As últimas semanas não trouxeram nada de novo. Com o mau tempo a prevalecer em Portugal as nossas viagens gastronómicas estão suspensas.
Depois da passagem por Moscavide nada mais fizemos. Programámos participar num evento vegetariano juvenil em Cascais, mas à última hora foi cancelado. O Município de Cascais lembrou-se que não queria “food trucks” no jardim que se encontra no local.
Também pensámos em participar no Festival de Balonismo de Coruche, o maior evento de balões de ar quente em Portugal. Vá-se lá saber porquê, os seus organizadores insistem em realizá-lo no mês de Novembro. A instabilidade atmosférica é demais conhecida nesta época do ano, pelo que dificilmente se reúnem as condições ideais para este desporto – a sua realização em Novembro é sempre uma lotaria com poucas probabilidades de sucesso. Este ano apenas conseguiram fazer subir os balões durante meia dúzia de horas, nos quatro dias do evento… Ora, como não estavam asseguradas – pensamos nós – todas as condições de segurança a nível eléctrico, decidimos não marcar presença. Sabendo agora como decorreu a iniciativa foi uma decisão acertada, embora tivéssemos planeado levar a nossa filha. Claro está que foi uma desilusão para a pequena, que entretanto ficou com escarlatina pela primeira vez.
Para esta semana estava agendada a nossa primeira incursão no mercado espanhol, mais especificamente em Córdoba. No entanto, como há mais de um mês que não contactamos com a organização, cancelámos a viagem.
Dado o mau tempo que assola Portugal há mais de duas semanas, temos aproveitado para trabalhar num novo projecto que teima em não ficar pronto. A ideia inicial era estar operacional em Dezembro. Hoje, a poucos dias do último mês de 2019, pouco ou nada acreditamos que seja possível. Quanto muito em Janeiro, se as condições meteorológicas permitirem que trabalhemos mais tempo ao ar livre. Ainda estamos na fase das pinturas e falta a instalação eléctrica e o que respeita a água e esgotos. Depois vem a parte dos armários, a instalação dos equipamentos e, por último, a decoração. Efectuadas as inspecções obrigatórias e obtidas as sempre demoradas licenças, poderemos finalmente abrir ao público. Estamos a pensar organizar um evento de pequenas dimensões com o objectivo de testar todo o sistema, antes de avançarmos para operações de maior envergadura. Uma vez que vamos necessitar de contratar empregados, espera-nos mais uma dor de cabeça: encontrar pessoas que queiram trabalhar. Se há algo que aprendemos nestes anos que andamos em Portugal é que é muito complicado encontrar pessoas com vontade de trabalhar. Há mais de três meses que colocámos um anúncio nas redes sociais para recrutamento de um funcionário na nossa zona de residência. Até agora recebemos apenas um contacto, sendo que começou logo a impor condições sem saber o que pretendíamos que fizesse e o que lhe poderíamos oferecer. Não é pois difícil antever que se aproxima uma fase de muito trabalho. É que sem empregados de nada serve ter o projecto pronto a funcionar.
ESCARLATINA
Como já referi, talvez devido ao frio e à chuva, a Maria ficou doente. Depois de um episódio de febre alta detectámos umas manchas avermelhadas no corpo que lhe causavam comichão. No hospital pediátrico disseram tratar-se de escarlatina – uma infecção causada pelo estreptococo do grupo A, designado “streptococcus pyogenes”. Um dia após estar medicada com antibiótico as melhoras eram já visíveis mas até estar completamente restabelecida terá de continuar o tratamento durante dez dias. Sem febre e anulado o perigo de contágio, decidimos que seria melhor voltar à escola. Caso contrário, iria estar os dias inteiros em frente à televisão. Curiosamente, a Maria nunca ficou doente nos anos que vivemos no veleiro. Entre 2014 e 2016 não houve uma única vez que tenha ido ao médico, à excepção da toma das vacinas. Já desde Setembro de 2016 que não houve um par de meses que não tenha estado doente com gripe, amigdalite, constipação ou qualquer outra maleita. O armário de medicamentos mais parece uma farmácia, o que nos leva a questionar se o problema não será da pouca qualidade de vida das urbes modernas.
Em comparação com a vida que levávamos a bordo, a grande diferença é o tempo que passa fora de portas. Actualmente as crianças vão para a escola às nove da manhã e só saem à rua – se estiver bom tempo – durante meia-hora no período da manhã, à hora de almoço e meia-hora no período da tarde. Quando termina a escola, regressam a casa, fazem os deveres, tomam banho e descansam (pouco!) para enfrentarem o dia seguinte com o mesmo ritmo do dia anterior. Duas vezes por semana, após o horário escolar, a nossa filha ainda tem aulas de natação e patinagem. Ambas as actividades desenrolam-se em recintos fechados com atmosfera controlada.
Muito já se escreveu sobre as diferenças entre a infância na actualidade e a do nosso tempo. A verdade é que antigamente passávamos mais tempo na rua. Nos intervalos da escola, estivesse bom ou mau tempo, saímos da sala de aula, mais não fosse para ficarmos no alpendre. Depois da escola jogávamos à bola na rua com os amigos até que as nossas mães gritassem para que recolhêssemos a casa. Em Novembro não era difícil chegarmos a casa já de noite ainda antes da hora de jantar. Era então que tomávamos banho, jantávamos, fazíamos os deveres e cama. Longe de qualquer pensamento estava a hipótese de ver televisão, pois com apenas dois canais (RTP1 e RTP2) os desenhos animados eram transmitidos somente ao sábado à tarde e ao Domingo de manhã. Hoje há vários canais de televisão que transmitem desenhos animados 24 horas por dia…
Tentem convencer uma criança a largar os desenhos ou bonecos animados para ir jogar à bola ou ao elástico na rua. Ou convençam os pais de outras crianças a deixá-las sair de casa para brincarem com os vossos filhos ao ar-livre. Será que conseguem?
De quem será o problema afinal!?
João Santos Gomes