Contemplação, missão e martírio no simpósio dos 20 anos do Instituto Ricci de Macau
“In actione contemplativus”. Aspecto central da espiritualidade inaciana, a contemplação dá o mote à edição de 2019 do Simpósio Anual organizado pelo Instituto Ricci de Macau. O certame, que se realiza a 17 e 18 de Outubro no Seminário de São José, traz ao território mais de duas dezenas de académicos e conferencistas, entre os quais o bispo auxiliar de Ljubljana, D. Anton Jamnik, e o padre alemão Martin Meier, secretário para os Assuntos Europeus do Centro Social Europeu Jesuíta.
Durante dois dias o Instituto Ricci propõe-se abordar aspectos e conceitos como o sentido de missão, a relevância histórica do martírio para a afirmação da fé ou o contributo da contemplação para a afirmação de uma liderança ética e útil às comunidades. Uma boa parte do debate vai estar centrada precisamente na prática da contemplação, uma opção explicada a’O CLARIMpelo padre Stephan Rothlin, director do Instituto Ricci: «A contemplação providencia um espaço cada vez mais necessário para o silêncio e para a reflexão como base fundamental para uma missão que tenha por finalidade o bem comum. Um líder que esteja aberto à contemplação está melhor capacitado para tomar decisões informadas».
O debate sobre a relevância das práticas de contemplação está reservado quase integralmente para o segundo dia do simpósio, com o primeiro dia a ser dedicado à abordagem de conceitos como missão, memória e martírio. D. Anton Jamnik modera uma primeira sessão dedicada à percepção do martírio em países como o Japão e o Laos, num debate que conta com intervenções dos historiadores Roland Jacques e Paul Spooner, e da académica portuguesa Cristina Osswald.
No segundo dia do simpósio, o bispo auxiliar de Ljubljana vai abordar a relação entre misticismo, contemplação e vida cristã, numa das apresentações que integram o primeiro dos painéis inteiramente dedicados a temática da contemplação. A tradição contemplativa nas religiões asiáticas também será abordada, antecipa o padre Stephan Rothlin em declarações a’O CLARIM: «Há vinte anos, o Papa João Paulo II mostrou-se esperançado de que a sabedoria contemplativa das tradições asiáticas pudesse vir a ter um impacto crucial nas sociedades modernas. Apesar destas tradições contemplativas nem sempre terem sido cultivadas e de por vezes terem sido destruídas, as perspectivas contemplativas do Budismo, do Taoísmo e do Islão continuam a exercer influência», sublinha o director do Instituto Ricci de Macau. «Estas tradições podem desafiar a Igreja a ir muito mais longe na exploração de contextos culturais e emocionais onde os Evangelhos devem lançar raízes profundas e tornar-se mais criativos no diálogo que empreendem com outras tradições e culturas», remata o jesuíta suíço.
Marco Carvalho