começa a preparar: para acontecer depois das colheitas de Outono tem que se efectuar, no início do Verão, o plantio de várias centenas de pés de aipo, uma iguaria que é parte importante em qualquer festa de casamento amish na Pensilvânia. Que é mesmo uma festa, como veremos na próxima semana.

Vítor Teixeira 

 Universidade Católica Portuguesa

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