CISMAS, REFORMAS E DIVISÕES NA IGREJA – CCXV

CISMAS, REFORMAS E DIVISÕES NA IGREJA – CCXV

Adventistas do Sétimo Dia – XII

Paz! É outro dos imperativos de vida dos Adventistas do Sétimo Dia. Não à guerra, nem ao porte e uso de armas: o movimento adventista foi fortemente pacifista desde o início. Os Adventistas do Sétimo Dia obedecem firmemente ao 6.º Mandamento (Não matarás!) e não tomaram um papel activo nas guerras, como combatentes, embora os ASD fora dos Estados Unidos (por exemplo, na Alemanha nazi) tenham sido por vezes forçados a transigir nos seus princípios e a ter armas.

Esta é a única área onde os adventistas provavelmente entrarão em conflito com os Governos seculares e respectivas autoridades e instituições, pois consideram uma “responsabilidade sagrada” serem bons cidadãos e jamais fazer algo que possa aniquilar, tirar a vida enfim, a outros seres humanos. O mais famoso objector de consciência da História, o ser humano que levou esse 6.º Mandamento o mais longe e inatacavelmente possível foi o soldado americano Desmond Doss (1919-2006), que se destacou na batalha de Okinawa, no Japão (Março-Julho 1945), ao salvar a vida a 75 camaradas de guerra feridos em combate, dentro das linhas inimigas e a vencer um desfiladeiro para os pôr a salvo, depois de ter ultrapassado um terrível processo marcial para ir combater. Mas sem ter qualquer arma ou disparar um único tiro. Foi mesmo o único objector de consciência a receber a Medalha de Honra, a mais alta e prestigiosa condecoração militar americana pela sua acção na Segunda Guerra Mundial. A sua obstinação e persistência, coragem e fé fizeram com que cumprisse esse desígnio adventista de salvaguardar a vida humana.

OUTRAS CRENÇAS ADVENTISTAS

A Adoração na Igreja Adventista do Sétimo Dia é um aspecto importante na vida dos seus fiéis. O culto adventista é muito parecido com outros cultos protestantes, praticamente igual na estrutura, por exemplo, excepto no facto de que o principal dia de culto não é o Domingo, mas o sábado. O dia da esperança messiânica, como entre os judeus, em que os ASD preparam o cumprimento dos tempos e da Salvação.

Outro elemento importante no culto adventista são os serviços de Comunhão. Estes normalmente ocorrem quatro vezes por ano. Apenas sumo de uva não fermentado e pão sem fermento são usados para a Comunhão, a qual pode ser feita por qualquer cristão, não apenas os membros da igreja. Os serviços de Comunhão adventista também incluem “a ordenança do lava-pés” antes da Comunhão. Este ritual transmite uma mensagem de perdão, aceitação, segurança e solidariedade, principalmente de Cristo para o crente, mas também entre os próprios crentes. Mais importante ainda, simboliza uma purificação geral, “uma limpeza do coração”, como referem os teólogos ASD.

Temos também os livros sagrados como um elemento importante no movimento, com destaque para a Bíblia. A Igreja Adventista do Sétimo Dia, como todas as igrejas cristãs, coloca a Bíblia no centro da sua fé. Os adventistas consideram a Bíblia como literalmente verdadeira, acreditando que os autores que a escreveram foram em verdade inspirados por Deus. Os ASD consideram mesmo a Bíblia como um guia infalível para a vida.

Também os escritos de Ellen G. White assumem um destaque importante nos textos determinantes da fé adventista. Com efeito, os ASD acreditam que “a Igreja Adventista do Sétimo Dia foi plenamente abençoada pelo Senhor através do dom de profecia manifestado no ministério e nos escritos de Ellen G. White”, que eles vêem como “uma fonte contínua e autorizada da verdade que provê a todos de conforto, orientação, instrução e correção da igreja” (assim está enunciado na Resolução de 1 de Julho sobre a Bíblia, aprovada pela 58.ª Conferência Geral, em 2005). A igreja ensina que esses escritos foram de facto fundamentais para levar a igreja de um pequeno grupo até se tornar num movimento à escala mundial. Apesar desses escritos não serem considerados como sagrados, são assumidos por todos como um guia sapiente para se interpretarem as Sagradas Escrituras e assim se viver uma vida cristã.

Os escritos de Ellen White não são um substituto das Escrituras, referem os ASD. Não podem ser colocados no mesmo nível, pois as Sagradas Escrituras são únicas e só elas são sagradas, pois são o único padrão pelo qual os textos de Ellen e todos os outros escritos devem ser julgados e ao qual devem estar sujeitos. O facto de Deus ter revelado a Sua vontade aos homens por meio da Sua Palavra não tornou desnecessária a contínua presença e direcção do Espírito Santo. Pelo contrário, o Espírito foi prometido pelo Salvador para abrir a Palavra aos Seus servos, para iluminar e se aplicarem os Seus ensinamentos. Foi essa graça que inspirou Ellen e todos os outros autores adventistas, que por isso têm a graça de guiar os crentes à Salvação.

A associação e organização dos ASD é restrita a pessoas baptizadas na forma adventista. O Baptismo é efectuado por imersão. Antes de uma pessoa ser baptizada é questionada sobre a sua fé e atitudes, inquirição que é geralmente feita à frente dos membros da igreja, embora possa ser realizada diante apenas de uma comissão da igreja, se necessário.

Existem quatro níveis de organização na Igreja Adventista do Sétimo Dia. A conferência local ou missão local é um corpo unido de igrejas num Estado, província ou território. A diferença entre uma conferência e uma missão é que as missões são financiadas centralmente, enquanto as conferências são auto-sustentáveis. A associação corporativa, ou missão corporativa (o termo em Inglês pode ser traduzido para algo como “sindical”…), é um corpo unido de conferências, missões ou campos dentro de um território maior, geralmente um país. A Conferência Geral, que abrange todos os “sindicatos” em todas as partes do mundo, é a maior unidade de organização e reúne-se a cada dois ou três anos. A Conferência Geral está dividida em treze divisões mundiais, como por exemplo a Divisão Transeuropeia (que inclui as igrejas do Reino Unido e está sediada em St. Albans, em Inglaterra), para administração de várias áreas geográficas. Quando a Conferência Geral não está em sessão, a igreja é dirigida por um Comité Executivo.

Cada nível é escolhido por representação democrática. Uma igreja elege os seus próprios dirigentes por maioria de votos e também elege o seu próprio delegado para uma conferência. Os oficiais dentro dos “sindicatos” e da Conferência Geral são eleitos para cada sessão. A organização adventista está muito bem definida organicamente, com atribuições e competências muito claras e adequação aos preceitos e forma de vida cristã almejados por este movimento cristão, com uma forte tradição e implantação em todos os continentes.

Vítor Teixeira 

Universidade Católica Portuguesa

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