Adventistas do Sétimo Dia – VI
Ellen G. White, como temos visto, foi decisiva para os Adventistas do Sétimo Dia. Reconhecida como uma receptora moderna do dom espiritual da profecia, conforme está escrito em “1 Coríntios 12”, “Romanos 12”, “Efésios 4” e “1 Pedro 4,10-11”. Talvez a grande luta e marca de Ellen tenha a ver com o seu esforço em tornar a Bíblia o foco e o centro da espiritualidade e forma de vida adventistas, tendo tentado aplicar as Sagradas Escrituras ao dia-a-dia.
Depois da criação da denominação “Adventistas do Sétimo Dia”, em 1860, nos Estados Unidos, o movimento começou a irradiar no País, para além do Norte. Em 1863, uma reunião de delegados de ainda mais congregações adventistas reuniu-se para formar o que actualmente é designado como Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. Esta denominação recém-organizada, unida ao propósito de partilhar a mensagem de que uma compreensão mais profunda das Escrituras não apenas prepara os crentes para a eternidade em Cristo, mas ajuda também a viver melhor no mundo, constituem as duas primeiras pedras de toque do movimento e da sua capacidade de atracção.
PARA UMA RELIGIÃO MUNDIAL
Na Associação Geral de 1863 o movimento contava com apenas três mil membros. Recorde-se que naquela altura a Igreja Adventista do Sétimo Dia não considerava o envio de missionários para fora do País. Entretanto, surgiu a figura de Michał B. Czechowski (1818-1876), um antigo padre católico, que se convertera ao Adventismo e que tentou que o enviassem como missionário para a Europa, intento que não conseguiu concretizar. Todavia, foi ele que lançou a semente da ideia, naquele ano de 1864. A igreja recusou porque acreditava que Czechowski não tinha uma fé forte ou bem definida, além de que achavam que não era muito bom com dinheiro, não estava disposto a ouvir a autoridade e era por norma uma pessoa instável.
Insistente, acabaria por ir, porém, com o objectivo da Suíça e Norte de Itália, para pregar entre os cristãos valdenses. Mas ia sem estar enquadrado na Igreja Adventista do Sétimo Dia. Foi com patrocínio de outra denominação, adventista, mas não de sétimo dia: a Igreja do Advento.
As suas pregações, no entanto, estavam cheias de referências ao movimento sabatista, tendo dado frutos através de conversões. Os convertidos de Czechowski na Suíça acabariam por conhecer a Igreja Adventista do Sétimo Dia através dos seus papéis, que ele deixara no quarto de uma pensão onde estivera hospedado naquele país. Entretanto, Czechowski regressara aos Estados Unidos. Mas deixara um entusiasmo pelo Adventismo de Sétimo Dia. Assim, em 1869, os seus convertidos suíços enviaram um representante a Battle Creek, para conhecer a igreja e dar ecos da sua e demais conversões. Como resultado desse contacto com os crentes na Suíça, a Conferência Geral enviaria para esse país John Nevins Andrews (1829-1883), o primeiro missionário estrangeiro oficial do movimento. Estava-se em 1874.
Mas voltemos ao antigo padre católico polaco. Apesar de Czechowski ter sido enviado e apoiado pela Igreja Cristã do Advento, a mensagem que pregou era praticamente adventista do sétimo dia, o que o fez perder o patrocínio do Advento, em 1868. Czechowski, antes da Suíça, passou o primeiro ano a pregar na região de Piemonte, actualmente na Itália. No entanto, foi forçado a mudar-se para a Suíça por causa da oposição da população local, fortemente católica. Na Suíça começou a publicar um jornal intitulado L’Evangile éternel(O Evangelho Eterno), bem como folhetos religiosos em Francês e Alemão. Os seus ensinamentos concentravam-se principalmente na observância do sábado como sétimo dia e no entendimento adventista da profecia dos livros bíblicos de Daniel e do Apocalipse.
O antigo sacerdote polaco fundou depois uma congregação em Tramelan, igualmente na Suíça, com quase sessenta membros, além de vários outros grupos menores. No entanto, apesar dessa orientação pregacional, não referia a existência de adventistas, fosse de que ramo fossem, nem de que se inspirava neles, afirmando apenas que os seus ensinamentos provinham “da Bíblia”. Mas, certo dia, um dos seus seguidores, em Tramelan, numa visita aos aposentos de Czechowski, descobriu um exemplar da “Review and Herald” e percebeu que o pregador estava a ocultar a existência de outros crentes como eles, de gente com uma crença comum, noutros lugares. Assim, a congregação de Tramelan contactou a Conferência Geral dos Adventistas de Sétimo Dia (ASD) e foi convidada a enviar um delegado à sessão da Conferência Geral em 1869. Mas sem o conhecimento de Czechowski. Afinal, a sua perseverança e entrega à causa eram, como se prognosticou, ainda débeis e não merecia confiança da hierarquia.
Jakob (depois James) Erzberger (1843-1920), um jovem estudante de teologia suíço, foi escolhido como delegado e enviado para a América, para representar Tramelan na conferência magna dos ASD. Todavia, Jakob chegou tarde demais para presenciar a sessão. Apesar disso, o conhecimento da existência de adventistas na Suíça inspirou a Associação Geral a estabelecer a primeira sociedade missionária adventista do sétimo dia, com o escopo de apoiar missões no exterior, como a igreja nascente na Suíça. Esta sociedade enviaria, mais tarde, o primeiro missionário adventista do sétimo dia oficial, o já referido John Nevins Andrews, para a Suíça, precisamente em 1874. Quanto a Jakob, agora James, Erzberger, acabou por permanecer na América e tornou-se um ministro adventista do sétimo dia ordenado. Regressaria à Suíça em 1870, para liderar e exercer ministério na igreja de Tramelan.
Durante as duas décadas seguintes, os ASD estabeleceram trabalho missionário em várias regiões no mundo, a maior parte delas de língua inglesa ou com significativa população anglófona, para além claro, dos Estados Unidos, por onde enxameariam. Os ASD, depois da Suíça, introduziram missões, por exemplo, na Dinamarca (1877), Inglaterra (1884), Austrália (1885) e Alemanha (1888). Na década de 1890 expandiram-se para o Pacífico Sul, África do Sul, América Latina, Índia e Japão. Embora no início do Século XX os adventistas tivessem presença em todos os continentes e na maioria das grandes nações, pouco mais eram, ainda, do que uma igreja americana, com oitenta por cento dos seus 67 mil membros a residir nos Estados Unidos. A maior parte das academias e estabelecimentos de ensino, bem como os hospitais e editoras, estavam ainda nos Estados Unidos, com efeito.
Mas os tempos eram de consolidação e crescimento. Em 1900, os ASD já tinham quase quinhentos missionários no exterior, registando-se também que mais de quinze por cento dos mais de 75 mil adventistas viviam fora da América do Norte. O sistema educacional foi a grande aposta: com cerca de um século, nos anos 60 do Século XX, operavam já um dos maiores sistemas escolares protestantes do mundo.
Vítor Teixeira
Universidade Católica Portuguesa