Portugal iluminado pela fé dos jovens santos

CARLO ACUTIS E PIER GIORGIO FRASSATI FORAM CANONIZADOS NO PASSADO DOMINGO

Portugal iluminado pela fé dos jovens santos

Horas depois de Carlo Acutis ter sido canonizado pelo Papa Leão XIV, as ruas da vila minhota de Arco de Baúlhe engalanaram-se para receber uma celebração com tanto de singular, como de profundamente significativo. Pela primeira vez, um andor com a imagem do jovem santo italiano, patrono das novas tecnologias e da Internet, integrou o cortejo da tradicional procissão de Nossa Senhora dos Remédios, padroeira da localidade.

Longe de ser episódio único, o exemplo de fé da pequena paróquia de Cabeceiras de Basto é um testemunho da forma absolutamente fulgurante como a devoção a Carlo Acutis se tem vindo a difundir em Portugal. A canonização, no passado Domingo, do adolescente italiano, vitimado em 2006 por uma leucemia fulminante, motivou manifestações de fé e de júbilo em localidades como Bustelo (Oliveira de Azeméis), Ponte de Vagos (Vagos), Lamego ou São João de Ver (Santa Maria da Feira).

Declarado venerável no Verão de 2018 e beatificado em 2020, Carlo Acutis foi canonizado pelo sucessor de Francisco, numa cerimónia em que Pier Giorgio Frassati – jovem activista católico italiano, falecido há um século, aos 24 anos de idade – também foi elevado à honra dos altares. A celebração, realizada na Praça de São Pedro, abriu com o chamado “Petitio”, tendo o cardeal D. Marcello Semeraro pedido ao Sumo Pontífice para inscrever os dois beatos no Álbum dos Santos. Precedido pela leitura resumida das biografias de Acutis e de Frassati, o momento central da cerimónia ocorreu quando Leão XIV proclamou a fórmula de canonização, determinando que «em toda a Igreja» os dois jovens devem ser «devotamente honrados entre os santos».

TESTEMUNHO:

UM SANTO COMO NÓS

Nascido em Londres, em 1991, Carlo Acutis aliou a paixão pela informática à fé e cedo demonstrou um interesse particular pelo mistério da Eucaristia. Aos sete anos de idade, depois de receber pela primeira vez o Corpo e Sangue de Cristo, começou a dedicar-se à Igreja com uma abordagem até então inédita. Autodidacta, aprendeu a conceber portais electrónicos, que aprimorou com a ajuda de um estudante de Engenharia Informática. O seu maior legado – uma página multilíngue que agrupava os milagres eucarísticos reconhecidos pela Igreja – valeu-lhe o epíteto de “influenciador de Deus”. O objectivo do agora santo era levar, por meio da Internet, Jesus e a Eucaristia ao maior número de pessoas possível. O portal electrónico que criou ainda hoje existe, é visitado por milhares de pessoas e condensa o essencial do legado de fé de São Carlo Acutis.

«O legado de Carlo Acutis é o desafio de procurar ir às raízes puras do Evangelho de Jesus, tornando-o um estilo de vida, opção tão necessária e urgente nos tempos que correm. Ser expressão do amor de Deus num mundo e numa sociedade muito marcada pelo egoísmo, pela indiferença e pela violência. Carlo diz-nos que o Evangelho não é uma ideologia, mas um programa de vida. E ele vive-o e concretiza-o de forma bela e apaixonante», explica a’O CLARIM o diácono António Machado, autor do livro “Sem Ele Não Posso Fazer Nada”, uma das primeiras obras em língua portuguesa sobre a vida e o exemplo de fé de Carlo Acutis.

«É um fenómeno de popularidade que não se explica, a não ser pela simplicidade e pela verdade da santidade de Carlo. Em tempo recorde, ele conquistou de forma extraordinária gente de todo o mundo, como nunca aconteceu com um candidato à canonização. Carlo seduz pela normalidade da sua vida. Era um jovem perfeitamente normal e integrado em diferentes realidades. Não fez nada de extraordinário, mas fez extraordinariamente bem as coisas mais simples do dia-a-dia. Isso atrai e interpela», acrescenta.

EUCARISTIA E CARIDADE – Carlo Acutis é um santo dos nossos dias, ciente dos desafios decorrentes da modernidade. «Neste momento, a Igreja já está a sentir a enorme onda de juventude que se reaproxima por causa do Carlo. A longo prazo, tenho a certeza que se vão notar e sentir os efeitos deste movimento espiritual, desencadeado por este jovem santo. Hoje chegam-nos inúmeros testemunhos de pessoas que andavam afastadas da Igreja e dos Sacramentos e em contacto com a vida de Carlo Acutis estão a voltar. Isto naturalmente vai ter repercussões», assegura António Machado.

Se Carlo Acutis via na Eucaristia o seu caminho para o céu, Pier Giorgio Frassati encontrou no cuidado aos pobres uma porta aberta para a santidade. Filho de Alfredo Frassati, fundador do jornal La Stampa, amadureceu desde muito cedo uma fé profunda, evidenciada pela enorme generosidade com que assistia os mais desfavorecidos. Frassati foi, no entanto, para além da caridade, ao conjugar o empenho social e político com uma espiritualidade que nunca procurou dissimular. Membro de associações católicas e militante antifascista, Frassati acreditava firmemente na necessidade de fomentar reformas sociais que pudessem conduzir a uma sociedade mais justa. O jovem activista morreu na flor da idade, vitimado por uma poliomielite fulminante, que terá contraído enquanto cuidava de doentes. Inesperada, a sua morte, em 1925, revelou uma imensa popularidade e uma influência espiritual que se mantém até à actualidade.

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O Papa Leão XIV, que pela primeira vez presidiu a uma cerimónia de canonização, deixou uma mensagem de esperança aos muitos milhares de jovens que o ouviram na Praça de São Pedro: «Os santos Pier Giorgio Frassati e Carlo Acutis são um convite dirigido a todos nós, mas especialmente aos mais jovens, a não desperdiçar a vida, mas a orientá-la para cima e a fazer dela uma obra-prima».

Segundo o Santo Padre, «sentimos todos no coração o mesmo que sentiram Pier Giorgio e Carlo: este amor por Jesus Cristo, sobretudo na Eucaristia, mas também nos pobres, nos irmãos e nas irmãs».

«Todos vós, todos nós, somos chamados a ser santos», concluiu.

Marco Carvalho

em Portugal

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