O Pentecostalismo – IX
Jesus salva, Jesus baptiza pelo Espírito Santo, Jesus cura, Jesus está a chegar, são estas as crenças fundamentais dos Pentecostalistas. Estas crenças são partilhadas por todas as denominações do Pentecostalismo, em todo o mundo, e há cerca de cem anos. Mas há um conjunto de crenças que são observadas por quase todos, ou de forma diversa e em diferentes graus de observância.
Como vimos, os pentecostalistas são monoteístas, pois são cristãos. Além de alguns grupos acreditarem de diferentes modos na Santíssima Trindade, quase todos consideram a Bíblia como um livro sagrado, de acordo com o cânone bíblico protestante, já que este afirma que a autoria do grande livro foi sob inspiração do Espírito Santo. Afirmam-no, por isso, como a palavra de Deus e, portanto, a fonte inspiradora incondicional da fé e da conduta.
O pecado original faz parte também das crenças comuns dos pentecostalistas. O demónio, e em particular Adão e Eva, compõem a essência figurativa dessa crença. Seguindo este plano da espiritualidade pentecostalista, recorde-se a crença na possibilidade de santificação do indivíduo através da fé, uma marca protestante evidente. Os pentecostalistas consideram-se como parte da “Igreja de Cristo”, no que convergem, em teoria, com as igrejas protestantes históricas, como igrejas presbiterianas ou baptistas. Não significa tal que o ecumenismo seja uma marca espiritual importante no Pentecostalismo, pois vários dos seus grupos são mesmo contra esse diálogo e aproximação religiosa.
Ainda no que às crenças concerne, assinale-se a espera da Segunda Vinda de Cristo, como eixo reitor da escatologia pentecostalista, a par do “êxtase da Igreja”, na Grande Tribulação, no Reino do Milénio, no Juízo Final, na Nova Jerusalém e na ressurreição dos mortos. Com maior ou menor ênfase, a escatologia adventista é importante na espiritualidade pentecostalista. Estes acreditam também que Deus Se pode manifestar de várias formas sobrenaturais, como sinais ou como “performance” de maravilhas, milagres ou dons. Deus revela-Se através dessas manifestações espirituais, nos dons de sabedoria, de conhecimento, na capacidade de curar pessoas e na realização de milagres através da fé. Deus, acreditam os pentecostais, transmite o dom a alguns fiéis de receberem profecias, de ajudarem a discernir espiritualmente entre anjos ou demónios, entre o Bem e o Mal, além da característica mais marcante: o dom de falarem e interpretarem outras línguas.
PRÁTICA RELIGIOSA PENTECOSTAL
Se pudéssemos falar de uma liturgia pentecostal, diríamos que esta varia de acordo com a denominação pentecostal, organização ou corrente, mas a principal actividade, e mais comum, é a leitura tanto do Antigo Testamento quanto do Novo Testamento. Durante as cerimónias entoam-se hinos e outras canções de louvor de diversos estilos, acompanhados de música ao vivo, aplausos, corais, exclamações de alegria e passos de dança direccionados ou espontâneos. É uma “liturgia” marcada pela espontaneidade, pelo êxtase e pela coralidade, com forte influência afro-americana. Também são efectuadas orações conjuntas, pregação por pastores ou ministros. Alguns ministros permitem que paroquianos digam breves testemunhos pessoais a outros, além de se efectuarem pretensas curas ou expiação de demónios.
Depois temos a recolha de fundos, diríamos as esmolas. Há várias formas de colecta, nas cerimónias: os “dízimos”, ou contribuições de dez por cento dos salários dos fiéis; os “primeiros frutos”, que são literalmente as primeiras colheitas, das culturas ou dos pomares; as “ofertas”, que são doações em dinheiro, espontâneas, variáveis e opcionais; as “promessas”, ou seja, dinheiro que os fiéis “prometem a Deus”, doando-o à igreja. A gestão de receitas também depende de cada instituição. Enquanto algumas igrejas são responsáveis por organizações religiosas maiores, a renda de outras é gerida de forma independente pelos seus líderes directos.
