Baptismo de Jesus, Revelação da Santíssima Trindade e Curiosidades Geográficas

Rio Jordão, seus mistério e significados

Recentemente circulou nas redes sociais uma notícia que dava conta do aparecimento de pequenos peixes numas “piscinas” do Mar Morto. Não é a primeira vez que somos confrontados com notícias especulativas que nos apontam para vida nas águas deste mar altamente salificado, também conhecido por Mar Salgado. Dado o elevado nível de sal nas suas águas – muito acima do que se encontra nos Oceanos – não lhe é permitido a existência de vida. Alguns dos “vigilantes” do Mar Morto esperam vida surgir nestas águas, em virtude de uma profecia de Ezequiel (Ez., 47:1-12).

Pondo de parte as especulações e indo ao encontro das Escrituras, partindo neste caso do Mar Morto, podemos construir uma reflexão com elementos que não só nos inspiram mas sustentam a nossa fé cristã. Em forma de diagrama podemos desenhar em papel ou na mente: o Mar Morto, o Rio Jordão, o Mar da Galileia e o monte Hermon que significa “Montanha Sagrada”, onde nasce o Jordão. No seu curso, este rio passa pelo Mar da Galileia e vai desaguar no Mar Morto. Percorre um vale conhecido por Vale do Jordão, que é a depressão mais profunda no mundo.

Neste plano geográfico, temos localidades importantes no contexto Bíblico como Nazaré, Belém, Galileia, Cafarnaum e Jerusalém, entre tantas outras regiões ou pontos geográficos com muito significado para os cristãos – Monte das Beatitudes, Monte das Oliveiras, Monte Tabor e Gólgota. Lembramos que Jesus nasceu em Belém, localidade cujo nome é “casa do pão”, sendo que Cristo disse de Si mesmo: «Eu sou o pão vivo, o que desceu do Céu: se alguém comer deste pão, viverá eternamente» (Jo., 6:51).

Jesus tinha a Sua residência em Nazaré, uma cidade pequena, mas iniciou o Seu ministério na Galileia, região no Norte da Palestina, onde foi criado. Daí que muitas vezes o tratassem como “o Galileu”. Foi ao caminhar ao longo do Mar da Galileia que Jesus viu os dois irmãos Simão, chamado Pedro, e André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes: «Vinde comigo e Eu farei de vós pescadores de homens» (Mt., 4:18-19).

Nos Evangelhos há um momento que nos mostra a glória e divindade de Jesus: no monte Tabor, na Sua transfiguração (Mt., 17:1-9). E há também um Salmo curioso escrito séculos antes da vinda do Messias «O céu é teu, e tua é a terra; formaste o mundo e tudo o que ele contém. Tu criaste o Norte e o Sul; o Tabor e o Hermon cantam o teu nome» (Sl., 89:12-13).

O Rio Jordão – tão mencionado nas Escrituras – desce até ao Mar da Galileia, onde Jesus começou a pregar nas suas margens. Liga depois este ao Mar Morto e foi ao longo do seu curso que João Baptista pregou o baptismo e o arrependimento dos pecados (Lc., 3:3). Nele Jesus foi baptizado! Aqui somos levados a reflectir e a sentir que nada é por acaso. Há um rio sagrado que liga um mar com vida a um mar sem vitalidade. Daqui podemos extrair o seguinte ensinamento: o Homem, caído pelo pecado original, estava morto espiritualmente. Pelo baptismo, iniciado no Jordão, renasce com Cristo para uma nova vida, com a infusão do Espírito Santo.

Os Santos Padres da Igreja diziam: “Christianus alter Christus”, isto é, “o cristão é um outro Cristo”, exactamente por ser membro do Corpo de Cristo e viver do Seu mesmo Espírito.

Jesus foi baptizado no Jordão. Os católicos e os gregos ortodoxos acreditam que o baptismo de Jesus teve lugar perto do Mar Morto. Uma vez baptizado, Jesus saiu da água e rasgaram-se os céus. O Espírito de Deus desceu como uma pomba até Ele; e o Pai fala numa voz vinda do céu: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus todo o meu agrado» (Mt., 3:16-17). É nesta ocasião, segundo a narrativa bíblica, revelada a Santíssima Trindade. Outro dado curioso é o facto do nome Jordão, em Hebraico, significar “aquele que desce”. Pois foi ali que verdadeiramente desceu o Espírito que vivifica: o Espírito Santo.

O professor e teólogo Scott Hahn considera que “Jesus não se submete ao baptismo de João como pecador necessitado de purificação. Ele humilha-se para atravessar as águas do Jordão, a fim de liderar um novo ‘êxodo’ – abrindo a terra prometida do Céu, para que todos os povos possam ouvir as palavras pronunciadas sobre Jesus hoje. Palavras outrora reservadas apenas para Israel e o seu rei: cada um de nós é um filho ou filha amado de Deus”.

As águas do Jordão, pelo baptismo, dão uma nova vida a um corpo sem vida, que simbolicamente podemos encontrar no corpo de água do Mar Morto, chamado na Bíblia de Mar Salgado. Este outro nome remete-nos também aos Evangelhos e às palavras de Jesus que nos falam do sal – uma alegoria interessante focada no que Deus espera de cada um dos Seus filhos: «Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se corromper, com que se há-de salgar? Não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo… Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu» (Mt., 5:13-14). Esta passagem do “sal da terra” encontra-se no Capítulo 5 do Evangelho de Mateus, depois da apresentação das Bem-Aventuranças, também conhecido pelo Sermão da Montanha (Mt., 5:1-12).

Outro dado interessante é as margens do Mar Morto estarem a mais de quatrocentos metros abaixo do nível médio das águas do mar, o ponto seco térreo mais profundo do nosso planeta. O Rio Jordão, onde se iniciou o baptismo – o primeiro Sacramento que todo o cristão recebe – é o único que corre em quase toda a sua extensão abaixo do nível médio das águas do mar. O baptismo simboliza a morte. É o descer às profundezas com Cristo e com Cristo reemergir. No baptismo recebe-se o Espírito Santo e tornamo-nos templo da Sua presença. (1 Co., 6:19). Filhos de Deus e herdeiros do Seu reino (Rm., 8:17).

Na sua caminhada ondulante desde o Mar da Galileia, o Jordão percorre mais de trezentos quilómetros até desaguar no Mar Morto. É no Jordão que começa o ministério de Jesus com o seu baptismo aos trinta anos, e termina na cruz aos 33. O número três aqui também nos “fala”.

Muitos séculos antes de Jesus ter pisado a terra, os homens carregavam a Arca da Aliança. Esta continha um vaso de ouro com o maná, a vara de Aarão que tinha florescido e as tábuas da aliança (Heb., 9:4). Ali também cruzaram as águas do Jordão, frente a Jericó (Js., 3:1-17), mas de forma milagrosa estas pararam e abriram-se como acontecera no Mar Vermelho (Ex., 14:21-22).

Deus se fez homem em Jesus e firmou uma nova aliança com a Humanidade. Todos somos chamados a ser discípulos do Senhor, iniciados pelo baptismo, de tão grande mistério e importância que o Evangelho de Mateus termina com estas palavras de Jesus: «Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt., 28:19-20).

Miguel Augusto

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