CISMAS, REFORMAS E DIVISÕES NA IGREJA – CCVII

CISMAS, REFORMAS E DIVISÕES NA IGREJA – CCVII

Adventistas do Sétimo Dia – IV

Com Rederick Wheeler (1811-1910) os adventistas sabatistas acreditavam cada vez mais que a sua tarefa era a de liderar o mundo na luta contra a besta, contra o Mal, conceitos que os seguidores daquele pregador colavam à Igreja Católica ou ao Protestantismo, que consideravam apóstata e afastado da sua pureza reformadora. Naqueles dias, os adventistas sabatistas acreditavam e pregavam que os verdadeiros cristãos se deveriam juntar aos que «guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus» (Apocalipse 14,12). Ou seja, aos que denunciavam e combatiam o Mal.

Além dessa combinação milenarista e restauracionista das doutrinas do santuário e do sábado, surgem as visões de Ellen Gould White (1827-1915) como o terceiro pilar fundador do Adventismo. Esta mulher, escritora norte-americana que se tornaria muito conceituada, foi uma figura muito importante na formação da Igreja Adventista, particularmente graças às suas visões. De facto, entre 1844 e 1863, Ellen G. White – casada com o millerita James Springer White (1821-1881) desde 1845 – teve, supostamente, entre cem a duzentas visões, normalmente em locais públicos e salas de reuniões. Ellen teve a sua primeira visão logo após o Grande Desapontamento Millerita de 1844. A vidente confessou que teve uma visão – que a levou a escrever “A Grande Controvérsia” – num funeral em Ohio, realizado numa tarde de Domingo, em Março de 1858, na escola pública Lovett’s Grove (actualmente Bowling Green), através da qual pôde ter um vislumbre do conflito secular entre Cristo e os Seus anjos e Satanás, anjos esses que foram concedidos a Ellen G. White.

ELLEN G. WHITE E O ADVENTISMO

As suas visões formam uma terceira vertente que moldou o movimento adventista sabatista. Ellen, que começara por ser millerita, teve a primeira visão em Dezembro de 1844, em Portland, Maine, e logo começou a abordar pequenos grupos milleritas, narrando as suas experiências. As suas viagens posteriores pô-la-iam em contacto com James Springer White, um pregador millerita menor, redundando no casamento. No Outono daquele ano, veio parar às mãos do casal um dos panfletos de Joseph Bates (1792-1872), um inflamado pregador sabatista. Os White, por isso, começaram a observar o sábado. Mais ou menos nessa mesma época, Ellen começou a ter visões que confirmaram as suas novas posições doutrinárias, algo que continuou à medida que eles adoptaram a interpretação do Santuário em 1847. Depois, com Bates, acabaram por organizar e dirigir uma série de “Conferências de Sábado”, a partir de 1848, nas quais Ellen, nomeadamente, codificaria as crenças adventistas do movimento sabatista. Estava-se, pois, mais próximo do que viria a ser o Adventismo.

Ellen White, em vez de suscitar novas revelações doutrinárias e fazer tudo mudar de novo, avivou nos espíritos dos que a seguiam a ideia de que a sua fundamentação era bíblica e que ela estava a conjugar o millerismo, o sabatismo e o santuário, naquilo que era cada vez mais homogeneamente uma doutrina adventista. Um pensamento que se tornava doutrinário, definidor e estribo para todos os que aderiam às suas pregações e escritos, a partir das suas visões.

À medida que o seu pensamento se desenvolvia, os adventistas sabatistas mantiveram a teologia democrática do Segundo Grande Despertar. Com efeito, nenhum deles era um estudioso bíblico ou um consumado teólogo, com formação. Antes sim, eram agricultores, professores, um oficial da marinha (Bates) e até – no caso de Ellen G. White – uma jovem com uma formação mínima. Todavia, todos acreditavam, com segurança, que poderiam interpretar com precisão a Bíblia e corrigir séculos de tradição cristã, que achavam tinha trazido enganos e gerado erros. Na verdade, os adventistas concluíram que tinham descoberto doutrinas há muito negligenciadas ou mal compreendidas, mal interpretadas, particularmente o ministério de Cristo no santuário celestial e o Sábado do Sétimo Dia, que aclamaram como uma “verdadeira doação” para o seu tempo. Chamados por Deus para despertar o mundo para essas verdades, estes adventistas iniciais acreditavam que o “grande movimento do segundo advento” desempenharia o principal papel à medida que a história da Terra chegasse ao seu clímax. Ou seja, atingisse o Apocalipse…

Embora não ocupasse nenhum papel oficial, Ellen era uma personalidade dominante, forte e determinada, ouvida e respeitada. Com o seu marido e Joseph Bates, acabaram por orientar o movimento para um escopo missionário e de serviço e trabalho social, em particular na medicina e acção sanitária. A missão e o trabalho médico continuam a desempenhar, na prática, um papel central nos tempos actuais.

Durante a década de 1850, no entanto, muitos adventistas sabatistas opuseram-se à organização do movimento no sentido de se tornar numa denominação cristã. O conflito que se desenvolveu entre os milleritas e as igrejas estabelecidas na década de 1840 moldou amplamente a visão dos adventistas de que as tentações de poder e controlo transformariam a religião organizada numa nova Babilónia. Joseph Bates, James e Ellen White, enquanto líderes, visitaram os grupos dispersos de adventistas, as tendências e facções, tentando dialogar, mas cedo reconheceriam, e cada vez mais, a necessidade de alguma forma de organização. Quer a questão fosse a certificação de ministros adventistas genuínos, o apoio financeiro do ministério ou a propriedade das instalações de impressão da “Review and Herald”, uma espécie de órgão oficial do movimento, ambos concluíram que o movimento deveria assumir uma estrutura formalizada institucionalmente.

Poderíamos recordar aqui que as discussões em torno da institucionalização eram muitas desde finais da década de 1840. Já em 1851, por exemplo, James S. White começou a clamar por uma “ordem do Evangelho”, ou seja, sentia a necessidade de organização. Embora alguns passos rudimentares em direcção a essa organização tenham sido encetados durante os anos seguintes, a questão da propriedade dos escritórios e redacção da “Review and Herald” levou os adventistas a adoptar o nome de “Adventistas do Sétimo Dia” em 1860, além da criação da “Associação de Publicações Adventistas do Sétimo Dia”, no ano seguinte. Ou seja, apesar de tímidos passos, a designação actual nascera naqueles processos de organização. Em 1861, as igrejas em Michigan organizaram a primeira conferência adventista, seguida da organização de mais seis conferências durante os meses seguintes. De 20 a 23 de Maio de 1863, delegados de oito dessas conferências formaram a Conferência Geral. Estava lançada, definitivamente, a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Muito deve, refira-se, para além de todos os que já aqui citámos, à figura de Ellen G. White, determinada, activa e uma das mulheres mais proeminentes da história e da cultura dos Estados Unidos.

Vítor Teixeira

Universidade Católica Portuguesa

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