A par desta “liturgia”, temos várias práticas e cerimónias. Por exemplo, os mais apelativos são os baptismos por imersão. Nestes, pastores e missionários podem realizar baptismos por imersão, que, ao contrário do que se pratica na Igreja Católica, são geralmente realizados em adultos e de livre e espontânea vontade. Os recém-nascidos, sendo considerados incapazes de se arrependerem dos seus pecados, só são apresentados ao ministro ou pastor da igreja, ficando o Baptismo para a idade adulta. Os ministros, pastores ou diáconos também podem liderar representações simbólicas do mesmo sacramento, no sentido de salientarem a importância do mesmo. Outra actividade de várias igrejas pentecostais é a lavagem dos pés, como símbolo de humildade de cada fiel entre os seus pares. Os pentecostais praticam várias actividades que consideram como sendo sacramentos, procurando a recriação e vivência de momentos atribuídos pela Bíblia a Jesus de Nazaré.
Os pentecostais também acreditam em possessões demoníacas e exorcismos, ou expiações de demónios. Estes procedimentos, segundo os mesmos, podem ser executados por crentes consagrados a Deus e anteriormente expostos a um rigoroso jejum. Para eles, as razões pelas quais uma pessoa pode estar possuída por um demónio são esotéricas ou relacionadas a actos que se consideram como impróprios a um cristão. Todos estes actos são normalmente públicos e revestem-se de grande aparato cénico e arrebatamento por parte dos intervenientes e assistência.
Depois temos aquilo a que se chama “organização” nas igrejas pentecostais. Estas possuem uma organização característica, composta por vários cargos ou ministérios, número e funções que diferem entre as várias denominações. O papel das mulheres também difere, porque enquanto em algumas igrejas estas podem actuar como líderes, noutras isso é proibido.
Temos, entretanto, vários cargos. Na base surgem os diáconos (dos “diakonos” gregos: servo, ajudante). Fazem parte do corpo de governo das igrejas pentecostais. Auxiliam o pastor na tomada de decisões e garantem a segurança da igreja e do pastor, fazem visitas aos doentes e a outros membros da congregação. Às vezes, exercem ministério junto dos crentes, com as mãos deitadas, rezam pelos doentes, participam em supostos exorcismos e administram o sacramento. Para os pentecostais, os diáconos do Cristianismo primitivo são retratados na Bíblia, podendo também ser mulheres. Depois, temos os Apóstolos (do grego “apostolos”: mensageiro, delegado ou comissário especial). Algumas denominações reservam o termo exclusivamente para apóstolos do Novo Testamento, enquanto noutros grupos também chamam de apóstolos aos novos missionários, aos fundadores de novas igrejas, aos que se dedicam a evangelizar comunidades cristãs emergentes. Em algumas organizações da corrente unitária e, em particular, dentro dos carismáticos pentecostais, os apóstolos são considerados os líderes escolhidos por Deus e são estruturados teocraticamente, ficando no topo da hierarquia. Dentro dos carismáticos há “redes apostólicas”, agrupamentos de igrejas pentecostais autónomas e ministérios cristãos individuais voluntariamente ligados a uma estrutura liderada por um único apóstolo, de quem aceitam os seus conselhos, orientações e mandatos. Para os carismáticos, os membros dessa rede são escolhidos pela intervenção divina e não pela vontade da organização.
Várias igrejas protestantes e outras igrejas pentecostais mais “clássicas”, como as Assembleias de Deus, têm criticado duramente essas redes apostólicas, recordando que os apóstolos não são responsáveis por ninguém, antes exercem um controlo e influência perigosos sobre os seus fiéis. Além disso, são acusados de não haver controlo sobre eles nas suas acções ou em matéria de negócios lucrativos. Mas não ficam por aqui os cargos, ministérios, tentativas de mimetizar a comunidade dos Apóstolos ou de Jerusalém dos tempos primitivos do Cristianismo.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa