Os últimos dias foram passados a contactar com a comunidade portuguesa radicada em Curaçao, para ver se será possível organizar um encontro cultural enquanto a nossa embarcação estiver por cá. A ideia já tinha sido avançada quando conhecemos o cônsul honorário Carlos de Sousa, logo no início da nossa estada nas Antilhas Holandesas, mas ficou suspensa porque o representante diplomático ia entrar de férias.
A comunidade, maioritariamente composta por madeirenses, é constituída pelas primeira, segunda e terceira gerações. Os primeiros que vieram para estas paragens começaram a chegar na década de trinta para trabalhar na nova refinaria que a Shell estava a construir. Esses trabalhadores e as suas famílias, que vieram anos mais tarde quando os maridos já tinham condições para as alojar e suportar em Curaçao, foram ficando mesmo depois do encerramento da refinaria. Actualmente são quase todos portadores de passaporte holandês. A Holanda não permite dupla nacionalidade, mas mantêm as suas raízes portuguesas bem arreigadas. No entanto, o fulgor da comunidade que existia durante os anos da Shell, com vários grupos folclóricos, desportivos e culturais, foi-se perdendo e, hoje em dia, apenas um grupo de rancho perdura, ainda que esteja quase parado e sem local para ensaiar.
Nos vários contactos que temos mantido, especialmente com entidades oficiais do Governo, temos sempre frisado a necessidade e a importância de manterem viva a cultura portuguesa através desta comunidade. A cultura lusa em Curaçao pode ter a mesma importância que tem em Macau e ser potenciada pelos Serviços de Turismo da mesma forma que a RAEM o faz com vários grupos folclóricos e culturais de origem portuguesa. Esta pode ser a grande diferença de Curaçao em relação a outros arquipélagos das Caraíbas. O Governo, que todos acusam de falta de experiência, deve reconhecer e desenvolver uma política e estratégia que leve isto em conta. Da parte do grupo folclórico há a vontade de colaborar com o Governo, faltando iniciativa por parte deste para que tudo se torne realidade. Para já é importante arranjarem um espaço para ensaiar e crescer em número de pessoas, e assim contribuir ainda mais para a diversidade cultural da ilha.
Estivemos presentes num dos programas matinais com maior audiência da Telecuraçao. Foram quinze minutos de entrevista em Inglês que deram para falarmos da viagem, dos nossos objectivos, de Macau e da sua comunidade de origem portuguesa. Após o programa, ao passearmos no centro da cidade, foi interessante ver as pessoas a apontar para nós por nos terem visto na televisão.
Há uma pessoa que tem sido incansável em ajudar-nos, estando sempre disponível. Trata-se de um luso-venezuelano, casado com uma senhora da ilha da Madeira. Alcides Guzman é proprietário de uma loja situada na beira de uma das avenidas mais movimentadas de Curaçao, a Caracasbaiiweb. Apesar das instalações serem modestas, os turistas nunca dispensam uma visita ao Asis Fruits Wagen e a sua página do Facebook revela bem a fama que nutre além-fronteiras. Tem clientes, especialmente europeus, que a visitam todos os anos e nunca perdem uma oportunidade para promover o fabuloso gelado de coco ou a água de coco fresquíssima. Para além do coco também vende frutas, batidos e bebidas variadas. Se vierem a Curaçao, não deixem de visitar a Asis Fruits Wagen. Se disserem que são portugueses, vão ter conversa para o dia inteiro.
No meio de toda esta vivência houve também tempo para ir à praia. Desta vez decidimos conhecer a praia que fica na entrada da lagoa onde estamos ancorados. Aproveitámos para ir com um casal austríaco, que vive num pequeno veleiro com o seu filho de meses, e passámos um dia muito agradável. Levámos uns “chi-pa-paus” para farnel e umas bolachas Maria para ir aconchegando o estômago depois do almoço. Foi um paraíso para as crianças, sendo que os adultos também gozaram uns momentos agradáveis. A praia esteve vazia na parte da manhã, pelo que aproveitámos o momento para pescar o almoço do dia seguinte. Na parte da tarde a praia começou a encher e então regressámos ao barco para descansar e preparar o jantar.
À margem dos encontros sociais e dos momentos de lazer temos resolvidos alguns problemas a bordo. Depois de consertar umas fugas nas linhas de gasóleo, detectei um problema bem maior: a bomba de injecção está avariada e deixa o gasóleo passar para o óleo – é um dos piores problemas que podem acontecer num motor a gasóleo. Aliás, quando retirámos o óleo do motor a maioria do líquido era gasóleo.
Vamos tentar retirar a bomba e ver como reparar o dano. A factura será elevada e estamos sem qualquer forma de fazer face a esta despesa inesperada. Teremos de encontrar uma solução porque sem motor não podemos continuar a viagem, especialmente no que respeita à travessia do Canal do Panamá, pois o motor é essencial. A travessia custa quase dois mil dólares; se tiver de ser feita a reboque, temos de pagar mais mil dólares, um montante que não temos capacidade de suportar sem apoios.
Temos andado desde o início da viagem a tentar manter o motor até haver disponibilidade financeira para fazer uma revisão completa, rezando para que aguentasse mais uns tempos. Infelizmente não aguentou e agora não sabemos como iremos resolver o problema. Para agravar a situação só temos o mês de Agosto para encontrar uma solução, dado que nosso visto em Curaçao termina a 7 de Setembro. Se houver interessados em nos ajudar podem contactar-nos na nossa página de Facebook ou via e-mail.
Entretanto, esperamos manter mais alguns contactos com a comunidade portuguesa de Curaçao e continuar a tentar organizar o encontro cultural para falarmos da viagem e da nossa cultura. Até agora todas as pessoas que temos contactados têm-se mostrado muito interessadas no nosso estilo de vida, querendo saber mais sobre esta viagem de comemoração dos 500 anos da chegada dos portuguesas à China. Como muitos desconhecem Macau, tem sido um prazer explicar onde fica e o que é, pois faz parte da nossa história e do nosso passado.
João Santos Gomes